Florence: visitante em um culto pagão.
Quando lançou Hereditário (2018) o diretor Ari Aster deu uma entrevista dizendo que tirando a parte de terror, o drama familiar que os personagens viviam renderia um filme de drama como tantos outros. Ele também disse que a história do filme era baseada em fatos autobiográficos. Depois de assistir seu segundo longa-metragem, Midsommar, eu continuo pensando como foi a vida do diretor. Embora sejam esteticamente bastante diferentes, as duas obras tem bastante coisa em comum. A começar pelo seu foco em rituais pagãos e seu lugar no mundo de hoje. Acho que não é por acaso que o filme começa sombrio, com um suicídio e o desespero de sua protagonista Dani (Florence Pugh, ótima como sempre) na cidade grande. Ela também está diante de um relacionamento que sabe estar prestes a terminar. O namorado Christian (Jack Reynor) parece até um cara legal, mas está doido para terminar o namoro. Eis que no meio do caminho os dois são convidados por um simpático amigo (Vilhelm Blomgren) a conhecer uma comunidade religiosa no interior da Suécia. Os dois vão meio desconfiados e chegando lá o que parecia ser um retiro zen se transforma num filme de terror. Uma série de episódios estranhos começam a acontecer - e vistos com a maior naturalidade pela comunidade local - dexiando sempre a sensação de que algo pior está para acontecer. A postura dos anfitriões também não ajuda muito, já que sempre parecem estar escondendo alguma coisa. Arter segue um ritmo lento e mais uma vez deixa as ideias do roteiro fermentar na cabeça do espectador a maior parte do tempo, até que tudo aquilo que o casal temia acontece, mas da pior forma possível. Os momentos finais de Midsommar são de pura angústia e o melhor é como o filme constrói uma plasticidade que vai contra tudo que vimos em filmes do gênero. O colorido das flores, as roupas brancas, a fotografia que abusa dos tons pastéis, a direção de arte do filme vira tudo isso do avesso e as fazem se tornar sinônimo de algo macabro em nosso inconsciente. Mais uma vez, o diretor demonstra ser ótimo no trabalho com o elenco, fazendo com que todos se saiam bem em momentos extremamente complicados, por exemplo, só de acompanhar os altos e baixos das emoções de Dani eu fiquei exausto! Não foi por acaso que muita gente apostava que Florence Pugh seria indicada ao Oscar por seu trabalho aqui (ela acabou sendo indicada como coadjuvante por Adoráveis Mulheres, mas sabemos que vale para os dois filmes, já que o Oscar tem restrições com filmes de terror - a Toni Collette de Hereditário que o diga - mas). Sou fã de Florence desde que a vi magnífica em Lady Macbeth (2016) e em breve ela será a irmã de Scarlett Johansson em Viúva Negra, ou seja, você ouvirá falar muito desta inglesa de 24 anos! Ah claro, você ouvirá falar muito de Ari Aster também, que parece disputar com Robert Eggers (A Bruxa/2015 e O Farol/2019 ) o título de mestre do terror do século XXI, resta saber quem irá convencer melhor a impaciência do espectador contemporâneo acostumado a sustos fáceis e explosões de som.
Midsommar - O Mal não Espera a Noite (EUA- Suécia / 2019) de Ari Aster com Florence Pugh, Jack Reynor, Will Poulter, Vilhelm Blomgren, Ellora Torchia e Isabelle Grill. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário