sábado, 31 de maio de 2014

Pódio: Matt Damon

O Bronze: atrapalhante do FBI. 
3º O Desinformante! (2009)
Damon já havia trabalhado com Steven Soderbergh na série inaugurada com 11 Homens e Um Segredo (2001), mas é nessa comédia baseada em fatos reais (inacreditáveis) que ele tem o momento mais divertido dessa parceria. Na pele do mentiroso compulsivo Mark Whitacre, um executivo em ascenção até denunciar sua empresa por formação de Cartel, ele ajuda o FBI a juntar provas, mas como informante, Mark mostra-se um desastre. Apesar do filme perder o foco, Damon mantém o tom absurdo da narrativa hilariante com quilos a mais e certeiro tom de farsa. Era tudo que o ator precisava para não ser enquadrado como o novo grande astro dos filmes de ação com da série Identidade Bourne (2002).

A prata: amante de Liberace. 
2º Behind the Candelabra: Minha Vida com Liberace (2013)
Damon e Soderbergh se juntaram mais uma vez nesse telefilme da HBO onde o ator incorpora o garotão Scott Thorson que tornou-se o amante mais querido de Liberace (Michael Douglas) até mergulhar nas drogas e crises de ciúme. Baseado na autobiografia de Thorson, o filme conta o relacionamento da dupla com direito a situações surreais, como o fato de Scott ser apresentado como filho do amante e ainda ter feito cirurgias plásticas para ficar parecido com o purpurinado pianista. O mais incrível é que naquele tempo dizer o óbvio (que formavam um casal gay) poderia supreender os fãs. Damon dosa, com maestria, o que há de cômico e autodestrutivo nessa união esquisita.

O Ouro: muy amigo... 
1º O Talentoso Ripley (1999)
Embora Gênio Indomável (1997) e O Resgate do Soldado Ryan (1998) exibisse que Hollywood queria direcionar a carreira do rapaz para o estereótipo de bom moço bonitinho, Matt Damon gosta mesmo é de papéis estranhos. Prova disso foi a gana com que abraçou o polêmico Tom Ripley nessa versão de Anthony Minghella para o livro de Patrícia Highsmith. Apesar de utilizar outro verniz na relação de Ripley com Dickie Greenleaf (Jude Law, também excelente), Damon consegue dar conta de um personagem complexo que é capaz de tudo para mudar de vida (mentir, matar, roubar, fingir...), mas que esquece de que quanto mais se apropria da vida de outra pessoa, mais se distância de seus desejos mais íntimos. As polêmicas custaram ao ator sua indicação ao Oscar, mas o Globo de Ouro percebeu que sua atuação é memorável. 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

DVD: Elysium

Wagner e Matt: Mudando apenas de endereço. 

Distrito 9 deve ser uma das ficções científicas mais bacanas de todos os tempos com seu estilo documental e trama cheia de referências sociais. Lançado em 2009, produzido por Peter Jackson e dirigido por Neill Blomkamp, o filme concorreu a quatro merecidos Oscars (filme, edição, roteiro e efeitos especiais - merecia ter concorrido a outros), mas não levou nenhum. A legião de fãs cabia aguardar que se concretizassem as especulações acerca de uma possível sequência (Distrito 10?). Na falta disso, o novo filme de Blomkamp foi aguardado com grande expectativa. Elysium tem uma produção mais caprichada, mas mantém o discurso social do cineasta, embora, não tenha uma das características mais fortes de sua obra de estreia: o roteiro enxuto. O texto é bom, mas em alguns momentos padece de excessos que fazem os personagens parecerem presos a estereótipos tão fortes que, mesmo as metáforas perseguidas pelo diretor, se tornam óbvias demais. No ano de 2154 a Terra se tornou um planeta devastado destinado somente aos menos favorecidos - que tentam sobreviver com empregos marcados pela exploração e as péssimas condições de execução. É numa prévia desse universo que conhecemos o pequeno Max, que desde pequeno queria mudar-se para Elysium, uma colônia espacial habitada por milionários que podem bancar um estilo de vida a anos luz da realidade terrena (ainda que com o dinheiro arrecadado às custas do trabalho sobre as reservas naturais escassas do planeta deixado para trás). Max cresce (e vira Matt Damon) distante de Elysium, mas por conta de um acidente no trabalho seus dias estão contados. Enquanto seu organismo entra em colapso com a radiação a que foi submetido, ele conta com a ajuda de uma espécie de líder da resistência, chamado Spider (Wagner Moura, inventor do hilário "baianinglish") que organiza tentativas de chegar a Elysium com naves espaciais clandestinas que são destruídas pela vilanesca Delacourt (Jodie Foster) - a responsável pelo padrão de vida e segurança da colônia. Max consegue mais algum tempo de vida com a ajuda de um exoesqueleto e irá colaborar com uma invasão e possível revolução no sistema da Colonia futurista. Além de Spider ele conta com a ajuda de uma amiga de infância (Alice Braga) que tem uma filha doente  e a oposição do estranho Kruger (Sharlto Copley, o protagonista de Distrito 9), matador responsável pelo serviço sujo que Delacourt precisa fazer para deixar a Terra distante daquele universo idílico. Os efeitos especiais são caprichados, os atores também são bons apesar da mão surpreendentemente pesada do seu diretor. Wagner Moura aproveita a chance de estrear em Hollywood com eficiência (o ator ficou conhecido por lá com Tropa de Elite 2 - que fez muito sucesso por lá, enquanto o primeiro mal foi visto pelo Tio Sam) mas sabemos que ele pode dar conta de um personagem mais complexo do que a tagarelice de Spider. Alice Braga faz o mesmo papel que lhe cabe sempre no cinema americano: a latina boazinha que ajuda o mocinho.  Apesar das boas ideias, Blomkamp corre o risco de tornar-se repetitivo se não souber dosar sutilezas em seu discurso autoral. Com as fronteiras da fantasia esgarçadas por sua abordagem, Elysium não fez o sucesso esperado, mas ainda mostra-se gratificante por ser algo que não pretende ser um espetáculo de violência embalado por efeitos especiais deslumbrantes. Aqui, mais uma vez, as diferenças sociais aparecem mudando apenas de endereço. 

Elysium (EUA-2013) de Neill Blomkamp com Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Sharlto Copley e Alice Braga. ☻☻☻

quinta-feira, 29 de maio de 2014

N@ Tela: X-Men Dias de Um Futuro Esquecido

Xavier & Xavier: O passado não é mais como era antigamente. 

