Irvine (em destaque) e seus amigos: botando para quebrar.
Chega a ser engraçado que o diretor alemão Roland Emmerich sempre tenta escapar dos filmes catástrofe buscando filmes sérios para ser mais respeitado, disputar prêmios e geralmente é massacrado pela crítica e volta a fazer um filme em que destrói o mundo mais uma vez. Parece não ter jeito, existe uma espécie de estigma sobre o diretor que será difícil superar. Ele fez O Patriota (2000) e após ser ignorado nas premiações fez o sucesso O Dia Depois de Amanhã (2004). Depois ele investiu no massacrado Anônimo (2011) para depois criar um atentado à Casa Branca em O Ataque (2013)! Como ele não desiste nunca, fez este filme sobre a Rebelião de Stonewall, um marco para o movimento GLSBT (na época a sigla era bem menos complicada) e, após ser espinafrado mais uma vez, fez a continuação de seu sucesso mais destruidor: Independence Day II (2016). Apesar das críticas negativas, Stonewall não é um desastre. Ainda que deixe a desejar na contextualização do período histórico, o filme de Emmerich tem seus méritos no emaranhado de clichês que tem em mãos. O episódio de Stonewall já rendeu vários filmes, documentais ou fictícios, e já serviu até de título para CD do Renato Russo (quem não lembra de The Stonewall Celebration Concert?), afinal a rebelião ocorrida numa madrugada do dia 28 de junho de 1969 diante de uma ação policial em Nova York estava inserida dentro de um tempo onde as manifestações eram muito presentes nos Estados Unidos. Havia a luta pelos direitos civis dos negros, o movimento de contracultura e ações de protesto contra a Guerra do Vietnã. Vale lembrar que nesta época existiam várias ações de marginalização de homossexuais, seja a partir de programas educativos para inibir "a prática gay" e até ações truculentas da policia. Neste contexto, o filme aborda o bar Stonewall Inn como o point para gays marginalizados. Frequentado por drag queens, transgêneros, lésbicas masculinizadas, homens efeminados e garotos de programa, a realidade deste microuniverso nova-iorquino era um reduto para jovens que foram expulsos de casa e viviam muitas vezes nas ruas, sendo frequentemente presos e vítimas de toda forma de violência. O roteiro gira em torno de Danny Winters (Jeremy Irvine), jovem que é expulso de casa após descobrirem que mantinha relações sexuais com um amigo (Karl Glusman). Prestes a entrar para a faculdade, ele vê suas oportunidades em risco ao chegar em Nova York e viver nas ruas, até que encontra abrigo junto ao grupo de Ray (Jonny Beauchamp) que passa maus bocados perante a dura realidade que vivenciam. A jornada de Danny serve apenas para mostrar diferentes contextos destinados aos homossexuais (a marginalidade, a militância, uma vida gay heteronormativa...). É verdade que o início do filme é bastante artificial, que Danny e seus relacionamentos nunca se aprofundam como deveriam, mas o filme consegue ter alguns momentos que funcionam em pouco mais de duas horas de duração. Se o pouco conhecido Beauchamp exagera na caricatura, Jeremy Irvine segue o seu caminho na construção de personagens variados desde que ficou conhecido por sua atuação em Cavalo de Guerra/2011 de Spielberg, aqui ele já tinha vinte e cinco anos e ainda convence como adolescente. Dedicado aos anônimos que participaram da rebelião de Stonewall (e alguns dos personagens realmente existiram na vida real), o filme de Emmerich pode servir de ponto de partida para conhecer um pouco mais desta história verdadeira.
Stonewall - Onde o Orgulho Começou (Stonewall/EUA-2015) de Roland Emmerich com Jeremy Irvine, Carl Glusman, Jonny Beauchamp, Ron Perlman, Ben Sullivan, Caleb Landry Jones, Matt Craven e Jonathan Rhys Meyers. ☻☻☻
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