Javier e Mario: sociopata em busca de status.
Projetado a hit da Netflix durante este período de reclusão, o suspense espanhol A Casa é um filme bastante eficiente quando precisa criar tensão. A produção também consegue a proeza de ser baseada no ponto de vista de um sujeito asqueroso e não cair na ideia de transforma-lo em vítima das circunstâncias. Javier (Javier Gutiérrez) não vale nada e pronto. No início ele até finge bem, quando procura por emprego e percebe que manter seu padrão de vida será bem difícil no competitivo mundo da propaganda. Veterano no mercado e criador de campanhas conhecidas, ele agora corre o risco de ser considerado previsível e até obsoleto. Os problemas financeiros acabam fazendo com que saia de seu apartamento de luxo e se mude para um bem menor com a esposa e o filho. O relacionamento com a família também não está muito bom e a tendência é piorar cada vez mais. Neste aspecto é interessante como o filme começa com aquela tradicional cena de família de comercial de margarina, belos, sorridentes, sem problemas como só no mundo ideal existe para, ironicamente, fazer com que Javier passasse a perseguir esta ideia pelo pior caminho. É neste ponto que ele começa a se aproximar de Tomás (Mario Casas). Tomás e sua família moram na aconchegante ex-moradia de Javier e quando Javier percebe que o rapaz tem uma bela família, é bonitão e ainda vice-presidente de uma empresa, a mente de Javier começa a tramar situações para tomar aquela vida para si. Basta descobrir as fraquezas do novo "amigo" e as fissuras naquele casamento para que o vilão consiga o que quer. O filme retoma um gênero que andava meio esquecido, o suspense domiciliar, que já rendeu vários sucessos (sobretudo nos anos 1990) como A Mão que Balança o Berço/1992 (que deixou todo mundo com medo de contratar uma babá doida) e Mulher Solteira Procura/1992 (que deixou todo mundo com medo de dividir o apartamento com uma maluca), assim como os filmes citados (verdadeiros clássicos do gênero), A Casa consegue prender a atenção do espectador, mesmo quando abusa da ingenuidade de seus personagens - e neste ponto a Lara (Bruna Cusí) merecia o Oscar, ou melhor, o Goya da ingenuidade plena. Enfim, eu sei que as coisas acontecem assim para que a trama aconteça e se movimente... mas em alguns momentos eu tive que imaginar que a coisa com o maridão já estava de mal a pior faz tempo. Sorte é que os diretores Álex e David Pastor sabem a hora exata de parar, além de confiarem no talento de Javier Gutiérrez para criar mais um personagem cheio de complexidades (assim como ele fez em O Autor/2017 outro filme de sucesso na Netflix). A Casa funciona.
A Casa (Hogar/Espanha - 2010) de Álex Pastor e David Pastor com Javier Gutiérrez, Mario Casa, Bruna Cusí e Ruth Díaz . ☻☻☻
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