O náufrago e sua companheira: poesia em imagens belíssimas.
Recentemente a Academia que escolhe os indicados ao Oscar criou uma polêmica ao rever os seus critérios para indicações. Entre os pontos mais polêmicos estava a possibilidade de não apenas os votantes do departamento de animação escolher os indicados na categoria de Melhor Animação, agora o voto será aberto para todos os membros. Para quem entende do assunto, a medida realmente assusta, uma vez que compromete a visibilidade de filmes de distribuição restrita, que investem em uma estética diferenciada, mais próxima dos filmes de arte. Não deixa de ser curioso que a Academia crie essa resolução após deixar de fora animações americanas (de lobby poderoso) como Procurando Dory ou até A Festa da Salsicha para ceder espaço para os estrangeiros Minha Vida de Abobrinha e este A Tartaruga Vermelha. O filme de Michael Dudok de Wit, que já trabalhou no departamento de animação da Disney em Fantasia 2000 (1999), é de uma beleza ímpar ao trazer cenas que parecem verdadeiras pinturas para contar a saga de um náufrago que se vê isolado numa ilha após uma tempestade. Sem diálogos e com auxílio de uma bela trilha sonora, o filme segue os dias deste personagem, enfatizando suas tentativas frustradas de ir embora daquele lugar. Eis que uma tartaruga vermelha aparece em seu caminho e, por vezes, frustra seus planos. A partir daí, o filme que investia no realismo cede espaço para uma fábula lírica, sobre amor, família, isolamento e morte. O filme parece se inspirar na conhecida história das tartarugas sempre voltarem à mesma ilha para colocar seus ovos em segurança, ao mesmo tempo, ressalta a necessidade do convívio social para o ser humano. Ao longa da relação do homem com a tartaruga, temos além de surpresas, o deslumbramento com cada detalhe em cena. Os movimentos dos personagens são perfeitos a cada gesto, assim como as nuances da trilha sonora que envolvem o espectador a todo instante, promovendo uma experiência sensorial emocionante. Esta produção franco-belga-japonesa foi a única animação selecionada para a mostra oficial do Festival de Cannes no ano passado e chamou atenção pela forma singela com que conta sua história repleta de poesia e beleza. Um filme que nos faz lembrar o motivo do cinema ainda ser uma arte, uma pena que as novas medidas adotadas pela Academia podem afetar a indicação de produções semelhantes que recebem maior projeção justamente por ganharem espaço na maior premiação do cinema americano.
A Tartaruga Vermelha (La Tortue Rouge / França-Bélgica-Japão/2016) de Michael Dudok de Wit. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário