Nicholson: atuação surpreendente na pele de Schmidt.
Depois de perder o Oscar de roteiro adaptado por Eleição (1999), Alexander Payne resolveu ser mais sério no seu filme seguinte e cumpriu todo o protocolo direitinho. As Confissões de Schmidt foi exibido com elogios no Festival de Cannes e muitos críticos ficaram surpresos da forma como Payne conseguiu tirar uma atuação mais contida de Jack Nicholson - algo que não se via há muito tempo. Mais sério e amargo o filme marcou um corte na cinematografia do diretor que deixava o humor em segundo plano e investia cada vez mais nos dramas de seus personagens. Curiosamente o preço da empreitada foi Payne ter que lidar com os leitores fãs do livro homônimo de Louis Begley (que alcançou tanto sucesso que rendeu até uma continuação: Schmidt Delivered) que alegavam que havia drenado muito do humor da narrativa, mudando totalmente a essência do personagem (que era muito mais preconceituso e mal intencionado do que o velhinho rabugento apresentado no filme). Warren Schmidt (Jack Nicholson, indicado ao Oscar de ator) é um senhor prestes a se aposentar, mas está totalmente ciente de que sua vida foi um desperdício (tanto que se vangloria do tempo que lhe resta de vida). Depois de aguentar a esposa castradora (que o obriga até a urinar sentado para não correr o risco de respingar o branheiro) ele sabe que sua vida de aposentado será pior do que no escritório insosso em que trabalhava - mas com o trailer que comprou pretende espantar a rotina de tédio e depressão que se anuncia desde a primeira cena. Obviamente que a esposa não gostaria dessa ideia, mas as coisas mudam quando Schmidt fica viúvo. Diante da situação, Schmidt prentende dar novo rumo à sua vida e fazer uma boa ação, ou melhor duas: uma é ajudar um menino nos cafundós da Tanzânia através do envio de cheques, o outro é impedir o casamento de sua filha (Hope Davis) com um noivo o qual desaprova (vivido por gosto por um Dermot Mulroney totalmente brega), Schmidt pensa que conseguirá convencer a filha a desistir do casório. Até encontrar a filha, o personagem irá se deparar com uma série de sujeitos comuns feito ele em situações comuns. Quando se transforma em road movie o filme tenta sair do lugar comum com um humor sutil, mas seus melhores momentos estão no seu encontro com a sogra de sua filha (vivida pela ótima Kathy Bates, indicada ao Oscar de coadjuvante e que tem a coragem de fazer uma cena de nu frontal) que acaba demonstrando mais interesse por ele do que o próprio poderia imaginar. Schmidt não é apresentado com muitas qualidades, é como se ele simplesmente existisse num mundo que se move independente de suas ações - essa sensação de ser descartável dá ao filme uma incômoda sensação deprimente e apesar de momentos de alívio cômico, o filme consegue ser baixo-astral a maior parte do tempo. Se após toda a sessão a vida de Schmidt parece sem sentido, Payne guarda o melhor momento para o final, numa belíssima cena em que Schmidt recebe uma carta muito especial. Parece que Payne e Nicholson construíram toda a trajetória do filme apenas para essa cena especificamente, o incrível é que ela funciona magistralmente fazendo toda a diferença em nosso apreço pelo longa. Ainda assim, devo confessar que na filmografia de Payne é o longa do qual menos gosto, o que não quer dizer que não tenha seus méritos (além da edição precisa e bela fotografia). Prova de que o filme está longe de ser uma unanimidade é o fato de ter sido indicado a cinco Globos de Ouro (Filme/Drama, diretor, ator/Drama, atriz coadjuvante/Bates e roteiro) mas somente Nicholson e Bates foram lembrados nas indicações ao Oscar. Mesmo assim, vale conferir.
As Confissões de Schmidt (About Schmidt/EUA-2002) de Alexander Payne com Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis e Dermot Mulroney. ☻☻☻
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