Robert e Willem: à beira da loucura.
Depois da estreia com o elogiado A Bruxa (2015), o cineasta Robert Eggers segue em seu caminho para se tornar o mestre do terror do século XXI. O Farol é a confirmação de que estamos diante de um talento cheio de estilo e que prefere sutilezas e simbologias do que causar sustos fáceis na plateia. Aqui, mais uma vez, ele prefere construir a tensão cuidadosamente entre os seus personagens, numa espécie de tortura psicológica para quem está na tela ou diante dela. Para esta tarefa ele conta com dois atores inspirados em fases distintas de suas carreiras. Um deles é Willem Dafoe, ator consagrado e que parece se encaixar em qualquer coisa que lhe entreguem para fazer. Apesar de ser um rosto bastante conhecido e aparecer em superproduções hollywoodianas, nota-se que é no cinema independente que Dafoe encontra seu refúgio, prova disso é que o ator foi lembrado no Oscar por dois anos seguidos por seus irrepreensíveis trabalhos em Projeto Flórida (2017) e O Portal da Eternidade (2018). No primeiro ele vivia um cuidadoso zelador de um hotel precário nos arredores da Disney, no segundo ele vivia o artista Van Gogh no período mais complicado de sua vida. Neste ano, bem que a Academia poderia ter lembrado dele como o experiente faroleiro prestes a surtar com a chegada de um parceiro. Vai entender o motivo de todo mundo ter se rendido ao Brad Pitt em Era Uma Vez em Hollywood (2019) e esquecer da força que Dafoe empresta à narrativa de O Farol. O veterano é seguido de perto pelo trabalho de Robert Pattinson, que todo cinéfilo bem informado já percebeu que está cada vez mais distante do vampiro brilhoso de Crepúsculo (2008). Colecionando bons trabalhos nos últimos anos (vou citar Bom Comportamento/2017 e High Life/2018 só para ficar nos mais recentes), o rapaz demonstra aqui que é preciso leva-lo a sério, já que (assim como seu parceiro de cena) está impecável perante a loucura que o consome vagarosamente diante do isolamento que aquele lugar provoca. Zeggers insere aqui um tom bastante pesadelesco e um tanto surreal na mistura de referências que utiliza sobre as mitologias em torno da vida no mar (sereias, maremotos, maus presságios...) e esgarça cada vez mais a relação da dupla ao longo da sessão. O estresse chega a um nível insuportável e aquela cena raivosa de Willem Dafoe clamando uma punição ao parceiro é um daqueles momentos que você não consegue nem piscar diante da tela. Feito em belíssima fotografia em preto e branco (única indicação do filme ao Oscar), usando aquele formato de tela quadradamente claustrofóbico, calcado em atuações carregadas do elenco em uma estética que lembra filmes expressionistas alemães o resultado é impressionante. O Farol parece concebido para ser um clássico do horror psicológico e, por sorte, alcança seu objetivo com louvor! Se Zeggers queria nos deixar cada vez mais curiosos com seus projetos futuros, o cara conseguiu.
O Farol (The Lighthouse / Canadá - EUA / 2019) de Robert Eggers com Robert Pattinson e Willem Dafoe. ☻☻☻☻☻
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