Igor e Simone: casal apaixonado.
É muito fácil se confundir nos conceitos de gênero nas ciências sociais, especialmente no que se refere à vasta combinação que pode haver entre homens e mulheres quando resolvem formar um casal. O diretor Marcelo Laffitte deve ter pensado nisso quando criou a história de Elvis (Simone Spoladore) e Madona (Igor Cotrim). Ela se chama Elvira, mas prefere ser chamada pelo apelido que combina mais com seu tipo masculinizado, Elvis trabalha de motogirl para uma pizzaria e numa noite de trabalho acaba encontrando Madona, uma travesti que acaba de ser roubada por seu amante. Madona passou os últimos anos trabalhando como cabelereira e fazendo shows com a intenção de criar um grande espetáculo capaz de lhe dar alguma projeção na noite carioca - mas seu sonho foi roubado, literalmente. Depois desse encontro as duas personagens ainda vão se encontrar algumas vezes e a feminilidade de um começa a atrair a masculinidade da outra. Por mais estranho que pareça, Elvis e Madona nasceram uma para a outra e descobrem isso sem esquentar muito a cabeça para o que suas aparências possam sinalizar como contradição, afinal de contas, no amor isso não existe. Laffitte não faz um cinema panfletário, pelo contrário, não parece defender qualquer bandeira, apenas apresenta um casal diferente do que estamos acostumados a ver numa comédia romântica. Apesar da história moderninha, o longa tem uma concepção bem kitsch da coisa (nem adianta dar toques moderninhos na edição baseados na vida de fotógrafa freelance de Elvis). O visual do filme é bem brega, cafona mesmo (do figurino à trilha sonora), especialmente quando apresenta o mundo de Madona existem exageros e momentos deslocados na trama (como a parte policial que não faz menor falta durante boa parte da narrativa), mas a dupla Spoladore e Cotrim compensam qualquer excesso, principalmente se levarmos em conta o que acontece a partir do momento que suas personagens se deparam com uma inesperada visita da cegonha - e novos conflitos surgem no anúncio de uma família ainda vista como incomum. Enquanto cinema, Elvis & Madona bebe diretamente na fonte almodóvariana: cores berrantes, diálogos tragicômicos e um humor bastante característico dos primórdios do diretor espanhol. Os melhores momentos do filme ficam por conta das cenas em que o próprio casal questiona o rumo que os sentimentos de uma pela outra tomaram. Seus corpos parecem lembrar-lhes que apesar das roupas, Elvira ainda é mulher e Adailton ainda é homem e ela descobre-se grávida (e Madona diz que não está preparada para ser mãe). Ambas terão que fazer alguns sacrifícios para melhorar as condições da vida econômica da casa para abrigar o pimpolho que está a caminho. Laffitte sabe que o riso é capaz de desarmar até mesmo o espectador mais conservador, por isso sabe criar bons momentos como a cena em que Madona anuncia ser o pai do bebê no obstetra ou quando corta o cabelo num esforço inútil de enganar os pais da namoradas. Momentos que podem parecer simples como esses fazem mais a diferença do que os toques undergrounds que Laffitte salpicou no roteiro como se fosse orégano (só para dizer que seu longa não era um filme família). Pode não ser um filme família convencional, mas com poucos cortes renderia uma ótima sessão da tarde. Laffitte teve a ideia do filme quando divulgava seu curta Vox Poppuli em Miami e assistiu um programa sensacionalista onde um homem havia abandonado a família para se tornar travesti e, anos depois ele se apaixonou pela namorada do filho. A inspiração lhe rendeu vários prêmios em festivais, incluindo o prêmio de roteiro no Festival do Rio em 2010.
Elvis & Madona (Brasil/2011) de Marcelo Laffitte com Igor Cotrim, Simone Spoladore, Catarina Abdala, Maitê Proença e José Wilker. ☻☻☻
Não conhecia o filme, vi por acaso no Canal Brasil e fiquei apaixonada, os atores estão fantásticos, Simone dispensa apresentações e o Igor foi uma ótima surpresa os dois estão entregues aos personagens e atuaram com muita sensibilidade...já comprei o livro do Luiz Biajoni (inspirado no filme), alguém tem notícia se vai sair em DVD
ResponderExcluirAna Claudia o DVD De ELVIS & Madona finalmente chegou às locadoras. Está também à venda! Eu já tenho o meu!
ExcluirJá saiu em DVD, mas para comprar acho que só vai encontrar em sites da internet.
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