Murphy: tentando acender o Sol.
Pode ser por conta de minha carência de um ficção científica interessante na época, mas sempre achei o terceiro filme do casamento criativo entre Danny Boyle e o diretor Alex Garland o melhor da parceria. A ficção científica Sunshine pode ser vista como apenas mais um filme de astronauta com uma missão absurda (no caso, reacender o Sol com bomba atômica), mas fica muito mais interessante quando percebemos a concepção de futuro que aparece no filme. Dentro da nave Icarus II (só o nome já revela bastante do que se verá), um grupo de tripulantes criam um microcosmo social bastante interessante, não apenas por cada um ter a sua tarefa e ter seu poder de acordo com a tarefa que executam (basta perceber o que acontece com o especialista em comunicações numa nave que enfrenta problemas nessa área). Conforme os personagens avançam na jornada inevitáveis problemas aparecem, ainda mais diante do fracasso misterioso da missão anterior (com a malfadada Icarus I). Questões como o isolamento, a depressão e a pressão psicológica começam a interferir diretamente na relação dos personagens e, obviamente, na missão a ser cumprida. A tripulação é formada pelo físico Robert Capa (Cillian Murphy) - o responsável pela bomba e desde o início parece ter consciência de que sacrifícios serão necessários para a conclusão da missão -, o temperamental engenheiro Mace (Chris Evans, bem antes de ser o Capitão América), a piloto Cassie (Rose Byrne antes de se aventurar por comédias), a bióloga Corazon (Michelle Yeoh) responsável pelo "jardim de oxigênio da nave", Harvey (Troy Garritt) que é o responsável pela comunicação e segundo no comando, o psicólogo Searle (Cliff Curtis), o prodígio em informática Trey (Benedict Wong) e o capitão Kaneda (Hiroyushi Sanada). O elo entre os personagens se fragiliza cada vez mais após receberem o pedido de socorro da Icarus I, o que renderá uma série de problemas com a nave e a suspeita de que alguém está sabotando a missão. Além do viés científico e psicológico, Garland insere algumas questões religiosas no texto e ainda apela para o terror nos minutos finais (o que gerou algumas críticas ao filme), mas não perde de vista sua intenção de explorar as reações da humanidade diante do fim. Sunshine não perde tempo com piadinhas, possui uma estética que impressiona (especialmente pelo uso nos tons dourados), efeitos especiais competentes (que custaram uma ninharia) e ótimo elenco com a tarefa de contemplar o fim - seja diante do apocalipse, do suicídio, da loucura, do sacrifício ou da "necessidade". Com seu elenco globalizado (que às vezes parece ter nomes propositalmente trocados) e subtextos infinitos, Sunshine mostra-se uma ficção científica mais interessante a cada vez que se assiste.
Sunshine - Alerta Solar (Sunshine / Reino Unido - Estados Unidos / 2007) de Danny Boyle com Cillian Murphy, Cliff Curtis, Chris Evans, Michelle Yeoh, Rose Byrne, Hiroyushi Sanada, Mark Strong e Mark Strong. ☻☻☻☻☻
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