Bell: "Ei Channing, você tomou algum anestésico?"
Tem gente que acha que interpretar é sorrir o tempo inteiro e dizer as falas que decorou, Channing Tatum não faz parte deste grupo. O ator prova neste longa assinado por Kevin MacDonald que interpretar é ficar com cara de marrento durante todo o filme. Uma vez ou outra ele pode até se aproveitar dos olhos de cão sem dono e mostrar um pouco dos efeitos da musculação em uma ou outra cena, mas ele não convence como ator. Depois de aparecer na versão para as telas dos brinquedos Comandos em Ação (G.I.Joe/2009 que terá uma sequência em breve) e fazer as moçoilas chorarem suas pitangas em Querido John (2009), o moço pensou que podia ser o novo Russell Crowe nessa versão para o cinema do livro de Rosemay Suteliff, que desde 1954 chama a atenção dos jovens nas bibliotecas americanas. O filme não foi bem nas bilheterias e ainda recebeu um título desajeitado em sua chegada às locadoras brasileiras - seria menos ruim se deixassem o título original (A Águia/The Eagle) seria neutro, não diria grande coisa, mas também não ficaria esse nome esquisito. O filme tem o maior jeitão de filme feito por encomenda para MacDonald, que já assinou a direção de dois longas ambiciosos (O Último Rei da Escócia/2006 e Intrigas de Estado/2009) e que podem não ter estourado na bilheteria, mas eram dignos de nota e com resultado mais correto do que este aqui. O filme conta a história de um general do império romano, Marcus (Tatum) que vive lembrando da trajetória de seu pai, somente depois descobrimos que o tal pai perdeu um símbolo da bravura romana ao desaparecer com toda sua legião após uma batalha mal sucedida. O tal símbolo é uma águia dourada, uma espécie de totem para os soldados. Após uma batalha ingrata, Marcus acaba se ferindo e sendo socorrido por um tio (Donald Sutherland). Nessa temporada na casa de repouso ele acaba salvando a vida de um escravo bretão chamado Esca (Jamie Bell, o crescido Billy Elliot/2000) é deste ponto em diante que o filme se torna mais interessante e Channing Tatum perde qualquer chance de dominar o filme. Marcus resolve ir atrás da tal águia perdida pelo pai com a ajuda dos conhecimentos do escravo, mas todos os personagens o advertem, que por ser um bretão (um dos povos dizimados e dominados por Roma) as probabilidades dele matar o seu dono são muitas. Essa simbologia entre dois personagens juntos e de povos inimigos poderia ser o aspecto mais forte do roteiro, mas acaba abordado apenas superficialmente até quando se metem em encrencas ao se depararem com outros povos vitimados pelo império romano. Quando os dois partem fica claro que se Tatum soubesse trabalhar essa tensão tão bem quanto Bell o filme poderia ser outra coisa, mas já que Jamie Bell tem que fazer tudo sozinho o filme só tem metade da densidade que poderia ter. Não chega a ser um desastre, já que MacDonald já provou que consegue construir momentos de grande tensão e aqui não decepciona, mas é pura maldade lhe dar um ator tão limitado para trabalhar, se tivesse um jovem ator com a mesma habilidade dramática do escravo as coisas poderiam ser muito melhores. Ou melhor, Tatum poderia ser menos cara de pau e se esforçar um pouco diante de uma câmera, ou então investir na carreira de modelo.
A Águia da Legião Perdida (The Eagle/Reino Unido - EUA/2011) de Kevin MacDonald com Channing Tatum, Jamie Bell e Donald Sutherland. ☻☻
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