Spall, Rachel e Wilkinson: a teoria revisionista em foco.
As teorias revisionistas sobre o Holocausto devem estar entre as coisas mais estranhas da humanidade. Presentes na Academia entre pesquisadores das mais variadas áreas - e crescente em divulgação com o avanço da internet - as teorias caem como uma luva para amparar discursos antissemitas e neonazistas, afinal, tentam provar através de várias pesquisas que não houve o extermínio sistemático de judeus na Segunda Guerra Mundial a mando do governo nazista de Hitler. Com o século XXI apresentando uma parcela considerável da população que conhece pouco (ou nada) sobre a história dos direitos humanos, um filme como Negação ganha ainda mais importância. Indicado ao BAFTA de melhor filme britânico do ano passado, o longa é baseado numa história real que conta o embate entre o historiador David Irving e a professora universitária Deborah Lipstadt. Irving (vivido por Timothy Spall) ganhou fama com pesquisas e discurso jocoso sobre o holocausto, defendendo a tese de que Hitler nunca ordenou o extermínio de judeus e que as câmaras de gás nunca existiram. O embate entre os dois quase chega às vias de fato após a discussão durante uma palestra, mas Irving prefere mover uma ação judicial contra Deborah. Assim, ela terá que se retratar nos tribunais sobre em que se baseias para que ela acuse o trabalho do historiador de uma grande mentira. Ou seja, Irving exigiu que a professora provasse junto à corte do Reino Unido que o Holocausto realmente aconteceu. Deste ponto de partida, o diretor Mick Jackson (que não fazia um longa para o cinema desde 1994) mostra como foi construída a argumentação dos advogados de Lipstadt para provar algo que a maioria das pessoas considera uma verdade incontestável. No tribunal, o que vemos é uma aula de como desconstruir o discurso revisionista, como fatos são distorcidos e confundidos para que o que aconteceu de fato fique numa espécie de penumbra que favoreça interesses bastante específicos. Como era de se esperar, existem diálogos ótimos entre os atores, o que não impede que o texto do renomado David Hare tenha alguns tropeços. Para começar, ele tem uma enorme dificuldade em explicar como funciona o sistema judicial no Reino Unido e acaba largando o assunto pelo meio do caminho para não se complicar ainda mais. Mas isso não se compara à argumentação pífia de Irving no tribunal, talvez para não ser criticado, o filme cedeu pouco espaço para que o personagem defendesse suas ideias, o que faz parecer que seus trabalhos sejam menos ameaçadores do que realmente são. Essa abordagem simplista torna tudo ainda previsível - e um tanto tolo quando Lipstadt ainda tem dúvidas de qual será o veredicto. Se Irving tivesse mais espaço para argumentar, seu embate com Tom Wilkinson (que interpreta o astuto advogado de defesa da professora) seria ainda mais rico e interessante para o filme ao proporcionar o duelo entre dois grandes atores. Ainda que seja só metade do que promete, Negação é um dos poucos filmes que abordam um tema tão delicado na telona - e reforça ainda mais a necessidade de lembrar as atrocidades de que a humanidade é capaz de cometer (o que para os tempos atuais, não é pouco).
Negação (Denial / Reino Unido - EUA / 2016) de Mick Jackson com Rachel Weisz, Timothy Spall, Tom Wilkinson, Andrew Scott e Alex Jennings. ☻☻☻
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