quarta-feira, 5 de março de 2014

CATÁLOGO: CopLand

Liotta, Stallone e DeNiro: um policial contra todos?

Recentemente muitos críticos elegeram como esporte favorito comparar o trabalho de David O. Russell em Trapaça com a obra de Martin Scorsese. O próprio David afirmou que seu último filme era uma homenagem ao diretor de Os Bons Companheiros (1990) e Taxi Driver (1976) e, como ele, não percebo que seja um demérito você se inspirar na obra de outras pessoas, afinal, seria difícil dizer quem nunca usou como referência algo que já viu ou leu em algum lugar (Quentin Tarantino que o diga). O fato é que nos idos de 1997, outro filme evidenciava a inspiração no universo de Scorsese, era CopLand, o subestimado segundo filme de James Mangold. Revê-lo recentemente me fez pensar como seria a carreira do diretor (de filmes variados como Johny & June/2005, Garota Interrompida/1999 e... Wolverine Imortal/2013 ) se CopLand houvesse recebido toda a atenção que ele esperava. O longa sobre uma localidade habitada sobretudo por policiais era esperado como uma das grandes promessas de 1997, mas fracassou nas bilheterias e até os críticos se dividiram. O maior problema talvez seja a presença (alardeadíssima) de Sylvester Stallone gordo e num personagem bem diferente do que o público estava acostumado a vê-lo. Tratava-se de um excelente veículo para o ator renovar sua carreira, que já demonstrava sinais de cansaço, o problema é que ninguém pareceu entender muito bem o seu desempenho. De fato, Stallone não era a melhor escolha para viver o xerife Freddy Heflin, mas seria maldade dizer que o ator está ruim em cena. Sylvester faz um personagem preso à inércia de quem está preso para sempre no posto de xerife por conta da surdez em um dos ouvidos, provocada por um acidente. Para piorar, Heflin trabalha num subúrbio de Nova Jersey que foi concebido para dar aos policiais e seus familiares uma vida tranquila. Ou seja, seu trabalho seria zelar pela paz de seus colegas de trabalho, o que influencia diretamente a forma como ele lida com alguns acontecimentos que fogem do modelo de conduta que espera-se da população local. O roteiro de Mangold é visivelmente ambicioso, ao construir um acontecimento, aparentemente trivial, que gera desdobramentos que podem ser surpreender seu protagonista apático. Logo no início, um promissor jovem policial conhecido como Superboy (Michael Rapaport) se envolve na morte de dois jovens negros. Em meio à confusão acredita-se que ele se suicidou ao atirar-se da ponte onde houve o ocorrido. Para tornar a cena do crime mais nebulosa, seu tio policicial, Ray Donlan (Harvey Keitel), conta com a ajuda dos amigos policiais Jack Rucker (Robert Patrick), Joey Randone (o hoje diretor Peter Berg) e Gary Figgis (Ray Liotta). No entanto, o caso chama atenção do corregedor Moe Tilden (Robert DeNiro) que suspeita do envolvimento de Donlan e sua turma em casos de corrupção. Resta a Moe, fazer Heflin despertar para o que está acontecendo, mas o xerife se divide entre a vontade de fazer o que é certo e a pressão do corporativismo entre os colegas de profissão - é justamente nessa guinada que acho que Stallone poderia injetar um pouco mais de vigor no personagem. Mangold conduz seu filme com mão firme, criando um emaranhado noir moderno de grande tensão que explode no final. As situações se tornam cada vez mais suspeitas e mostram que existe um poder paralelo dentro da própria polícia local. Além do clima que parece sugado dos grande filmes policiais da década de 1970, acredito que não foi por acaso que o diretor escalou atores de filmes de Scorsese para o filme (Liota protagonizou Os Bons Companheiros e, tanto Keitel como DeNiro participaram de uma dezena de filmes do diretor... só faltou o Joe Pesci), além disso as situações violentas e pouco louváveis envolvendo policiais de Nova York (território favorito de Scorsese) também evidenciam como Mangold digeriu bem as referências das quais se apropria. CopLand pode não ter sido o sucesso e nem ter transformado seu diretor num autor renomado em Hollywood (no máximo se tornou uma espécie de operário padrão que faz qualquer coisa), mas merece ser visto pelo diretor em início de carreira que hoje continua bom com atores, mas que perdeu sua ousadia.

CopLand (EUA-1997) de James Mangold com Sylvester, Harvey Keitel, Ray Liotta, Robert Patrick, Robert DeNiro, Annabella Sciorra, Noah Emmerich, Peter Berg e Cathy Moriaty. ☻☻☻☻

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