Mader e Duvivier: A solidão da vida de um sem o outro.
Se Woody Allen tivessem um filho jovem e carioca, provavelmente seus filmes não seriam muito diferentes de Apenas o Fim, o elogiado primogênito realizado por alunos do curso de cinema da PUC-Rio. Feito no esquema independente, ou da colegagem, como preferir, a história é simples - e o grande trunfo do longa é o cuidado com os diálogos, lapidados com referências da cultura pop. O resultado é divertido e de fácil identificação para todos os públicos. O humor atira para todos os lados, de pesadelos com ursos de pelúcia, passando por Niemeyer (a paisagem natural do Rio foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer pouco depois do descobrimento do Brasil) até Chico Buarque e Johny Depp (o mundo é dividido entre mulheres que acham Chico bonito e as que acham Johny Depp bonito) numa verdadeira metralhadora de referências que tentam camuflar a tristeza que se esconde na despedida de Antônio (o ótimo Gregório Duvivier) e sua namorada , Adriana (Érika Mader). O título já entrega o que acontece logo no início: num belo dia de aula na faculdade, ela decide comunicar ao namorado que irá embora por quatro meses e que é melhor terminarem. Ela não diz para onde vai e nem os motivos da mudança repentina, mas tem certeza que não pode continuar naquele relacionamento. Ele não entende nada e, assim como o público, acha que tudo não passa de um trote da namorada. Mas o anúncio da separação gera uma bem humorada lavagem de roupa suja com toda a leveza que um jovem casal que se ama é capaz de exalar. O diretor Matheus Souza ainda intercala as discussões do presente com momentos do passado onde a fotografia em preto e branco busca momentos de intimidade onde perguntam sobre a cor favorita de um ou qual Cavaleiro do Zodíaco o outro seria. Existem diferenças entre o casal, enquanto ela é desencanada, ele parece ser um típico nerd (ou seria cabeça?), usando camisas de listras e óculos (herdados do avô) - e os atores sabem fazer com que essas diferenças gerem uma química perfeita capaz de segurar o filme do início ao fim. Existem momentos em que o casal encontra amigos pelo caminho, o resultado gera cenas de ciúme e alguns desconfortos - e se o efeito é expressar como um sem o outro não tem tanta graça eles conseguiram. Não há grandes movimentos de câmera ou edição mirabolante, coisas que seriam utilizadas em qualquer filme voltado para o público com a faixa etária dos personagens, na maioria das vezes a câmera parece escondida, distante dos personagens e diversas vezes se rende a planos sequências (o melhor é aquele em que Antônio caminha em busca dela enquanto um bando de garotas fantasiadas de contos de fada caminham no sentido oposto ao dele). Essa simplicidade estética é alvo até de brincadeiras entre os personagens, seja na sua base cênica (a certa altura ela diz que o primeiro roteiro de le parecia um teatro filmado com duas pessoas falando e nada acontecendo), nas locações ao ar livre (ele até comenta que o clima vive mudando de uma hora para outra) ou por haver uma filmagem no campus (que pode muito bem reproduzir o que aconteceu realmente). Com sua estética radicalmente independente, Apenas o Fim prova que uma boa ideia na cabeça vale mais do que qualquer recurso que possa desviar a atenção do espectador do prato principal: os personagens. E não se trata de personagens quaisquer, trata-se de um casal cheio de alma que busca retratar toda uma geração de jovens brasileiros e suas referências pop. Nesse espaço que separa a adolescência da vida adulta entre as paredes da facul, Matheus Souza constrói uma das comédias românticas mais bem escritas que já assisti. Esta sim é para ter vontade de se apaixonar e rir um bocado ao lado de quem se ama. Dá até vontade de voltar para a faculdade!
Apenas o Fim (Brasil/2009) de Matheus Souza com Gregório Duvivier, Érika Mader, Álamo Facó, Nathalia Dill, Marcelo Adnet e Julia Gorman. ☻☻☻☻☻
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