quinta-feira, 27 de abril de 2017

FILMED+: O que Terá Acontecido a Baby Jane?


Bette e Joan: duelo irresitível. 

Lembro de ter assistido O que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962) numa noite de sábado quando tinha uns quinze anos ao lado de minha irmãzinha de dez. Até hoje temos arrepios quando lembramos a história sobre o ódio entre as duas personagens, que confinadas na mesma casa discutiam suas angústias frente à fama, o isolamento e toda sorte (ou seria azar?) de ressentimentos que duas irmãs famosas poderiam guardar. Ainda que fosse um filme em preto e branco lançado na década em 1960, ele impressiona pelo seu tom moderno, o abuso dos planos fechados, os closes que não se preocupam em deixar as atrizes bonitas, os cortes precisos e o espetacular jogo de luz e sombra durante todo o filme. Para além de todo o capricho estético, havia um excelente trabalho na direção de atores, que deixava visível ao espectador todo ódio que que latejava no subterrâneo daquela relação (pouco) fraterna. Havia tantas camadas, sugestões e entrelinhas que só os melhores roteiros do cinema são capazes de gerar. Não deixa de ser curioso que o filme foi produzido pela Warner Bross como um autêntico filme B, afinal, ao basear-se no livro de Henry Farrell (e com a intenção de faturar sobre o sucesso de Psicose/1960 de Alfred Hitchcock), o filme surpreendeu ao estrear e se tornar um sucesso por ter personalidade própria ancorada no talento de duas estrelas renomadas: Joan Crawford e Bette Davis. Ambas andavam um tanto esquecidas em suas carreiras, as propostas de trabalhos interessantes não chegavam tanto quanto antes e o empenho de ambas para provarem o valor que ainda tinham perante o público é palpável em cada cena. É verdade que muito também se deve ao diretor Robert Aldrich, que percebeu no livro apresentado por Joan a oportunidade de deixar de ser apenas um operário da indústria para finalmente ser um autor. Embora nunca tenha sido reconhecido pelo Oscar, Aldrich é considerado por muitos um dos diretores mais inovadores da história de Hollywood, principalmente pelo que faz neste filme. Aldrich constrói uma tensão absurda e nos coloca nas entranhas da complicada relação entre Blanche Hudson (Joan Crawford) e Baby Jane Hudson (Bette Davis). Blanche era uma atriz famosa que por conta de um acidente tornar-se paraplégica e fica aos cuidados da irmã emocionalmente instável, Jane. Desde a primeira cena percebemos que existe algo de errado com Baby Jane, uma ex-atriz mirim que fico esquecida perante o talento da irmã. O que era um lar se torna um cativeiro e o que era cuidado se torna tortura psicológica. Crawford e Davis estão excepcionais em cada cena, mas Davis (indicada ao Oscar por sua atuação) consegue ainda mais atenção por criar uma personagem mentalmente perturbada (ou seria apenas cruel?) de visual simples, melancólico e muito assustador. Baby Jane fez tanto sucesso (e conseguiu cinco indicações ao Oscar) que é digno de culto até os dias atuais. Já gerou peças de teatro, uma refilmagem para a TV (com as irmãs Lynn e Vanessa Redgrave em 1991) e até uma série que revisita a conflituosa relação de suas estrelas (a excelente Feud/2017 com Jessica Lange e Susan Sarandon). O que Terá Acontecido a Baby Jane? é um clássico do cinema, que tem seu impacto sobre o expectador até hoje, basta ver e rever sua eficiência.

O que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane/EUA-1962) de Robert Aldrich com Joan Crawford, Bette Davis, Victor Buono e Anne Barton. ☻☻☻☻

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