Anaya e Banderas: suspense movido à tensão sexual e segredos.
Quando Lars von Trier anunciou que lançaria um filme de terror em Cannes pouca gente imaginava que Anticristo (2009) fosse um terror convencional. O mesmo aconteceu com o cineasta espanhol Pedro Almodóvar quando anunciou que seu novo filme tinha elementos de terror - por coincidência o filme deu o seu primeiro ar da graça no Festival de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro no ano passado. O filme dividiu opiniões, o consideraram frio e sem a energia dos outros filmes de Almodóvar. Não é bem assim. O que os críticos sinalizaram como frieza só ressalta a busca de Almodóvar por uma narrativa elegante, além disso funciona como excelente gaiola para os sentimentos que seus personagens preferem conter até o momento em que não conseguem mais abrigar suas obscuridades. Já a energia do cinema almodóvariano está toda ali, só que desta vez está mais ajustado à atmosfera de suspense do que as outras aventuras do diretor pelo gênero. Desde que lançou Má Educação (2004) o diretor persegue uma atmosfera de Hitchcock em seus filmes, ele tentou novamente em Abraços Partidos (2009), mas a verdade é que nenhum deles funcionou muito bem (conseguem ser mais confusos do que instigantes). O roteiro de A Pele que Habito é baseado no livro Mygale (1995) de Thierry Jonquet (que relançou a obra em 2005 sob o título de Tarantula) e Almodóvar consegue o seu resultado mais harmônico no gênero, beirando a perfeição. Depois de mais de 22 anos sem filmar com Antonio Banderas (desde Ata-me de 1989), o diretor lhe confiou o papel do cirurgião plástico Robert Ledgard, um homem com sede de vingança após o acidente que queimou sua esposa e provocou o suicídio de sua filha. Robert vive numa mansão com a companhia de Marilia (a excepcional Marisa Paredes) e da misteriosa Vera (Elena Anaya). Sabemos que Robert faz experiências na busca de uma pele sintética mais resistente desde que sua esposa faleceu - e o corpo sempre revestido por bodys estilosos (cortesia de Jean Paul Gaultier) de Vera sugere que ela seja a sua cobaia. Os cuidados excessivos com ela, assim como as câmeras que registram seu dia a dia, deixam claro que Vera não sente-se muito confortável com o tratamento recebido. Também sabemos desde o início que existem muitos mistérios em torno dos três personagens e a visita inesperada do filho de Marilia, Zeca (Roberto Álamo), ajudará a conhecer alguns deles. O filme desenha seus personagens aos poucos e tudo começa a ficar mais assustador conforme ganham mais sentido, a coisa piora quando cruza o caminho de Robert o jovem Vicente (o bom Jan Cornet) que será alvo das maiores atrocidades do renomado cirurgião. Existe uma tensão sexual absurda entre os personagens e ela funciona melhor quando sugerida na atmosfera construída cautelosamente pelo diretor. Talvez por abordar um bocado de temas espinhosos (solidão, loucura e ética científica são apenas os mais leves) o filme causou grande estranhamento nas plateias mundo afora, mas se lembrarmos que se trata de uma obra que flerta com o horror não será difícil perceber os méritos desta obra incompreendida do cineasta. Mesmo ancorado em atuações fortes do elenco (até Banderas está bem, o que só comprova o talento de Almodóvar em conduzir seus atores) o filme ficou de fora do Oscar (nem a Espanha achou uma boa ideia indicá-lo a concorrer uma vaga perante a conservadora Academia), mas o filme recebeu o BAFTA de filme estrangeiro, uma indicação ao Globo de Ouro na mesma categoria.
A Pele que Habito (La piel que habito/Espanha-2011) de Pedro Almodóvar com Antonio Banderas, Elena Anaya, Jan Cornet, Marisa Paredes e Roberto Álamo. ☻☻☻ ☻
Assisti em Blu-ray. Qualidade de imagem ÒTIMA!!! E tem gente que ainda assiste DVD!!!
ResponderExcluirPois é, talvez seja porque a maioria dos títulos disponíveis nas locadoras seja em DVD... rs
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