Cazé, Camila e Rafael: três corpos tentando ocupar o mesmo espaço.
Aos poucos o cinema brasileiro começa a voltar a sua lente para o público jovem - que é o grupo mais difícil de ser agradado (afinal, é o que tem mais possibilidade de diversão que não seja a sala escura). Enquanto longas como Muita Calma nessa Hora (2010) e Desenrola (2011) investem menos nas histórias e mais nas piadas, outros como Apenas o Fim (2009), Os Famosos e Os Duendes da Sorte (2009) e As Melhores Coisas do Mundo (2010) preferem levar os dramas juvenis a sério, já Os 3 de Nando Olival fica no meio dessas duas vertentes - já que não é uma comédia rasgada e está muito distante de soar deprimido. Apesar de não ter alcançado sucesso arrebatador, o filme tem alguns elementos que poderiam servir de parâmetro para quem investir no gênero. Para começar o roteiro é visivelmente bem cuidado, sem firulas moderninhas, prefere ser direto e não enrolar sobre os dilemas dos personagens. Camila (Juliana Schalch), Cazé (Victor Mendes) e Rafa (Gabriel Godoy) são universitários e após se conhecerem numa festa resolvem morar juntos no apartamento de Cazé e fazem um pacto de amizade, que inclui não haver romance entre nenhum deles (com o pretexto de que um deles ficaria sobrando). Desde o início dá para perceber que há atrações mútuas no trio, mas eles preferem ignorar isso entre os compromissos da facul. Tornam-se inseparáveis. Porém, quando passa os quatro anos da graduação e esta fase da vida chega à reta final, está na hora de enfrentar os sentimentos que preferiam esconder. Ou pelo menos, eles são descobertos quando Rafa percebe que Camila e Cazé já tinham um affair há algum tempo. O filme poderia até se acomodar e se tornar mais uma comédia romântica de encontros e desencontros amorosos, mas surge então outra virtude do longa: preparar surpresas para o espectador conforme a narrativa avança. Os três são responsáveis por um trabalho na faculdade de comunicação social onde criam um reality show online onde todos os produtos utilizados podem ser comercializados. Um agência publicitária se interessa pela ideia, compra a estratégia, mas com a condição dos três serem os participantes do reality. É engraçado como a presença da câmera faz empacar os rumos das relações que se desenhavam (embora a tensão sexual só aumente) e somente quando a estratégia está prestes a ser cancelada que as coisas evoluem para um outro patamar. Embora seja essencialmente uma comédia romântica, Os 3 consegue segurar a atenção do espectador com surpresas pelo caminho que nunca soam forçadas e ainda traz algumas reflexões sobre as fronteiras da realidade e da ficção (que muitas vezes se misturam no reality criado pelo trio), além disso estabelece questões sobre privacidade e consumo. Conforme o trio consegue aumentar as vendas, sentem-se cada vez mais produtos da internet e menos sujeitos capazes de se relacionar de verdade. Estrelado por desconhecidos (o rosto mais famoso é de Sofia Reis, que foi VJ por um tempo na MTV) o filme não dá aos personagens aquele gosto de plástico que geralmente se vê nesse tipo de produção - e o visual desglamourizado serve para acentuar ainda mais que a câmera de Olival está mais preocupado com a criação de uma história do que a pasteurização do gênero. O diretor, que antes havia assinado Domésticas (2001) ao lado de Fernando Meirelles, consegue transmitir bastante naturalidade nas situações apresentadas. Os 3 só poderia ser um pouco mais longo, para dar tempo dos amigos Camila, Cazé e Rafa aprofundarem mais os sentimentos que nutrem um pelo outro - mas aí a coisa poderia virar um verdadeiro Big Brother!
Os 3 (Brasil/2011) de Nando Olival com Juliana Schalch, Victor Mendes, Gabriel Godoy, Sofia Reis e Cecília Homem de Melo. ☻☻☻
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