Lançado no final de 2010 em meia dúzia de salas brasileiras, o francês O Pequeno Nicolau conseguiu boa bilheteria por um motivo muito simples: é um filme que parece voltado para crianças e que não aborrece os adultos - especialmente por não ser protagonizado por algum marmanjo em decadência. Os méritos de O Pequeno Nicolau podem ser percebidos por pessoas de todas as idades (e não estou me referindo às suas qualidades técnicas fotografia, edição, figurinos, trilha sonora que são perfeitas). Criado em 1959 por Jean Jacques Sempé e René Goscinny (de Asterix), o filme mantém a caracterização da trama na década original e se beneficia em conservar o tom ingênuo das histórias do personagem popular na França. Outro grande trunfo do filme é o seu elenco infantil, o menino Maxime Godard interpreta Nicolau, mas todos os seus amiguinhos dão conta de personagens interessantes e de várias nuances que não deixam que caiam em estereótipos, afinal seus amigos possuem características que são comuns às crianças de qualquer época (e são apresentados com muito senso de humor logo no início da sessão enquanto Nicolau questiona a si mesmo qual profissão deverá seguir quando for adulto) e suas pequenas aventuras são saborosas de assistir. O roteiro assinado por Alain Chabat, Laurent Tirart e Grégoire Vigneron tem o mérito de ser simples e costurar algumas historinhas do personagem sem perder o fio da meada: a ameaça de um irmãozinho que está para chegar - ou pelo menos isso é o que Nicolau pensa, principalmente depois que um amigo da escola desaparece das aulas após o nascimento do irmão caçula (todos imaginam que os pais o abandonaram no bosque - e Nicolau não quer que isso aconteça com ele, ao ponto de cogitar contratar um gangster para sumir com o bebê). Se a ideia parece ameaçadora, a produção faz os personagens transmitirem tanta inocência que as trapalhadas em que se metem merece até o nosso perdão. Paralela às angústias de Nicolau contrasta a trama protagonizada por seus pais com as convenções sociais do mundo do trabalho (com destaque para a mãe interpretada por Valerie Lemercier), o que deixa ainda mais divertido ver as crianças recebendo a visita do Ministro da Educação, fazendo testes psicológicos, criando uma fórmula secreta de super-força ou tentando roubar um carro (repare que durante o filme as situações ficam mais estapafúrdias). Com as molecagens temperadas com nostalgia o filme é uma verdadeira pérola da cinematografia francesa dos últimos anos.
Nicolau e sua mãe: um mundo ingenuamente complicado.
O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas/França-2010) de Laurent Tirard com Maxime Godard, Valérie Lemercier, Kad Merad, Sandrine Kimberlain e Vincent Claude. ☻☻☻☻
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