Faz onze anos que  X-Men 2 (2003) superou a bilheteria do primeiro filme (2000) dos mutantes e o diretor Brian Singer não tinha pudores em dizer que seu passo seguinte seria filmar uma das sagas mais cultuadas dos heróis da Marvel: Dias de Um Futuro Esquecido. A trama ficou conhecida pela visão apocalíptica a que seus personagens eram submetidos num universo onde a perseguição aos mutantes chegava ao limite, sacrificando os heróis conhecidos do público. Singer estava animado para mergulhar nesse universo com o estilo que o consagrou à frente da série, mas a cobiça falou mais alto. O diretor organizou sua agenda para filmar Superman - O Retorno (2006) e engatar o terceiro longa mutante, mas o estúdio não gostou da decisão do diretor e manteve o cronograma de lançamento da terceira aventura de Xavier & Cia. O Superman de Singer foi um fiasco e sobrou para Brett Ratner dirigir o terceiro longa da franquia. Saiu a trama ambiciosa sobre viagens no tempo e entrou a história da cura mutante mesclado à Fênix Negra. Apesar do sucesso na bilheteria, o filme não conseguia ter metade das sacadas que Singer imprimiu aos dois primeiros longas - e os fãs perceberam que não era qualquer diretor que daria conta de explorar a complexidade dos cultuados personagens. Diante do roteiro do terceiro filme, algo parecia desengonçado para continuar a saga mutante e, posteriormente, até os filmes solo de Wolverine. O jeito era voltar às raízes dos X-Men no mais que eficiente X-Men: Primeira Classe (2011), que dirigido por Mathew Vaughn revisitou fatos históricos sob a influência dos mutantes (o que já aparecia no primeiro X-Men na emblemática cena de Magneto no campo de concentração - aquela que deve ser a cena mais emblemática da série). Depois de três filmes que não empolgaram (Superman que foi ignorado, o bom Operação Valkíria/2008 e o bobo Jack - O Caçador de Gigantes/2008), fica ainda mais notável que Singer nasceu para os mutantes na telona. Seu retorno aos personagens foi tão celebrada que ele conseguiu fazer tudo o que planejava, mas que até então, ainda havia receio dos estúdios em investir. Além disso, o filme serviu para mesclar as duas gerações de personagens (e atores) com maestria impressionante (sem falar que passa a limpo as barreiras deixadas por O Confronto Final à série). Sendo assim, os fãs não tem do que reclamar do filme e da quantidade de mutantes que aparecem na telona. 

Mercúrio: novo querido da plateia. 

A trama é bem fiel aos quadrinhos, já que Lince Negra (Ellen Page) é a responsável por manter alguns poucos mutantes vivos ao utilizar seu poder para fazer a consciência de Bishop (Omar Sy) voltar minutos antes no tempo para avisar aos sobreviventes que os robôs-gigantes-caçadores-de-mutantes chamados Sentinelas se aproximam. Mudar a história em questão de minutos é o que basta para manter vivo o pequeno grupo que restou dos X-Men (que inclui ainda Blink, Apache, Colossus, Homem de Gelo e o brasileiro Mancha Solar vivido pelo mexicano Adam Canto). Diante disso, o professor Xavier sugere que Wolverine (Hugh Jackman) volte no tempo para impedir um crime que motivará a dizimação não apenas dos mutantes, mas da humanidade em geral, já que os não-mutantes que podem gerar descendentes portadores do gene X alterado são igualmente perseguidos no futuro. Obviamente que o roteiro faz graça do envio de Wolverine (e seu poder persuasivo) para o passado, precisamente no ano de 1973 - onde deve convencer o jovem Xavier (James McAvoy) a continuar o seu legado, por mais que esteja decepcionado com a guerra do Vietnã, o assassinato de JFK por Magneto (Michael Fassbender) e o o fato de Raven tornar-se uma criminosa conhecida como Mística (Jennifer Lawrence). O resultado é bem mais sombrio do que Primeira Classe, já que muitos personagens que nos foram apresentados foram vítimas de torturas e experiências (incluindo Banshee e Angel), existe uma distância de dez anos entre as tramas - e descobrimos aos poucos o que houve a partir dali. Nunca antes a visão de Magneto pareceu tão certeira e, ao mesmo tempo, Xavier pareceu tão fraco em seu ideais. Esse tom borrado entre a amizade de ambos sempre trouxe aos filmes X-Men um verniz único, já que Magneto não é um vilão qualquer, ele tem uma causa muito semelhante a dos heróis, mas diferente em suas estratégias. Não bastasse toda a complexidade a que os heróis são submetidos, o diretor ainda coloca Magneto contra aquela que conhecemos como sua maior aliada, Mística. É verdade que o filme investe em efeitos especiais impressionantes, cenas de ação mirabolantes, mas nunca deixa seus protagonistas sem a profundidade de que necessitam. Assim, mesmo em participações secundárias, personagens como Fera (Nicholas Hoult) e Mercúrio (Evan Peters, num dos momentos mais descolados do filme) tem sua chance de brilhar. Poucos diretores dariam conta de tantos talentos num mesmo filme com tamanho equilíbrio. Destinado a se tornar um dos grandes sucessos do ano, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido marca o retorno triunfal de Singer ao universo da Marvel (e ele já anunciou X-Men: Apocalipse para 2016), mas talvez o motivo das bilheterias astronômicas não seja a forma como relê a história sob a ótica dos personagens, ou por se tratar de um filme pipoca nascido para faturar. O que faz os X-Men tão interessantes é a forma como vivem seus ideais, no conflito interno que nem sempre demarca claramente o que é o bem e o mal, sendo sob as lentes de Singer  que os personagens aparecem plenos em seus dilemas. 

Os jovens Magneto e Mística: aliados inimigos. 

X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men: Days Of Future Past/EUA-2014) de Brian Singer com Michael Fassbender, James McAvoy, Hugh Jackman, Jennifer Lawrence, Peter Dinklage, Patrick Stewart, Ian McKellen, Nicholas Hoult, Evan Peters, Halle Berry, Shaun Ashmore e Omar Sy. ☻☻☻☻

domingo, 25 de maio de 2014

10+: Esquecidos de Julianne Moore

Faz tempo que sou fã incondicional de Julianne Moore (precisamente desde que a vi em A mão Que Balança o Berço/1996, onde ela interpreta Marlene, amiga da família que percebe que há algo de estranho com a babá contratada por eles). De lá para cá, muita coisa mudou e Julianne pode ser considerada uma diva diferente em Hollywood. Seus cabelos ruivos, sua pele muito clara e cheia de sardas (ela até escreveu uma série de livros infantis sobre isso: Morango Sardento) e o gosto para fazer todo tipo de filme com versatilidade inabalável. É verdade que seu talento nem sempre é capaz de salvar roteiros ruins, mas (na grande maioria das vezes) a atriz desaparece em seus personagens. Por suas atuações ela já recebeu prêmios nos maiores festivais de cinema: Veneza (com Longe do Paraíso/2002), Berlim (com As Horas/2002) e, recentemente, Cannes (Maps to the Stars/2014). Além disso tem dois Globos de Ouro (por Short Cuts/1994 e Game Change/2012, pelo qual ganhou ainda um Emmy) num total de 57 prêmios e 69 indicações!!! Falta agora só o Oscar aguardado pelos seus fãs. A estrela foi indicada quatro vezes ao prêmio: Boogie Nights/1997, Fim de Caso/1999, As Horas/2002 e Longe do Paraíso/2002). Parece papo de fã, mas em trinta anos de carreira (!!!) a atriz merecia ter sido lembrada em, pelo menos, mais umas dez ocasiões:

10 Totalmente Apaixonados (2005) Pouca gente lembra que Julianne é casada com o cineasta Bart Freundlich (oficialmente, desde 2003). Eles se conheceram em 1997 quando ele realizou O Mito das Digitais. O casal repete a parceria, já casados, neste simpático filme sobre dois casais amigos que repensam sua relação em meio a situações bem corriqueiras de qualquer relação. Brincando com clichês, o diretor consegue criar uma comédia urbana acima da média e dá à patroa o papel de uma diva dos palcos que começa a sentir o peso da idade enquanto divide o tempo entre a carreira e a família.  Juli e Bart tem dois filhos...

