Auteuil e Paradis: saborosa comédia romântica.
Pouca gente lembra mas aquela famosa música da Senhora Luciano Huck, "Vou de Táxi" é uma versão de uma música francesa "Joe le Taxi" de Vanessa Paradis (antes que me perguntem como minhas mente lembra desse tipo de coisa eu explico, a minha irmã mais velha tinha um LP com essa música que tocava insanamente na vitrola da casa de meus pais. Agora, não me peça para explicar o que era um LP ou uma vitrola). Acontece que o tempo passou e Paradis pode não ter emplacado outro hit mundial como aquele, mas conseguiu seguir na carreira de cantora e ainda tornar-se uma atriz de respeito na França. Até recentemente casada com Johny Depp, para entender o motivo do verdadeiro culto que algumas pessoas nutrem por ela, basta assistir a esta comédia romântica do diretor Patrice Leconte. Pode se considerar genial a ideia de uma história de amor entre uma garota deprimida convidada para ser o alvo de um atirador de facas ("Não, muito obrigada! Prefiro me virar sozinha" é sua primeira resposta para ele). Temperando a quase dois milhões de bilheteria - o que é uma raridade para um filme em língua estrangeira e em preto e branco). O filme começa com Adèle (Paradis) comentando as suas tristezas, sua má sorte para escolher namorados, a falta de amigos, o azar que teve durante toda a vida. Nesse monólogo sincero (que depois mostra ser mais uma entrevista) a personagem já desperta o nosso interesse e nos faz torcer para que não se atire de uma ponte. Sorte que naquela noite um homem cruza o seu caminho, Gabor (Daniel Auteuil, em sua atuação mais galanteadora) e a convida para ser alvo em seu espetáculo de atirador de facas. Adéle fica assutada no início, mas acaba aceitando a empreitada. O roteiro constrói delicadamente a relação do casal nos bastidores dos shows angustiantes (onde Adèle se torna um alvo coberta por lençol branco, num trem em movimento ou numa roda da morte). Desde o início Gabor deixa claro que não é sua habilidade que faz a diferença, mas a sorte de seu alvo que é primordial para o sucesso dos números realizados. Juntos eles descobrem que tem uma sorte danada, sendo capazes de dar prejuízo a cassinos e encontrar objetos valiosos pelo caminho. Diante da química que brota dos personagens/atores as coisas poderiam se resolver de forma mais fácil entre eles se Gabor não tivesse como mandamento nunca se relacionar com seus alvos (restando à Adèle continuar sua peregrinação em busca do homem de sua vida - o candidato mais curioso é um contorcionista vestido de leopardo). A sorte é apenas o sinal de que Adèle e Gabor são verdadeiras almas gêmeas (um sem o outro é como uma cédula pela metade, sem valor algum), mas que demoram (ou evitam?) a admitir isso. Leconte conta sua história com um visual invejável (mesmo sendo em preto e branco, que confere ao filme um ar clássico e glamouroso) e momentos incomuns para quem está acostumado com as comédias românticas tradicionais. A cena inicial com o monólogo de Adèle é longa (oito minutos filmados de uma só vez) e pode afugentar os mais ansiosos, mas vale a pena resistir para ver as cenas de show que parecem mais relações carnais entre os personagens (sem que eles encostem um dedo um no outro), sem falar nos diálogos à distância travados antes do final e o bom humor que perpassa toda a narrativa. Tanto esmero na produção lhe valeram indicações ao Globo de Ouro e o BAFTA de filme estrangeiro, além de oito indicações ao prêmio César, onde ganhou a categoria de ator com Daniel Auteuil.
A Mulher e o Atirador de Facas (La fille sur le pont/França-1999) de Patrice Leconte com Daniel Auteuil, Vanessa Paradis, Demetre Georgalas e Bertie Cortez. ☻☻☻☻
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