Mia, Nicole e Matthew: família esquisita.
Segredos de Sangue era um dos filmes que mais aguardei em 2013, talvez por isso tenha deixado um gosto de decepção. Nem me refiro ao longa ter passado em branco nos cinemas brasileiros, ou de sua bilheteria mundial ter sido modesta, o fato é que a expectativa gerada pela estreia do cineasta Chan-Wook Park em Hollywood (do badalado Oldboy/2003) pode ter prejudicado ao filme. Não que ele seja ruim, mas deixa a impressão que tem mais forma do que conteúdo. O diretor não poupa a plateia de cenas belamente construídas, ainda que seja dentro de uma atmosfera vampírica (potencializada ainda mais pelo nome original: Stoker - sobrenome da família do filme e do autor de Drácula). No entanto, o roteiro do ator Wentworth Miller (da série Prison Break em sua estreia como roteirista) funciona somente quando prefere manter escondido o que há na mente dos protagonistas, conforme revela os segredos a coisa fica cada vez mais previsível e desinteressante. Tudo gira em torno de India (Mia Wasikowska) que ainda tenta lidar com a morte do pai (Dermott Mulroney, com aquela pança que cada vez mais imagino ser real). A adolescente era muito próxima, mas com a morte dele seu melhor amigo passa a ser o piano - e sua maior motivação é descobrir quem lhe manda sempre o mesmo modelo de sapato todos os anos como presente de aniversário. Seu relacionamento com a mãe, Evelyn (Nicole Kidman) é distante - e a coisa piora quando as duas recebem a visita do tio Charlie (Matthew Goode). Charlie ficou longe por muito tempo por conta de suas viagens pela Europa, talvez por isso soe tão atraente para as duas mulheres tão acostumadas ao universo limitado da sombria casa onde vivem. É visível que existe um elegante clima de sedução entre os personagens, já que Charlie representa para Evelyn um novo começo e para India o começo de sua vida como adulta. No entanto, a visita de tia Gin (a ótima Jackie Weaver) mostra uma preocupação com a presença do misterioso Charlie tão perto das duas - e ela serve para mostrar do que Charlie é capaz para manter seus segredos intactos. Conforme o diretor desenvolve a tensão nesse núcleo familiar a coisa funciona bem, mas quando dedica-se a mostrar o que Charlie quer tanto esconder... o filme decepciona, nem mesmo os indícios de que India possa ter mais em comum com o tio do que a mãe supõe parece interessante. O problema pode estar no excesso de estilização proposta pelo diretor, que nunca parece aproximar os dilemas dos personagens da plateia ou até mesmo do segredo que revela-se quase banal já que, debaixo de tanta elaboração cênica, o que era para ser um "trunfo" revela-se semelhante a um monte de filmes que já vimos. É verdade que existe algumas ousadias (a cena de India no chuveiro, o close em Evelyn prestes a perecer...), mas o arremate do filme é bem menos interessante do que as promessas de seu início. Na trama sobre perda da inocência, o conflito entre mãe e filha (e a concepção anacrônica das personagens colabora bastante para isso) é mais interessante do que India descobrindo os genes que tem em comum com o tio. Deveríamos nos contentar com o visual de conto de fadas gótico? Acredito que não. Penso que Chan-Wook Park poderia fazer mais se desse mais atenção aos personagens (a cena final de India na beira da estrada ou Evelyn revelando seus sentimentos ruins com a maternidade soam abruptas e mal desenvolvidas) do que ao visual do filme.
Segredos de Sangue (Stoker/EUA-Reino Unido/ 2013) de Chan-Wook Park com Mia Wasikowska, Nicole Kidman, Matthew Goode e Jackie Weaver. ☻☻☻
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