Hannah e Emad: atitudes imprevisíveis.
A postura do presidente estadounidense Donald Trump perante a imigração rendeu um dos momentos mais falados do Oscar deste ano. Ao ser indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro por O Apartamento, o diretor iraniano Asghar Farhadi enviou uma carta para a Academia e a imprensa justificando que não estaria presente na cerimonia em solidariedade aos seus compatriotas que eram alvos de uma política governamental preconceituosa. O resultado foi que na noite do dia 26 de março seu filme foi o premiado na categoria em que concorria (desbancando o favorito Toni Erdmann da Alemanha) e mais uma carta contundente do diretor foi lida, só que desta vez, em rede mundial. É a segunda vez que Farhadi recebe um Oscar na categoria (a primeira foi o com o excelente A Separação/2011), o que comprova que seu estilo é uma aula de cinema e, especialmente, na construção de um roteiro. Para além do uso de luz, trabalho com atores, movimentos de câmera e edição caprichada, seus filmes são dramas que se constroem como verdadeiros suspenses psicológicos. Seus personagens são sempre pessoas comuns que diante de uma ação corriqueira desencadeiam uma série de acontecimentos que provocam mudanças inesperadas em suas vidas. Em O Apartamento não é diferente. O filme conta a história de Hannah (Taraneh Alidoosti) e Emad (Shahab Hosseini), um casal de atores que participam da montagem de A Morte do Caixeiro Viajante de Arthur Miller, mas o problema mesmo é que com o prédio onde vivem ameaçando ruir, os dois precisam se mudar às pressas para outro lugar. Eles vão parar num apartamento em que a a antiga inquilina ainda nem foi buscar os pertences e, aos poucos, descobrirão um pouco mais sobre ela - especialmente quando numa noite em que Hannah está sozinha em casa, um desconhecido entra no apartamento e ela vai parar no hospital. Se o ocorrido deixa Hannah com ferimentos físicos e psicológicos, Emad sente-se na obrigação de descobrir quem era o invasor, seja pelos indícios de que ele feriu o pé no local ou no veículo que o agressor esqueceu nas redondezas. No entanto, as surpresas serão constantes. Como de costume, Farhadi alimenta a tensão de seus personagens gradativamente, até o final onde o contexto social de todos explode e torna tudo imprevisível. Farhadi realiza alguns paralelos entre o seu texto e a obra de Arthur Miller e cria um desfecho que pode gerar polêmica mais pela compaixão de Hannah com a família do tal invansor do pela vingança iminente. Este é outro grande mérito do filme: confrontar as emoções do próprio espectador diante do que vê na tela. Por isso mesmo os filmes de Farhadi são cada vez mais necessários, já que apresentam para um mundo cada vez mais adepto aos radicalismos que as relações são bem mais complicadas do que a maioria das pessoas imagina.
O Apartamento (Fourshande/Irã-França/2016) de Asghar Farhadi com Shahab Hosseini, Tarahe Alidoosti e Babak Karimi. ☻☻☻☻
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