Gael e Charlotte: uma cavalgada ao estilo Gondry.
Michel Gondry apesar de todas as suas modernices e aura cult é um diretor à moda antiga. Seus filmes, apesar de conter recursos visuais impressionantes contam com o gosto do diretor por poucos efeitos especiais e mais truques de câmera capazes de produzir um efeito surpreendente na tela. Foi assim na infinidade de clipes que dirigiu para nomes como White Stripes e Kylie Minogue, no longa Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) seu segundo e mais elogiado filme (que ainda lhe rendeu um Oscar pela colaboração no roteiro de Charlie Kauffman) e foi elevado à forma mais descarada em Rebobine Por Favor (2008). Entre um e outro o diretor criou Sonhando Acordado (2006) que é infinitamente seu filme mais difícil de assistir. Trata-se de um exercício de não tentar entender tudo o tempo inteiro e apenas mergulhar no universo do diretor. Se em Brilho ele lidava com o romance em meio às memórias, o foco agora está na relação de um homem com um caso amoroso entre sua dificuldade de perceber o que é sonho e realidade (e que se torna ainda mais grave quando tem que lidar com suas frustrações). Se o filme não contasse com um ator tão carismático quando Gael Garcia Bernal a coisa seria intragável, mas Gael consegue dar um tom ingênuo ao personagem que cai como uma luva às travessuras narrativas que o filme se propõe. Apesar de ser protagonizado por um mexicano, o filme é falado em francês e conta com famosos compatriotas de Gondry como Charlotte Gainsbourg e Alain Chabat. Charlotte interpreta o interesse amoroso do rapaz, ou melhor, a amiga da garota que ele estava interessado, mas que aos poucos conquista a simpatia dele e da plateia. Ainda que tenha momentos visuais surreais (a narração em formato de programa de TV, a cidade de papelão, a bandinha mais tosca da história, mãos gigantescas, água de papel celofane, nuvens de algodão, cavalos de pano e o uso da máquina de viajar no tempo) o filme conta uma historinha bem simples, ainda que não conte com um início, meio e fim bem amarrados. Gondry nunca foi de se preocupar muito com a narrativa que cresce em tensão ou desenvolvimento dos personagens (acho que Brilho Eterno foi uma exceção porque o texto de Kauffman não lhe deixava escolha, mesmo que embaralhasse os tempos), isso fica bem claro quando deixa em segundo plano os frangalhos amorosos de seu protagonista. Confuso, ainda que bobamente romântico, o filme ressalta que além do estilo único Gondry ainda tem o dom de exalar melancolia mesmo quando tudo tende para a comédia mais amalucada. É esse gosto meio agridoce que fica em nossa mente depois que assistimos ao filme e o tempero científico engraçadinho sobre os sonhos só aumenta esse sabor (estranho).
Sonhando Acordado (La science des rêves/ França-2006) de Michel Gondry com Gael García Bernal, Charlotte Gainsbourg, Alain Chabat e Miou Miou. ☻☻
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