domingo, 1 de abril de 2012

DVD: Meia-Noite em Paris


Adriana e Gil: O passado é sempre melhor?

Aclamado em todas as premiações, Meia Noite em Paris é o filme de Woody Allen com maior arrecadação de bilheteria. Desde a sua exibição em Cannes o filme colheu elogios e pavimentou o caminho da França no Oscar deste ano. Indicado ao Oscar de Melhor Filme, o longa fez com que Allen levasse para a casa o quarto Oscar (roteiro original) de sua carreira (o filme ainda concorreu aos prêmios de diretor e direção de arte) e foi merecido. Imagina como Woody Allen faz filmes desde a década de 1960 e ainda, vez por outra, consegue captar as tendências da temporada. Num ano onde a nostalgia ditou o gosto da Academia, Meia Noite em Paris é uma alegoria sobre o tema. Gil (Owen Wilson, indicado ao Globo de Ouro) é um escritor em crise que passa alguns dias em Paris com a noiva chatinha Inez (Rachel McAdams). Ele está lá para sentir o clima da cidade, suas paisagens históricas e imaginar todos os artistas que já passaram por lá - especialmente na década de 1920 onde ditava tendências mundiais na música e na literatura. As diferenças entre Gil e Inez só crescem quando eles encontram o pedante Paul (Michael Sheen), que se gaba de conhecer as histórias de tudo que aconteceu na França. Enquanto Inez o faz sentir-cada vez mais deslocado ele encontra refúgio na própria cidade, especialmente à meia-noite, é nesse momento que consegue viajar no tempo e encontrar figuras célebres. Depois do estranhamento inicial ele recebe conselhos de Ernest Hemingway (um impressionante Corey Stoll), tem seu livro avaliado por Gertrude Stein (Kathy Bates), se torna amigo do casal F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston) e Zelda Fitzgerald (a ótima Alison Pill), além de discutir sobre rinocerontes com Salvador Dalí (Adrien Brody numa curta e hilária participação). Esse saudosismo de Gil parece ainda maior quando conhece Adriana, musa de Picasso e sente-se fortemente atraído por ela. Assim como ele, Adriana (Marion Cotillard) idolatra um outro tempo, a Belle Époque do século XXI - período que considera a idade de ouro da capital francesa. Apesar de tantas brincadeiras com o passado, o filme de Allen é essencialmente sobre o presente - além da necessidade de todo artista estar em sintonia com a sua época para que possa refletir sobre ela em sua própria obra. Allen constrói um filme belamente iluminado, com caprichada reconstituição de época e uma leveza incomum se comparado aos seus filmes mais recentes. É evidente que o filme é o reencontro do próprio diretor com seus momentos mais surreais como A Rosa Púrpura do Cairo (1985) e Zelig (1983), mas este reencontro aparece numa ideia nova e que cai fácil no gosto dos mais entendidos em artes.  No entanto, apesar de toda a coesão do texto que exibe um personagem que encontra no passado as respostas para seu presente, o filme parece ancorado mais em uma (ótima) ideia do que numa história. Fico com a sensação de que Gil poderia ser mais aproveitado dentro da trama, sendo tão fã dos personagens ilustres quanto sujeito concreto da narrativa, mas isso pode ser só inveja já que não bastasse o cara estar na França, ele ainda tem como guia turístico a primeira dama francesa Carla Bruni! Apenas a cereja do de um filme, que como fantasia,  funciona muito bem. 

Meia Noite em Paris (Midnight in Paris/EUA-Espanha/2011) de Woody Allen com Owen Wilson, Marion Cotillard, Corey Stoll, Michael Sheen, Kathy Bates, Carla Bruni, Tom Hiddleston e Alison Pill. 

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