09 Pelos Olhos de Maisie (2013) Ando apaixonado por esse filme independente pouco conhecido - que é na verdade uma adaptação do romance que Henry James publicou no fim do século XIX. O filme acompanha Maisie, uma adorável menina de sete anos que alterna seu tempo entre o pai e a mãe, ou melhor, entre o padrasto e a madrasta - já que são eles que cuidam da garota durante todo o filme. Nesse território de negligência emocional, Julianne aparece pouco, mas vibrante como a mãe rockstar que, na intimidade, é uma megera. A cena em que Maisie  a faz se deparar com a verdade é arrepiante graças às reações de Moore à atuação da menina. 

08 Amor a Toda Prova (2011) Poucas atrizes dariam conta de uma esposa que trai o marido e se depara com a crise no casamento de forma tão carismática quanto Julianne Moore, por isso mesmo, sua atuação altamente crível na pele de Emily Reaver aparece por aqui. Dando conta das cenas cômicas dentro do tom dramático da personagem, a atriz conta a com a ajuda de colegas de elenco mais que eficientes (sobretudo Steve Carrell que faz o seu esposo apaixonado e ainda cheio de dúvidas). O mais bacana é que entre todos os tropeços, a dupla sempre deixa claro que o amor da juventude permanece ali o tempo todo. 

07 Tio Vanya em Nova York (1994) O primeiro papel em que a crítica percebeu que Moore estava destinada a ser uma grande atriz veio pelas mãos de Louis Malle nessa filmagem dos ensaios da versão de David Mamet para a famosa peça de Anton Chekov. Na pele da atriz que dá vida à Yelena, Julianne ganhou vários elogios e o prêmio da Associação de Críticos de Boston. Intensa e humana, a Yelena de Moore é uma aula de atuação em qualquer mídia e provou que a atriz merecia destaque em seus futuros trabalhos. Além disso, o filme serve para quem acha que parte a linguagem de Lars Von Trier em Dogville (2003) era uma novidade. 

06 A Salvo (1995) o diretor Todd Haynes tem em Julianne sua maior musa. Antes ele havia realizado o intoxicante Veneno (1991) e desde o seu segundo filme, firmou parceria com a estrela (que participou dos outros dois). Em A Salvo, a atriz vive uma mulher que enfrenta vários problemas de saúde até descobrir que é alérgica ao século XX. Muito antes de todo mundo discutir o mal-estar da contemporaneidade, Haynes já fazia sua protagonista encarnar isso com maestria. Pela atuação, Julianne foi indicada a vários prêmios (incluindo o Independent Spirit) e entrou de vez no radar dos diretores mais autorais de Hollywood. 

05 O Grande Lebowski (1998) Além de celebrado talento dramático, Julianne Moore provou que pode fazer uma comédia desmiolada sem muito esforço. Nesse filme dos irmãos Coen ela vive a excêntrica artista plástica, filha de um milionário que se envolve com um homônimo do próprio pai (Freud explica!). Num elenco repleto de talentos masculinos (Jeff Bridges, Phillip Seymour Hoffman, John Goodman, Steve Buscemi, John Turturro), Juli é a atriz que dá vida ao personagem feminino mais importante da história (isso sem falar na fetichista fantasia com pinos de boliche ao lado de Jeff Bridges). Pela atuação foi lembrada no Satellite Awards de atriz coadjuvante. 

04 Ensaio sobre a Cegueira (2008) A obra de José Saramago é uma de minhas favoritas e a adaptação do brasileiro Fernando Meirelles era um enorme desafio. Moore é a Esposa do Médico que se torna a única pessoa a enxergar num mundo revelado por uma misteriosa cegueira. A treva branca mostra-se menos ameaçadora do que o ser humano que retorna aos seus traços mais primitivos. No caos que se instaura, ela serve de guia para que retornemos à nossa humanização. A recepção morna da crítica desde o Festival de Cannes e a bilheteria modesta comprometeram o sucesso do filme nas premiações, mas Julianne está perfeita no papel central (e foi indicada ao prêmio de melhor atriz do ano pelos críticos de Vancouver).

03 Minhas Mães e Meu Pai (2010) Quando Cannes viu a atuação de Anette Benning e Julianne Moore como uma casal de lésbicas que entra em conflito ao encontrar o pai dos filhos, a crítica anunciou que as duas tinham a grande chance de ganharem o primeiro Oscar de suas respectivas carreiras. O tempo passou, o filme foi lançado com sucesso e elogios para ambas - que foram indicadas a vários prêmios. Mas depois de serem lembradas no Globo de Ouro, o Oscar preferiu indicar somente Anette. Julianne ficou de fora na pele de Jules, a mãe mais alternativa da dupla e que cai em tentação pelo sexo oposto (há quem diga que a Academia esqueceu de Julianne pelo seu destemor de fazer cenas de sexo à beira dos 50 anos)

02 Direito de Amar (2009) Detesto o nome em português de Single Man que força a barra para os desavisados pensarem que era uma novela do amor entre Colin Firth e Julianne Moore. Sorte que a estreia de Tom Ford é tão boa que você até esquece do nome que recebeu por aqui. Julianne interpreta Charlie, a melhor amiga (apaixonada) por George (Firth), professor homossexual que tenta se curar da morte do parceiro na silenciadora década de 1960. A atriz tem menos de dez minutos em cena, mas o tempo é suficiente para lembrar porque somos apaixonados por ela. O porte de diva que rejeita ser a sombra do que era no passado lhe valeu indicações a prêmios de coadjuvante, incluindo no Globo de Ouro.

01 Magnólia (1999) Uma golpista redimida mergulhada na culpa de ver o milionário (em que deu o golpe do baú) definhar diante dos seus olhos (sem que possa fazer nada). Essa angústia de perceber a impotência diante da inevitabilidade da morte é o que me faz escolher a atuação da atriz na pele de Linda Partridge para o topo dessa lista. Na jornada, de um dia, em que acompanhamos a personagem do caleidoscópico filme de Paul Thomas Anderson, Moore consegue exibir a conturbada alma da personagem perante sua culpa e medo da solidão. Um belo trabalho que ficou de fora do Osca no ano em que ela concorreu ao prêmio de melhor atriz por Fim de Caso. Em Magnólia, a atriz foi indicada ao Prêmio do Sindicato dos Atores na categoria de atriz coadjuvante e melhor elenco. 

sábado, 24 de maio de 2014

CATÁLOGO: O Grande Lebowski

Moore e Bridges: o roteiro mais delirante dos manos Coen. 

