Os pretendentes e Odile: simpática casa mal assombrada.
Enquanto a maioria das pessoas gosta de aproveitar o carnaval em meio a festas, desfiles, blocos e celebrações eu prefiro me esconder. Costumo ir para a cidade natal de minha mãe, buscando refúgio numa localidade onde nem lembro que é carnaval. Nada contra quem curte a agitação ao lado de amigos e parentes, mas eu prefiro aproveitar esses dias para sossegar para o ano que se inicia, de fato, depois desse período festivo. Nesse carnaval assisti poucos filmes, mas houve um que se eu assistisse em qualquer outro dia ele teria me chamado menos atenção. Cornouaille é um desses filmes franceses que são introspectivos e sem muita ação, mas que pode cativar o público que se identificar com o clima nostálgico da personagem que precisa tomar decisões importantes para o rumo que sua vida. Odile (Vanessa Paradis) está enrolada no relacionamento com Fabrice (Johanatan Zaccaï, do filme Les Revenants/2004), um homem casado que, por mais gente boa que pareça, não sabe muito bem o que quer. Eis que Odile precisa fazer uma viagem para uma província litoranea da França para se desfazer de uma casa que herdou da tia falecida. Daí em diante, o filme dirigido e escrito pela veterana atriz Anne Le Ny (que apareceu recentemente no sucesso Intocáveis/2012) se transforma num simpático filme de fantasmas. A tarefa que seria bastante simples se torna complicada quando Odile precisa lidar com as lembranças que habitam a casa - o que passa pelo dia do falecimento de seu pai, pelas brincadeiras com os primos (que poderiam aparecer um pouco mais na história) e com os amigos de infância, um deles é o simpático Loïc (Samuel Le Bihan) que acredita que foi dele o primeiro beijo da personagem. A certa altura um personagem diz que ela não sabe lidar com seus mortos e, portanto, não consegue se relacionar com os vivos. Essa parece ser a grande questão do filme. O roteiro trata de explorar como a personagem aos poucos começa a repensar sua forma de lidar com a vida (e a morte) e isso influencia na forma como age no mundo ao seu redor - e nesse processo a companhia de Loïc torna-se essencial (mesmo quando ela começa a suspeitar que ele é um fantasma e o roteiro consegue lidar de forma eficiente com a incerteza que paira sobre o mistério do personagem). Vale destacar ainda as conversas da personagem com o pai falecido e com os jovens vizinhos que cruzam seu caminho, que aproximam mais Odile das relações humanas. Outro ponto interessante da narrativa são os pesadelos de Odile, simples, mas reveladores, eles ajudam a pontuar momentos de mudança da personagem com alguma sutileza, especialmente quando ela suspeita de uma gravidez não planejada. Com belas paisagens e toques de humor, o filme não chega a ser inesquecível, mas serve para passar o tempo de forma eficiente e descompromissada. Não posso deixar de mencionar que Vanessa Paradis (famosa pela música Joe Le Taxi - que virou música de Angélica aqui no Brasil e por ter ficado casada por 14 anos com Johnny Depp) não está bonita no filme, mas consegue fazer de Odile uma personagem bastante palpável em suas angústias.
Cornouaille (França/2012) de Anne Le Ny com Vanessa Paradis, Samuel Le Bihan, Johnatan Zaccaï e Martin Jobert. ☻☻☻
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