Jesse: faixa amarela no Clube do Dojo.
A Arte da Autodefesa é um daqueles filmes que você assiste sem entender muito bem o que está acontecendo, estranha as ironias do roteiro, a ordem dos fatos, algumas situações inusitadas até perceber que tudo está ali para compor uma piada obscura. Ajuda muito a acompanhar esta esquisitice a atuação de Jesse Eisenberg, que depois de se repetir à exaustão parece cada vez mais ter criado um tipo para si: o sujeito estranho. Embora ainda seja franzino e tenha aquele jeito de adolescente, Jesse já tem 36 anos e está cada vez mais com cara de adulto. Embora seu trabalho mais famoso seja por sua indicação ao Oscar por A Rede Social (2010) ele tem vários personagens filmes marcantes na carreira (seja em Mais Forte que Bombas/2015, O Duplo/2013, A Lula e a Baleia/2005, Lex Luthor...) e este aqui deve ter lá o seu fã-clube, já que recebeu boas críticas e algumas indicações a prêmios do cinema independente. A história começa quando o introvertido Casey (Eisenberg) sai de casa à noite para comprar ração para o cachorro e acaba perseguido por uma gangue de motoqueiros. Casey é apanha um bocado e se torna mais recluso e retraído, causando preocupação nos familiares e amigos. As coisas mudam quando ele se inscreve numa escola de caratê do bairro. Ali, ele retoma sua autoestima e deixa que aquelas aulas influenciem diretamente sua personalidade que muda bastante... mais confiante e animado ao receber a "faixa amarela", Casey nem percebe as coisas estranhas que existem por ali, especialmente pela liderança soturna do seu carismático professor (mais um bom trabalho do sempre subestimado Alessandro Nivola). Parte da graça do filme é criar uma atmosfera quase surreal em torno dos personagens que frequentam aquela escola de artes marciais. Existem alguns momentos bem absurdos que tendem a enriquecer ainda mais aquelas relações (mesmo que por um caminho inusitado) até que um tom meio Clube da Luta começa a pairar no ar. Embora filme não tenha a magnitude da obra de David Fincher, tem algumas semelhanças que podem incomodar algumas pessoas, já que o espectador mais esperto aos poucos já vai captando o que está por vir. No entanto, não estragou minha surpresa de ver a transição do protagonista perante seus medos e seu mestre. A Arte da Autodefesa tem momentos dramáticos, engraçados, tensos, revoltantes e até absurdos, mas funciona justamente por ser um filme imprevisível. Este é o segundo filme do diretor Riley Sterns, que antes dirigiu (o inédito por aqui) Faults (2014) que parece seguir pelo mesmo caminho. Se não chega a ser uma obra brilhante, A Arte da Autodefesa ao menos desperta a curiosidade pelas obras de seu diretor e roteirista que gosta de olhar fora da caixinha.
A Arte da Autodefesa (The Art of Self Defense / EUA - 2019) de Riley Sterns com Jesse Eisenberg, Alessandro Nivola, Imogin Poots, Steve Terada, David Zellner e Jason Burkey. ☻☻☻
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