Poucos filmes conseguem ser tão gratificantemente delirantes quanto O Grande Lebowski dos irmãos Coen. Os manos adoram contar histórias sobre sujeitos que caem como pato em enrascadas, seja em dramas sérios ou comédias insanas. Quando lançaram Lebowski, os manos ainda sentiam o gosto dos prêmios conquistados com Fargo (1996) - o que inclui o Oscar de roteiro original e o prêmio de atriz para Frances McDormand. O que essa comédia tem de mais original é o fato de contar a história de um personagem que não tem nada de especial e, por isso mesmo, torna-se inesquecível (com o auxílio de minha atuação favorita de Jeff Bridges). Bridges interpreta com maestria Jeff Lebowski, um sujeito pós-hippie, que nunca fica claro de onde vem o dinheiro que o sustenta, mas é bastante explícito que o seu passatempo favorito é jogar golfe com o veterano pancada Walter (John Goodman, antológico) e o passivo Donny (Steve Buscemi), seus parceiros em desafios com tipos estranhos, como um cigano pervertido chamado Jesus (John Turturro). A vida de Jeff poderia seguir tranquilamente em sua rotina sossegada. Conhecido entre os amigos como O Cara, ele acaba confundido com um milionário homônimo (vivido por David Huddleston) e termina tendo alguns prejuízos (o maior deles é um tapete que "combinava com a sala"). Afim de reaver os prejuízos, Cara procura o outro Lebowski, que é casado com uma mulher mais jovem, Bunny (Tara Reid) e de passado bastante comprometedor. Mas os xarás não se entendem muito bem, mesmo quando Bunny é sequestrada e O Cara é levado a colaborar na negociação com os bandidos. Desse ponto em diante, os Coen capricham nas situações mais improváveis, nos diálogos mais insanos e no aparecimento de personagens que parecem ter saído de alguma máquina de fabricar doidos. Dos criminosos vindos de uma banda de electropop dos anos 1980 (formado por Peter Stormare, Mark Pellegrino e - o Chilli Pepper -  Flea), passando pelo mundo da pornografia e pela artista plástica filha do milionário (vivida com ânimo impagável por Julianne Moore), O Grande Lebowski leva a criatividade dos Coen ao limite, numa trama que caminha sem que o protagonista tenha o menor domínio sobre ela. Além disso, o filme tem um delicioso jogo de espelhos com a densidade narrativa de Fargo. Afinal, o filme também gira em torno de um sequestro mal explicado, tem bandidos mais desastrados do que deviam ser (e parece piada que um personagem tenha um infarto ao ver ser algoz de Fargo), sem falar no "momento reflexão" sobre a comédia humana em suas tragédias cotidianas. O Grande Lebowski foi feito para divertir com seus estereótipos do avesso e o auge do delírio visual dos manos numa pista de boliche (e Julianne de armadura romana pronta para O Cara ensiná-la a arremessar uma bola de boliche). Os pinos jamais foram os mesmos depois desse encontro.

O Grande Lebowski (The Big Lebowski/EUA-1998) de Joel e Ethan Coen, com Jeff Bridges, John Goodman, Julianne Moore, Steve Buscemi, Phillip Seymour Hoffman, Peter Stormare e Flea. ☻☻☻☻

PREMIADOS CANNES 2014

Julianne, a Melhor Atriz: Será que o Oscar vem?

Este foi sem dúvida um Festival de Cannes bastante diferente, não apenas pelo corpo de jurados feminino como nunca antes aconteceu nas suas mais de seis décadas de história, mas pelos ganhadores que, há muito tempo, não tinha um número tão grande de hollywoodianos premiados. Embora a concorrida Palma de Ouro esteja nas mãos do turco Winter Sleep de Nuri Bilge Celayn (do recém lançado por aqui Era Uma Vez em Anatólia/2012 e do celebrado 3 Macacos/2008), os outros ganhadores também tiveram certo brilho. A trama sobre um ex-humorista que administra um hotel enquanto cura a ausência da jovem esposa segue uma linguagem mais intimista e clássica do que o ganhador do ano anterior (o provocante Azul é a Cor Mais Quente/2013). Além disso,  Bennett Miller, premiado como o melhor diretor já parece cavar sua vaga no Oscar (vale lembrar que seus filmes anteriores, o ótimo Capote/2005 e o superestimado Moneyball/2011 foram indicados anteriormente ao prêmio da Academia). Timothy Spall, muso de Mike Leigh foi finalmente celebrado como Melhor Ator, acho que Cannes lhe devia isso desde Segredos e Mentiras, ganhador da Palma de Ouro em 1996. Eu não poderia deixar de falar de Julianne Moore, que interpreta uma atriz veterana desesperada pelo "papel de sua vida" em Map To The Stars de David Cronenberg e foi considerada a Melhor Atriz do Festival. Será que o Oscar (que indicou a atriz quatro vezes, a ignorou uma dezena de outras e nunca a premiou) irá entender o recado? Sorte também teve nosso único representante em Cannes, o curta brasileiro Sem Coração, que mostrando um encontro de classes sociais distintas em Pernambuco levou o prêmio da Quinzena dos Realizadores. A seguir, todos os ganhadores:

PALMA DE OURO
“Winter Sleep” (Kis Uykusu), de Nuri Bilge Ceylan

Grand Prix
“Le Maraviglie”, de Alice Rohrwacher

Melhor Diretor
Bennett Miller, por “Foxcatcher”

Melhor Ator
Timothy Spall, por “Mr. Turner”

Melhor Atriz
Julianne Moore, por “Maps to the Stars”

Prêmio do Júri
“Mommy”, de Xavier Dolan, e “Adieu au langage”, de Jean-Luc Godard

Melhor Roteiro
Andrey Zvyagintsev e Oleg Negin, por Leviathan


MOSTRA UM CERTO OLHAR

 Prêmio Um Certo Olhar
"FEHÉR ISTEN", de Kornél Mundruczó

Prêmio do Júri
"TURIST", de Ruben Östlund

Prêmio Especial Um Certo Olhar
"THE SALT OF THE EARTH", de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado

Prêmio de Conjunto
"PARTY GIRL" de Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis

Prêmio de Melhor Ator
David Gulpilil em "CHARLIE’S COUNTRY" de Rolf de Heer

SEMANA DA CRÍTICA

Grande Prêmio Nespresso
"The Tribe", de Myroslav Slaboshpytskiy

Prêmio Revelação
"The Tribe", de Myroslav Slaboshpytskiy

Prêmio SACD
"Hope", de Boris Lojkine

Prêmio Descoberta para Curta-Metragem
"A Ciambra", de Jonas Carpignano

Prêmio Canal para Curta-Metragem
"Crocodile", de Gaëlle Denis

Garantia de Distribuição da Fundação Gan
"The Tribe", de Myroslav Slaboshpytskiy

terça-feira, 20 de maio de 2014

DVD: Pelos Olhos de Maisie

Maisie e seus "responsáveis": laços emocionais que transcende a genética. 

