Jared: 27 quilos a mais.
Perdi a conta de quantas vezes o crítico Rubens Ewald Filho repetiu que o maior problema do ator Jared Leto era ser "bonito demais". Esse mal é muito comum em atores com pinta de galã - é por isso que Brad Pitt tem hoje em sua estante um Oscar como produtor de 12 Anos de Escravidão/2013 e não como ator indicado ao prêmio três vezes. Jared teve mais sorte. Conheço Leto desde o seu trabalho na TV, especificamente quando acompanhei a ascensão de Claire Danes no seriado My So Called Life (que durou somente 19 episódios entre 1994 e 1995), onde ele interpretava o antológico garoto problema Jordan Catalano. Depois ele começou a fazer filmes, demonstrando grande atração para aqueles papéis que funcionavam como disfarce para sua estampa. Talvez o auge de sua transformação física tenha acontecido neste Capítulo 27 que, se não fosse pelo tema espinhoso, poderia ter feito mais sucesso nas premiações. O diretor estreante J.P. Schaefer demonstrou ter coragem para criar uma adaptação para o polêmico livro Let Me Take You Down (escrita por Jack Jones) que explora como funcionava a mente de Mark David Chapman, o fã que assassinou John Lennon na noite de 08 de dezembro de 1980. Nascido em 10 de maio de 1955, Chapman foi condenado à prisão perpétua e tornou-se uma das figuras mais odiadas da década de 1980 - o reflexo disso afetou a carreira do filme drasticamente. É verdade que o diretor bancou o espertinho ao escalar o esguio Jared para interpretar o personagem rechonchudo. Jared engordou bastante para dar conta do papel (e o filme explora vários ângulos de sua inédita pança que lhe causou alguns problemas de saúde na época), mas seria maldade restringir sua presença em cena aos quilos a mais. O ator consegue criar um personagem bastante estranho, da fala arrastada aos ataques de fúria, Jared mergulha com gosto nas ambiguidades do personagem que expressa sua loucura com algumas doses dissonantes de ternura. Fica claro que a mente de Chapman agia dentro de uma lógica própria, capaz de estabelecer relações entre o cineasta Roman Polanski, o louco Charles Mason e John Lennon numa agilidade assustadora. Seus pensamentos parecem moldados por uma leitura bastante particular da Bíblia e do clássico O Apanhador no Campo de Centeio de J.D. Salinger (o próprio título do filme é uma referência ao livro, que termina a narrativa no capítulo 26) e Jared constrói um personagem inquieto, ainda que sua aparência pudesse parece inofensiva. A produção funciona muito bem em seu ritmo soturnamente lento que segue Chapman em suas visitas à casa de Lennon, nas noites solitárias e os diálogos desarticulados com quem atravessava seu caminho. Sabiamente, o filme não se preocupa em criar suspense para o desfecho que todo mundo conhece. Seu foco é mesmo mostrar o funcionamento da mente doentia de seu personagem que aparece sob um passado nebuloso e já condenado a um futuro ainda mais sombrio. Ainda que evite o sensacionalismo em sua narrativa, o maior problema do filme está na fragilidade de exibir a guinada insana de Chapman que o transforma um fã de Lennon em assassino do próprio ídolo, mas penso que nem Freud conseguiria traduzir isso em imagens cinematográficas. No entanto, é preciso um bocado de coragem para fazer um longa sobre os mecanismos mentais de um personagem tão odiado. O filme acompanha os personagem nos três dias antes do crime, não tenta inocentar o personagem, nem o faz parecer alguém digno de culto, mas o exibe como uma pessoa de graves desajustes mentais (do tipo que imagina que uma assinatura na capa de um álbum fosse mudar sua vida) num clima deprimente. Carregando o filme nas costas, Leto tem companhia de um bom elenco de apoio (com destaque para Lindsay Lohan como uma fã de Lennon que percebe que alguma coisa está fora do lugar na mente de Chapman).
Capítulo 27 (Chapter 27/EUA-2007) de J.P. Schaeffer com Jared Leto, Linsay Lohan, Judah Friedlander. ☻☻☻
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