Depp e Landau: o divertido estranho mundo de Ed Wood.
Não há dúvidas de que Johny Depp é o ator favorito de Tim Burton e basta ver suas atuações nos melhores filmes do diretor para perceber isso. Prestes a estrear com o novo longa de Burton (Sombras da Noite, onde interpreta um vampiro que visita seus descendentes), o astro revelado por ele em Edward Mãos de Tesoura (1990) só repetiu a parceria com o diretor na saborosa biografia do pior cineasta de todos os tempos: Ed Wood. Cultuado até hoje pelo público trash, Wood fez história em Hollywood com seus filmes de produção sofrível, roteiros toscos e muita paixão pelo cinema. O filme não pretende ser uma história fiel ao cineasta, mas rende momentos brilhantes em que mescla a vida real com as fantasias de um artista que acreditava poder se equiparar a Orson Welles! Dirigindo, escrevendo, produzindo e até estrelando seus filmes, ele teve que aguentar as duras críticas que recebia com suas obras esquisitas. Baseado no livro de Rudolph Grey, o filme se inicia na confusa carreira teatral de Edward Davis Wood Jr., pouco antes dele começar a se dedicar somente ao cinema. O longa mostra seu envolvimento num projeto baseado num homem que muda de sexo, o qual, Wood acabou convencendo os produtores argumentando que entendia perfeitamente o personagem - e que também gostava de se vestir de mulher (para o desespero da esposa, a atriz Dolores Fuller, a melhor atuação de Sarah Jessica Parker). Mas o roteiro de Wood mexeu tanto na história verídica que o filme acabou virando Glen ou Glenda, que lançado em 1958 foi um retumbante fracasso estrelado por ele mesmo vestido de mulher em várias cenas (e que marcou um certo ar cômico em suas obras que as tornaram objeto de adoração para os fãs). O fracasso foi lançado já contando com a amizade entre Wood e o ator Bela Lugosi, famoso pela interpretação antológica de Conde Drácula. Lugosi recebe uma interpretação magnífica de Martin Landau (Oscar de coadjuvante, transformado pela maquiagem de Rick Baker que levou o de maquiagem), cheio de humor, estranheza e alguma melancolia (são hilariantes os momentos em que se empolga com os textos mais bobos de Wood "MEXA SEUS PAUZINHOS!!!!" é de rolar de rir assim como os momentos em que avacalha o famoso Frankenstein de Boris Karloff). O filme é bastante fiel ao processo de criação de seu protagonista que aproveitava efeitos, cenas, apetrechos e tudo mais de outras produções para driblar o orçamento minguado que tinha, seus filmes sempre tinham um aspecto tosco (edição descontínua, cortes gritantes e outros detalhes comprometedores para qualquer cineasta profissional), mas em momento algum deixa de retratar a paixão de seu personagem em fazer cinema. Além de ter dois dos personagem mais interessantes da história do cinema, Burton teve a bem sacada ideia de reproduzir o clima de uma época específica (coisa feita e aclamada no recente O Artista como se fosse uma grande novidade ou inovação). Nesse processo a fotografia mostra-se fundamental para ambientar a história numa atmosfera que retrata os filmes de terror da década de 1950. Além disso o filme constrói o protagonista como se fosse um personagem de Ed Wood (reparou que o roteiro não se preocupa em deixar as cenas amarradinhas) e essa viagem surreal tem momentos inusitados repletos de tipos excêntricos (Wood adorava chamar pessoas caricatas para seus trabalhos, como o ex-lutador de luta livre Tor Johnson ou a apresentadora Maila Nurmi, conhecida como Vampira que aceitou participar do maior sucesso de Wood, Plano 9 do Espaço Sideral/1956, sob a condição de não ter fala alguma). Ed Wood é o filme mais ambicioso de Burton, mas de nada adiantaria tanto esforço se não tivesse um astro tão carismático quanto Depp. Embora tenha vários tipos excêntricos no seu currículo é no cuidado das obras de Burton que Depp consegue dar mais substâncias a esses tipos que facilmente poderiam cair na caricatura mais grosseira. Na pele de Wood, Depp concebe um artista que trabalha com a alegria de um garoto brincando com os amigos e, talvez por isso, seja tão convincente. Ao final, após o encontro mágico de Wood seu ídolo Orson Welles, entendemos toda a identificação de Burton com seu biografado: fazer cinema, mesmo que os outros considerem suas obras apenas esquisitas.
Ed Wood (EUA/1994) de Tim Burton com Johny Depp, Martin Landau, Sarah Jessica Parker, Patricia Arquette, Jeffrey Jones e Lisa Marie Smith. ☻☻☻☻☻
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