Fiquei surpreso quando descobri que o filme Pelos Olhos de Maisie é adaptação de um romance de 1897 escrito por Henry James. A surpresa é por conta do ótimo trabalho realizado pelos diretores David Siegel e Scott McGehee, que demonstram sensibilidade em perceber tudo que a trama tem de atemporal, chegando ao bom senso de modificar o desfecho do livro (que termina com Maisie adolescente e escolhendo ficar com uma pessoa que é praticamente descartada no filme). Ambientado no século XXI, o filme apresenta Maisie (Onata Aprile), uma adorável menina de sete anos. Sua mãe é Suzanna (Julianne Moore) uma roqueira (agradecendo ao apoio sonoro da banda The Kills) e o pai, Beale (Steve Coogan) é um ocupado negociante de obras de arte. Ambos vivem ocupados demais com os negócios e Maisie só não é negligenciada pelos cuidados que a babá tem com ela. Suzanna e Beale são mostrados como personagens bastante egocêntricos, sendo incapazes de perceber os  efeitos de tanta ausência na família que tentaram construir. Obviamente que Maisie é a mais prejudicada em meio às constantes discussões e conflitos que se tornaram comuns em sua casa. O divórcio de seus pais é visto como inevitável, mas o que poderia ser um alento para as discussões diante da menina, ganha novos contornos com a guarda compartilhada entre seus preceptores - que sempre soltam farpas um sobre o outro diante da menina. Quando Maisie vai passar seus dias com o pai, ela se depara com a madrasta, Margo (Joanna Vanderham), velha conhecida de sua família. É Margo que cuidará dela enquanto seu pai está ausente. Não demora muito para que sua mãe também encontre alguém um padrasto para cuidar da filha enquanto estiver cuidando da carreira. Enquanto Suzanna se ocupa com gravações e shows, Maisie passa o tempo com o atencioso Lincoln (Alexander Skarsgard). Enquanto está sob o cuidado de seus novos pais, ela presencia como o pai negligencia até a nova esposa e como sua mãe é uma verdadeira megera, que morre de ciúme da filha com Lincoln, mas é incapaz de dar-lhe a atenção que merece. O filme constrói de forma bastante sutil as evidências de que a família de Maise passa a ser Margo e Lincoln - e a atenção que nutrem pela menina lhes oferece um vínculo inevitável. É realmente notável como o filme consegue utilizar uma história ambientada no final do século XIX e lhe dar a cara do nosso tempo, onde muitas relações familiares ficam em segundo plano diante das ambições e compromissos de adultos movidos pelo (e para) o dinheiro. Enquanto os novos pais de Maisie ganham nosso coração, fica até difícil tecer algum comentário mais substancial sobre Beale e Suzanna. Pode-se dizer que os personagens são mostrados de forma quase caricatural pelo roteiro, mas aos olhos de Maisie eles não conseguiriam ser nunca algo mais  do que é mostrado com o pouco contato que temos com eles. Se Julianne Moore é sempre ótima (seu embate com Maisie no final é devastador) e a menina Onata Aprile é bastante expressiva, fica com Alexander Skarsgard o papel de surpreender a plateia numa atuação mais emocionalmente complexa do que estamos acostumados a vê-lo. Pelos olhos de Maisie é um belo retrato de uma família do século XXI, embora sua matriz seja de séculos anteriores. 

Pelos Olhos de Maisie (What Maisie Knew/EUA-2012) de David Siegel e Scott McGehee com Julianne Moore, Alexander Skarsgard, Onata Aprile, Joanna Vanderham e Steve Coogan. ☻☻☻☻

segunda-feira, 19 de maio de 2014

§8^) Fac Simile: Tobey Maguire

Tobias Vincent Maguire
O repórter imaginário do blog conseguiu uma entrevista falsa com Tobey Maguire enquanto ele divulgava seu novo trabalho, a série The Spoils of Babylon (ainda inédita no Brasil). O ator anda sumido desde que deixou de vestir o uniforme do Homem-Aranha e tentou ser paciente com nosso repórter e suas cinco perguntas:

§8^) Você não tem trabalhado muito ultimamente, é devido aos milhões que recebeu depois que interpretou o Homem Aranha ou por que as pessoas esqueceram de você?

Tobey: Uau... eu... bem... continuo recebendo vários convites, mas nem todos me agradam. Fiz um filme recentemente com Edward Zwick, Pawn Sacrifice que ainda não tem data para estrear. Tenho só esse por enquanto. Mas gosto de aproveitar o tempo com a família... 

§8^) Deve ser por isso que James Franco não casou ou teve filhos, não acha engraçado como ele começou a fazer mais sucesso que você depois que sua fase de Homem Aranha acabou? .

Tobey: KKKKK sei o que está tentando fazer, mas não vou cair nessa. James sempre foi muito talentoso e fico muito feliz pelas conquistas dele. Tem lugar para todo mundo na indústria...

§8^) Quando Andrew Garfield vestiu o uniforme do Home-Aranha ele teve um problema com... digamos... o fato do uniforme ser muito justo entre as pernas... você se ofendeu quando disseram que não havia esse problema com você?

Tobey: ...

§8^) Como você se sentiu quando Ang Lee te cortou de As Aventuras de Pi? 

Tobey: ... Na época eu falei muito sobre isso. Achei natural a atitude dele, ele achou que eu não me encaixava naquele universo e eu entendi. Adoro Lee, trabalhei com ele duas vezes e diante do resultado alcançado em seus filmes... sei que ele sabe o que é o melhor a ser feito sempre. 

§8^) Você tem filmes muito bons em seu currículo, gosto muito de você em Tempestade de Gelo (1997), A Vida em Preto e Branco (1998) e acho que você merecia um Oscar por Garotos Incríveis (2000)... mas o último papel que você fez que eu curti foi o padre gay de sua participação em Trovão Tropical (2008), você pretende retomar aquele personagem?

Tobey: Padre Gay? ... eu não... (risos) você lembra disso? kkkk! Futuramente, quem sabe... mas só topo se for com o Robert Downey Jr!

