Era 1999 quando Alexander Payne lançou o seu segundo longa-metragem. Depois do sucesso no circuito alternativo com Ruth em Questão (1996), Eleição lhe dava a chance de ampliar o seu público e aprofundar ainda mais o seu estilo ácido de dissecar o puritanismo americano. Baseado no livro de Tom Perotta (o mesmo de Pecados Íntimos/2006), o filme é brilhante ao abordar a política americana transplantada para uma autêntica high school americana. Se você anda impressionado como essa mesma ideia está sendo abordada no seriado Glee, você precisa assistir Eleição o mais rápido possível. Payne concorreu ao Oscar de roteiro adaptado pela história do professor Jim McAllister (Mathew Broderick), um sujeito exemplar e de vida regrada ao lado da esposa insossa que não consegue engravidar. Entre uma aula sobre ética aqui e uma lição de moral ali, o professor nutre fortes ressentimentos pela aluna Tracy Flick (Reese Witherspoon, numa atuação tão divertida quanto assustadora). Tracy é a aluna que mais gosta de aparecer na escola, está em todos os clubes mais (e menos) relevantes, além de disputas e discussões que podem lhe garantir créditos para a vida futura. O motivo de birra do professor com a aluna é o fato dela ter se envolvido com um professor - o que acabou em um escândalo dos bastidores da escola e rendendo a expulsão do babão. Por mais que MacAllister seja simpático e agradável em sua vida escolar percebe-se deste ponto de implicância que sua elevada moral possui uma pequena mancha. Afinal de contas, qualquer professor sabe que não pode se envolver com alunas e por mais que estas pareçam interessadas é ética e moralmente condenável (daí a contradição de McAllister). A chance de McAllister se vingar de Tracy será na eleição do grêmio da escola. Sob o pretexto de ensinar a Tracy que não se pode ganhar todas passando por cima dos outros, o professor resolve bancar a candidatura do um pateta Paul Metzler (Chris Klein que parece um especialista para esse tipo de coisa) que é boa gente, mas um candidato escolhido somente para prejudicar a ascensão de Tracy e que não faz a mínima ideia do que seria um plano de governo. Como a vida política é sempre cheia de surpresas e ressentimentos, a terceira pessoa no páreo é a irmã de Paul, a invocada Tammy Metzler (Jessica Campbell) que deseja vingar-se da ex-namorada que a trocou pelo irmão. O que poderia ser apenas uma campanha escolar vira um campo de batalha, com material de campanha destruído, cassação de candidaturas e até fraude na apuração. Alguns podem até pensar que se trata somente de um filme para adolescentes, mas observando com atenção, veremos que o filme é um olhar interessante sobre a politicagem na vida do ser humano. Por mais que Tracy seja uma das personagens mais chatas que já apareceu numa tela de cinema (e Reese a realiza com grande desenvoltura, bem diferente da atriz que se tornou após ganhar o Oscar) McAllister deixa sua visão cada vez mais comprometida num emaranhado de acontecimentos que ameaçam sua carreira e até seu casamento. No microuniverso criado no filme, as situações da estrutura macropolítica de repetem e os pequenos fatos fazem toda a diferença na contagem final dos votos - e aquele sujeito que antes era dado como invisível pode ter uma revelação que mudará os rumos de tudo. Neste filme, Payne se despediu do seu humor mais cortante (que faz personagem agradecer em suas orações por ser bem dotado ou outra que pede à Deus para ser amiga da Madonna, submete Tracy Flick a frames feiosos ou mesmo que escolhe o eterno Ferris Bueller para o papel de professor que se deteriora eticamente durante a trama). Payne pode até ter se tornado mais sério em seus filmes seguintes - mas mesmo se tratando de uma das melhores comédias da década de 1990, se você conhecer personagens como McAllister e Tracy e sentir vontade de chorar, eu vou entender.
Broderick: olhar comprometido (e não só por causa de alergia à abelha)
Eleição (Election/EUA-1999) de Alexander Payne com Matthew Broderick, Reese Witherspoon, Chris Klein e Molly Hagan. ☻☻☻☻☻
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