Luis, Oliver, Jose, Carlon, Kevin e Slam: meninos crescidos.
Em 1990 Madonna estava no topo da música pop e, para comemorar, ela lançou a turnê que revolucionaria os shows da música pop. Em Blonde Ambition Tour, calcado nas músicas dos álbuns Like a Prayer e I'm Breathless (que era a trilha do filme de sucesso Dick Tracy/1990), tudo era superlativo. Os figurinos de Jean Paul Gaultier, as coreografias estilizadas, os cenários grandiloquentes e, principalmente, as toneladas de sexualidade que exalava de cada detalhe. Não satisfeita com o que era feito nos palcos, Madonna fez questão de registrar a turnê num documentário que revelava na turnê. Entre polêmicas e muito marketing, o filme Na Cama com Madonna/1991 causou alvoroço desde a exibição no Festival de Cannes - e foi por muito tempo o documentário de documentário de maior sucesso comercial da história do cinema. O filme não apenas anabolizava o sucesso da cantora, como também tornou conhecida a sua trupe de dançarinos, que se tornaram celebridades da noite para o dia e serviam para enfatizar o discurso liberal do filme. Quase três décadas depois Reijer Zwaan e Ester Gould resolveram procurar os dançarinos que se tornaram fundamentais para a repercussão do filme e saber o que aconteceu com eles depois de todo aquele sucesso. Para não parecer um daqueles programas de "Por onde anda...", os cineastas ineriram a ideia num contexto muito maior, não apenas associando o sucesso do filme de 1991 com os inevitáveis ressentimentos como também à trajetória do movimento GLSBTI desde então. Ainda lembro de todo o escândalo que Na Cama com Madonna provocou por apresentar cenas de uma parada gay e beijo na boca entre dois homens. Hoje tudo pode parecer trivial, mas há vinte e sete anos atrás isso era mais revolucionário do que você imagina. Se o tempo passou até para Madonna (que completa 60 anos em 2018), com seus ex-parceiros de palco não seria diferente. Durante pouco mais de oitenta minutos de filme, os rapazes revisitam as lembranças daquele período e confessam que a vida desde a fama não foi fácil. Se alguns sonhos e ambições ficaram pelo caminho, o fantasma do HIV também sempre se mostrou presente para aquele grupo de rapazes entusiasmados. Para quem é fã ou curte a história da música pop é interessante ver que toda a febre da coreografia de Vogue se deve aos talentos de Luis Camacho e Jose Xtravaganza que depois de tentarem a vida como cantores seguiram caminhos distintos. Por outro lado, Carlton Wilborn e Salim "Slam" Gauwloos tem seus próprios fantasmas para lidar desde os anos 1990, assim como Oliver Crumes que teve um passado complicado com as drogas e problemas de saúde. A serenidade e saudosismo de Kevin serve para lembrar do processo movido por ele, Gabriel e Oliver contra a popstar. Strike a Pose resulta num trabalho que serve de contraponto para Na Cama com Madonna, que parecia acontecer numa realidade paralela, de homossexualidade "sem máscaras" e com glamour, já Strike a Pose revela que o choque do que o filme apresentava com o mundo real de três décadas atrás era inevitável. Entre acertos e tropeços próprios da vida, o filme desmitifica os dançarinos mais badalados da década de 1990 e os apresenta para além das fantasia, já que eles precisaram encontrar um caminho para sobreviverem depois do auge da fama. Provando que nem tudo são flores, a participação da cantora ficou apenas restrito às cenas de arquivo, já que a pendenga jurídica comprometeu o relacionamento com o grupo. Temos que admitir que a exposição na mídia depois de tanto tempo exigiu boa dose de coragem dos rapazes, hoje mais maduros e calejados com suas respectivas carreiras. Por tudo isso, Strike a Pose não deixa de ser um retrato de como um grupo de homossexuais (com exceção de Oliver, que é hétero) precisou encarar a vida nas últimas décadas.
Madonna: a trupe nos anos 1990.
Strike a Pose (Noruega-Bélgica/2016) de Ester Gould e Reijer Zwaan com Salim Gawlos, Luis Camacho, Jose Xtravaganza, Kevin Alexander Stea, Carlton Wilborn e Oliver Crumes. ☻☻☻
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