DVD: Detalhes

Linney e Tobey: síndrome de Peter Parker Pan

Tenho a impressão que desde que abandonou o uniforme do Homem Aranha, Tobey Maguire caiu numa espécie de limbo de Hollywood. Apesar de aparecer em produções recentes como O Grande Gatsby de Baz Luhrman e Refém da Paixão de Jason Reitman (ambos de 2013), o ator está longe de causar alguma sensação. É verdade que antes de estrelar blockbusters, ele gostava de atuar em filmes independentes interessantes, mas o mesmo não se pode dizer agora. Há sete anos que ele abandonou a franquia milionária de HQ e estrelou somente cinco filmes. Em 2009 chegou a ser indicado ao Globo de Ouro pelo irregular Entre Irmãos, mas o filme não lhe deu fôlego para outras premiações e desde então seu outro filme como protagonista é esse pequeno Detalhes (2011), segundo filme do desconhecido Jacob Aaron Estes. O filme até tentar criar alguma substância próxima do que vimos no brilhante Beleza Americana (1999),. afinal, estão lá a família perfeita que parece saída de um comercial de margarina, a vida confortável no subúrbio - ainda que cercada de tipos excêntricos - , os conflitos familiares que parecem tragicômicos e outros elementos que Sam Mendes soube utilizar tão bem. Pena que Aaron Estes não é Sam Mendes e seu filme parece vazio como os seus personagens. Tobey interpreta Jeff Lang, um jovem médico que vive com a esposa e o filho pequeno. Jeff acaba de colocar o gramado em seu quintal - e que agora passa a ser aterrorizado por um simpático guaxinim. Esse é anunciado como o incômodo de toda tragicomédia pela qual passa o personagem - que acoplado à falta de apetite sexual da esposa (Elizabeth Banks) torna tudo pior. Para descarregar o estresse ele até pratica esportes - ali tem até um amigo, o humilde Lincoln (Dennis Haysbert, um desses atores que está sempre bem mas que nunca recebe o devido reconhecimento) -  que faz com que Jeff faça um ato bastante nobre. Mas o roteiro se preocupa mesmo é em mostrar como um cara certinho começa a meter os pés pelas mãos e consegue ter relações com outras duas mulheres, matar um animal da vizinhança e ainda se meter num acordo macabro que parece inspirado em filme de Hitchcock. O problema maior do filme é que trata-se de uma comédia de humor negro, um gênero dificílimo de realizar, e o filme se contenta em ser sem graça em sua estranheza. Os mais entusiasmados irão perceber nele uma crítica ao american way of life, uma denúncia à alienação americana para manter sua imagem de perfeição e blábláblá, mas não é nada disso. Detalhes decepciona por uma série de fatores e um deles é ter escalado Tobey Maguire para protagonista. Próximo dos quarenta anos, Tobey ainda parece jovem demais para convencer como um homem maduro, Jeff poderia parecer uma vítima da síndrome de Peter Pan, já que ele comporta-se como um adolescente quando... na verdade ele tem cara de adolescente, corpo de adolescente, expressão de adolescente... enfim, uma escolha infeliz que compromete todo o filme. Não estou dizendo que Tobey seja um mal ator, mas não era a melhor escolha para o papel. Entendo que ele queira novos desafios e construir uma nova imagem para si (cenas de sexo com três belas atrizes ajuda, mas ainda parece um adolescente com hormônios em ebulição) mas precisa fazer mais do que caretas enlouquecidas para convencer. O filme tem até duas ou três cenas bacanas, mas é pouco. Se alguém consegue salvar a sessão desse filme é Laura Linney, ótima (como sempre) como a estranha vizinha dos Palmer. 

Detalhes (The Details/EUA-2011) de Jacob Aaron Estes com Tobey Maguire, Laura Linney, Elizabeth Banks, Dennis Haysbert, Kerry Washington e Ray Liotta. ☻☻

DVD: A Busca

Os Gadelha: família distante em busca do filho que sumiu. 

O baiano Wagner Moura é um talento incontestável. Ele é capaz de atuar com grande versatilidade entre diferentes gêneros e mídias. Seja na televisão, no cinema ou no teatro, Wagner consegue sempre ser motivo para que alguma produção chame a atenção e instigue o espectador até o final de sua performance. Dito isso, ele é o principal motivo pelo qual muita gente assistiu ao filme A Busca, longa metragem dirigido por Luciano Moura. Quando o filme começa, vemos apenas o desespero de Wagner dentro de um carro e o barulho de um atropelamento, diante daí, iremos acompanhar o que aconteceu antes daquele fato. Theo Gadelha (Wagner Moura) é um médico que conseguiu construir uma casa confortável para a família formada pela mulher (Mariana Lima) e o filho Pedro (Brás Antunes), mas isso não foi o suficiente para que a família se entendesse. Como dá para perceber pelo início cheio de discussões e cobranças, o casamento já ruiu e o relacionamento de Theo com o filho não é dos melhores. A única cena em que vemos os três personagens juntos consegue ser bastante verossímil, ao dar conta de uma dessas discussões familiares onde palavras que não deveriam ser ditam vem à tona e ações inconsequentes traçam a relação diante dos nossos olhos. Pouco depois, Pedro diz que irá viajar com uns amigos no dia de seu aniversário, a mãe assiste sua despedida sem maiores esforços (revelando um grande abismo entre ele e seus pais) e ele não volta para o lar dentro do prazo previsto,  O pânico se instaura entre o casal e eles começam a juntar pistas para descobrir onde o filho está. Existe tensão e suspense nesse momento, mas a cada nova pessoa encontrada que cruzou o caminho de Theo, o filme vai mostrando que não tem fôlego para esticar essa estrutura narrativa por noventa minutos - especialmente se você for esperto para descobrir onde o menino foi logo nos minutos iniciais do filme. Talvez esse tenha sido o meu maior problema com o filme, desde o início eu sabia que a conclusão seria simplista demais para todo o tormento que Theo atravessa. No entanto, essa parece ser a intenção do filme, fazer Theo pagar seus pecados perante o árduo relacionamento que estabeleceu com sua família, como se todos fossem vítimas de sua postura. Theo não parece uma pessoa ruim, mas assumiu uma postura quase ditatorial para decidir o que é ideal para sua família e, se a família não concorda, é porque eles devem ter algum problema. No início, parece impossível estabelecer um diálogo com Theo, ele está sempre nervoso, falando sem parar, insatisfeito com a postura dos outros perante suas vontades, mas no decorrer do filme, conforme cruza com diversos personagens, tão distantes da bolha da classe média em que vive, as coisas mudam um pouco... talvez ele devesse ter feito um tour por comunidades paulistanas a mais tempo. Luciano Moura tem uma ideia interessante, mas que parece redundante demais quando estamos diante de três gerações de uma família e seus conflitos particulares que são mais uma vez silenciados, só que dessa vez, em nome de uma gentileza geradora de bem estar da plateia insatisfeita. Insatisfeita porque toda a angústia que sentimos junto com Theo se transforma numa espécie de raiva diante de um fato tão estúpido que lampejo de pensamento poderia ter resolvido sem tantos problemas. O simplismo de seu final (que poderia ser poético) é quase cômico no contraste que estabelece com o resto da história.  

A Busca (Brasil/2013) de Luciano Moura com Wagner Moura, Mariana Lima, Theo Gadelha e Lima Duarte. ☻☻☻

domingo, 18 de maio de 2014

CATÁLOGO: Hora de Voltar

Braff: imagens de um universo paralelo. 

Hora de Voltar é o filme de estreia na direção de Zach Braff, jovem ator que ficou famoso com o sucesso da série Scrubs (2001-2010). Enquanto a série estava com tudo, ele escreveu a história de Andrew Largeman (vivido pelo próprio Braff), jovem ator que alcançou algum sucesso na TV e precisa voltar para a cidade natal para o funeral de sua mãe. O filme narra o reencontro do personagem com alguns amigos de infância (sempre um deles cruza seu caminho) e com o seu severo pai psiquiatra (Ian Holm) - que por alguma razão atribui a ele a culpa da esposa ter passado vários anos presa a uma cadeira de rodas. A temporada no cenário de seu passado serve para que Large enfrente alguns episódios de sua trajetória pessoal, na maioria das vezes, acompanhado de Dave (Peter Sarsgaard) e Sam (Natalie Portman), forte candidata a conquistar o coração do protagonista. Trata-se de uma jornada bastante pessoal pelas emoções do personagem, criada a partir de passagens interessantes e repletas de um humor graciosamente melancólico. Braff demonstra grande engenhosidade para criar cenas marcantes para a plateia, mas, enquanto roteirista, tem o problema de não conseguir criar uma linha narrativa que consiga encadear apropriadamente o que vemos na tela. Diante do que vemos até aceitamos que tudo fique meio solto, afinal, nada na viagem de Andrew foi planejado, mas Braff não consegue demonstrar todas as nuances que o personagem necessita para aprofundar esse tipo de história. É verdade que sabemos que devido às suas culpas e problemas, ele deve ter tomado mais remédios psiquiátricos do que o recomendável - e por isso passeia por todos os cenários como se estivesse um tanto desconectado de tudo que o cerca. Essa deve ser até a intenção do filme, mas sinto que falta algo à atuação de Braff, a todo instante é como se ele pedisse que sentíssemos pena (e não identificação) com ele. Sarsgaard e Portman cumprem belamente a tarefa de injetar um pouco de ânimo num personagem que parece perdido em sua própria trajetória pessoal, assim, ajudam o espectador a desbravar a narrativa, que apesar de bonitinha pode ser um bocado árdua pelas doses de tristeza que evoca. Crescer não é fácil, principalmente se estiver exorcizando seus fantasmas do passado. Há de se elogiar, no entanto, que Braff consegue construir um universo muito particular no decorrer do filme, como se tudo ali estivesse numa espécie de mundo paralelo em suspenso, onde tudo ocorre dentro de uma lógica própria. No entanto, sempre penso que se houvesse outro ator no papel principal o filme poderia render mais, mas isso pode ser pura implicância (até hoje o ator não me convenceu em suas atuações, já para quem acompanhou o trabalho em Scrubs, Hora de Voltar pode ter sido uma grande revelação). Recentemente Braff revisitou o tema principal daqui em Wish I Was Here, com previsão de estreia para julho nos EUA, mas ao contrário de Hora de Voltar, quem viu ainda não se empolgou com o resultado. Talvez porque, dez anos depois, Braff tenha provado que os sentidos que vemos em seu filme de estreia são mais fruto da plateia do que da coesão das cenas que escreve. Hora de Voltar é um filme que consegue ser estranhamente harmônico em sua colagem quase aleatória de cenas elaboradas, e por isso mesmo, deve ser lembrado com tanto carinho pelos fãs. 

Hora de Voltar (Garden State/EUA-2004) de Zach Braff com Zach Braff, Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Ian Holm, Alex Burns e Jim Parsons. ☻☻☻

sábado, 17 de maio de 2014

DVD: Os Candidatos

Zach e Will: trapassas como plano de campanha. 

Jay Roach é um diretor que me chama atenção, quando dirige para a TV realiza produções sérias (e premiadas) como Recontagem (2008) e Game Change (2012), sempre com uma saudável mistura entre a linguagem cinematográfica e a televisiva. Quando o assunto é cinema, ele prefere criar comediotas como a série Austin Powers (iniciada em 1997) ou Entrando numa Fria (que começou em 2000). Essa particularidade peculiar em seu currículo é comprovada mais uma vez com Os Candidatos, que consegue ser tão idiota quanto ácida em sua abordagem de uma competição descarada pelo gosto dos eleitores americanos. Como era de se esperar, o que menos importa são os planos de governo, e sim, a capacidade que um tem de avacalhar o concorrente durante as propagandas eleitorais. Nessa disputa vale tudo, instigar suspeitas infundadas, espremer feridas do passado, provocar escândalos, factóides e vídeos comprometedores na internet. Para levar essa disputa descarada ao limite, cabia a Roach ter dois atores que não tivessem pudores em ser ridículos na tela, sendo assim, não tinha melhor escolha do que o grandalhão Will Ferrell e o baixinho rechonchudo Zach Galifianakis. Will é Cam Brady, o congressista que pretende ser reeleito (mais uma vez) para representar o distrito de Carolina do Norte. Apesar de estar longe de ser um candidato exemplar (os escândalos sexuais são constantes, seus interesses são pouco nobres e a sua esposa está mais preocupada em manter o status do que o casamento), com a ajuda do fiel escudeiro coordenador de campanha Mitch (Jason Sudeikis), a reeleição parece certa. Eis que surge no páreo o novato Marty Huggins (Galifianakis), o ingênuo filho de um astuto articulador político republicano (Brian Cox, um ator que adoro e que pouca gente dá o valor que ele merece). Experiência política? Bem, Marty dirige o turismo local. Resta à Brady destruir a imagem do concorrente. No início ele ressalta o apelido de infância de Huggins, depois atiça suspeitas de ter um cão de raça chinesa (o que mais poderia revelar intenções comunistas?!) e até com o bigode do concorrente (seria sinal de adesão ao terrorismo?), depois a coisa piora com Brady sempre errando o alvo (com hilários socos em um bebê e num cãozinho) enquanto Huggins ganha o apoio de uma dupla sinistra de industriais (Dan Aykroyd e John Lithgow) cheia de segundas intenções. Ao roteiro cabe criar apenas uma sucessão de golpes baixos de um no outro, mas fica interessante quando Huggins precisa reinventar sua própria imagem para ganhar respeito - o que compromete até a estabilidade de sua família suburbanamente tranquila. A maioria das piadas funcionam e poucas caem na baixaria pura e simples (a cena das confissões familiares da família Huggins ao jantar sempre me parece um exagero), o fato é que o estilo expansivo de Will contrasta belamente com as sutilezas infantis que Galifianakis injeta em seu personagem. No duelo entre os dois comediantes, eu diria que Zach ganha ao criar um personagem pueril que se envolve com alguns dos truques mais sórdidos da politicagem. É verdade que a comédia prima pelo exagero, mas, ainda assim, consigo enxergar um bocado de fatos reais nas trambicagens da dupla, talvez por isso eu ache que é a melhor comédia de Jay Roach nas telonas.

Os Candidatos (The Capaign/EUA-2012) de Jay Roach com Will Ferrell, Zach Galifianakis, Brian Cox e Jason Sudeikis. ☻☻☻

quarta-feira, 14 de maio de 2014

FESTIVAL DE CANNES 2014

Hoje começou o 67ª edição do Festival de Cannes. Sempre acho engraçado o fato de que poucos meses de passaram desde que o Oscar finalizou a temporada 2013 de premiações e já estamos perante o pontapé inicial dos lançamento mais importantes de 2014 - de olho, claro, nas produções que ambicionam fôlego para a temporada de ouro ao final do ano. Alguns quase entraram no páreo de Oscars, Guildas e Globos em 2013, mas acabaram adiados (caso de Grace of Mônaco e Foxcatcher), outros, trazem de volta velhos conhecidos do festival (Godard, Atom Egoyam, Ken Loach, Davido Cronenberg, os irmãos Dardenne, Mike Leigh, Olivier Assyas...) ou a expectativa de ser a estreia de um cultuado astro atrás das câmeras (caso de Lost River, estreia na direção de Ryan Gosling). O júri presidido por Jane Campion já é por si mesmo interessante (Gael Garcia Bernal, Sofia Coppola, Willem Dafoe, Nicholas Winding Refn...) e terá bastante trabalho nos próximos dias. A cultuda Palma de Ouro será entregue no dia 25 de maio e até lá, vale acompanhar a trajetória dos filmes que serão exibidos (incluindo o único filme brasileiro presente no festival, o curta pernambucano Sem Coração de Nara Normande. A seguir a lista dos longas presentes no Festival:

The Captive: Ryan Reynolds às voltas com um desaparecimento.

MOSTRA COMPETITIVA

Adieu Au Langage (de Jean-Luc Godard)
Captives (de Atom Egoyan)
Deux Jours, Une Nuit (de Jean-Pierre & Luc Dardenne)
Foxcatcher (de Bennett Miller)
Futatsume No Mado (de Naomi Kawase)
Jimmy's Hall (de Ken Loach)
Le Meraviglie (de Alice Rohrwacher)
Leviathan (de Andrey Zvyagintsev)
Maps To The Stars (de David Cronenberg)
Mommy (de Xavier Dolan)
Mr. Turner (de Mike Leigh)
Relatos Salvajes  (de Damián Szifrón)
Saint Laurent (de Bertrand Bonello)
Sils Maria (de Olivier Assayas)
The Homesman (de Tommy Lee Jones)
The Search (de Michel Hazanavicius)
Timbuktu (de Abderrahmane Sissako)
Winter Sleep (de Nuri Bilge Ceylan)

Christina Hendricks em Lost River: fábula sobre mundos sombrios.

MOSTRA UN CERTAIN REGARD

Amour Fou (de Jessica Hausner)
Bird People (de Pascale Ferran)
Charlie's Country (de Rolf De Heer)
Dohee-Ya (de July Jung)
Fantasia (de Chao Wang)
Fehér Isten (de Kornél Mundruczó)
Hermosa Juventud (de Jaime Rosales)
Incompresa (de Asia Argento)
Jauja (de Lisandro Alonso)
La Chambre Bleue (de Mathieu Amalric)
Loin De Mon Pere (de Keren Yedaya)
Lost River (de Ryan Gosling)
Party Girl (de Marie Amachoukeli)
Run (de Philippe Lacôte)
Snow In Paradise (de Andrew Hulme)
The Disappearance Of Eleanor Rigby (de Ned Benson)
The Salt Of The Earth (de Wim Wenders)
Titli (de Kanu Behl)
Turist (de Ruben Östlund)
Xenia (de Panos H. Koutras)


Nicole Kidman em Grace de Mônaco: fôlego para chegar ao Oscar?

 FORA  DE COMPETIÇÃO

Grace De Monaco (de Olivier Dahan)
Gui Lai (Coming Home) (de  Zhang Yimou)
How To Train Your Dragon 2 (de Dean Deblois)
L'homme Qu'on Aimait Trop (de André Téchiné)
Pyo Jeok  (de Chang)
The Rover (de David Michod)
The Salvation (de Kristian Levring)


segunda-feira, 12 de maio de 2014

DVD: Entre o Amor e a Paixão

Rogen e Michelle: o amor resiste à comodidade do casamento?

Entre e o Amor e a Paixão já é um título que não inspira muita confiança, mas  até que serve bem para esse drama romântico assinado pela multitarefa canadense Sarah Polley. Depois de todo o sucesso de Longe Dela (que ganhou mais de 40 prêmios internacionais), Sarah (que na maior parte do tempo é atriz) provou que era uma realizadora competente (e a indicação ao Oscar pelo roteiro sobre a crise no casamento de uma personagem com Alzheimer só comprovou isso). É evidente que ao lançar seu novo filme, a diretora queria continuar no caminho por dramas humanos e relações humanas, especialmente sobre o assunto casamento (tema recorrente em sua cinematografia, para entender melhor essa obsessão, basta ver o documentário Histórias que Contamos/2012). Porém, apesar dos elogios, Entre o Amor e a Paixão é um filme difícil. Michelle Williams faz das tripas coração para que possamos simpatizar com sua personagem, a insatisfeita Margot. No início do filme vemos Margot em uma excursão, onde no final dela precisa dar uma chicotadas num personagem adúltero diante de uma plateia de turistas. Ironicamente, naquele momento ela conhece Daniel (Luke Kirby), rapaz que ainda ficará próximo dela na viagem de volta e com quem dividirá um táxi até chegar em casa. Margot não aparenta muita vaidade. Usa roupas largas, pouca maquiagem e os cabelos estão quase sempre desgrenhados, enquanto Daniel tem aquele jeito despojado sedutor com olhos verdes que parece hipnotizá-la. Quando o táxi chega ao destino de Margot ela confessa que é casada enquanto Daniel, decepcionado, revela que são vizinhos, já que ele mora numa casa quase em frente à ela. "Ai meu Deus", diz a personagem ciente de que não cair em tentação com ela tão próxima será um grande desafio. Margot é casada com Lou (Seth Rogen dando conta de um personagem mais sutil com bastante competência), um cara gorducho (afinal é um chef que prepara um livro sobre pratos envolvendo frangos em preparos variado), com um humor quase infantil e bem carinhoso. A casa deles é cheia de objetos que retratam anos de convivência e memórias compartilhadas, assim como visitas de parentes e amigos. Pena que nada disso é capaz de tornar Margot feliz. Michelle Williams tem o talento suficiente para mostrar que o que era aconchegante parece fazê-la sobrar a partir de certo momento, aí, as investidas do esposo, assim como as suas sobre ele sempre parecem desengonçadas. Ela diz que precisa de "coragem" para seduzí-lo. Atônito Lou pergunta: "Você precisa de coragem para seduzir o seu esposo?". De fato, há algo que não está funcionando no casamento dos dois (talvez só a brincadeira bizarra de descrever formas de ferir um ao outro seja espontânea para ela). Tudo só piora quando Margot passa a se encontrar com Daniel e ele revela-se um artista plástico sem sucesso que ganha a vida carregando um riquixá pelas ruas de Montreal. Com Daniel tão próximo, a resistência de Margot é testada a todo instante e a nossa também, já que o filme deixa tudo em marcha lenta, arrastado e vagaroso - deixando que o espectador desfrute de todo o tédio que Margot enxerga em seu casamento e vendo no adultério a única injeção de ânimo em sua rotina. A pergunta que o título brasileiro propõe é se a personagem deve optar pela segurança do amor no casamento com Lou ou os riscos da paixão tórrida com Daniel. Talvez, ao final das contas, Margot descubra que nada é tão sedutor quanto suas fantasias e que toda sua insatisfação nem fosse por conta de Lou (que é um cara bacana e imperfeito como todos os outros) mas das expectativas que tem sobre si mesma.    

Entre o Amor e A Paixão (Take this Waltz/Canadá-2011) de Sarah Polley com Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirby, Sarah Silverman e Aaron Abrahms. ☻☻