Mooney: contaminado pela fantasia da fantasia.
Kyle Mooney atua desde 2007 e entre curtas e trabalhos para a televisão americana acabou sendo mais conhecido por seus trabalhos no cultuado Saturday Night Live desde 2013. Penso que este As Aventuras de Brigsby Bear foi sua tentativa de conquistar o cinema, tanto que escreveu para si um dos personagens mais curiosos do cinema recente. Mooney (ao lado do estreante Kevin Costello) criou a história de James, um rapaz que já passa dos trinta anos e que vive num bunker junto aos pais, Ted (Mark Hamill que está ótimo distante do Luke Skywalker de Star Wars) e April (Jane Adams) no meio do deserto. Ao que parece o mundo vive um cenário pós-apocalíptico e que só é permitido sair dos abrigos utilizando máscaras para não se contaminar com o ar tóxico. Criado isolado do resto do mundo, o passatempo do rapaz sempre foi assistir ao programa do urso Brigsby, um herói de ficção-científica (em tramas um tanto rebuscadas) em forma de bicho de pelúcia gigante. Eis que um belo dia tudo muda e o protagonista percebe que sua vida era uma grande mentira. Revelarei o mínimo possível do filme para que você não perca as surpresas da história. O longa surpreende não apenas pela sua temática, mas pelo tom humanista da sessão. Diante de sua nova realidade, James terá que aprender a viver de um mundo diferente, convivendo com uma nova família e amigos, uma realidade bem mais complexa a que estava acostumado. Entre conflitos e o acompanhamento de uma psicóloga (vivida por Claire Danes) a maior preocupação dele é o novo episódio do urso Brigsby, um programa que ninguém conhece, só ele. Aos poucos, problemas ainda mais complicados começam a atravessar a vida do pacato James - incluindo problemas com leis que ainda não está acostumado. O roteiro do filme até que poderia aprofundar mais alguns pontos da história, mas não chega a incomodar a forma como apresenta a angústia do personagem para se encaixar num novo mundo, que aos poucos começa a se mostrar bem menos interessante do que se imagina - e lhe instiga somente a indiferença. É interessante como o roteiro apresenta a fantasia do personagem como uma fuga para uma história pessoal complicada - e se torna ainda melhor pela forma como os personagens abraçam a ideia. Kyle Mooney se sai muito bem como um homem crescido que ainda tem um pensamento infanto-juvenil e capricha num roteiro que traz "conselhos" inusitados de um bicho de pelúcia. Essa mistura de ficção científica com nonsense e um certo besteirol torna o filme um tanto imprevisível, misturando aspectos de O Show de Truman/1998 (com relação a um menino que cresce num mundo a parte) e A Garota Ideal/2007 (na medida em que os demais abraçam a fantasia do protagonista). Divertido, comovente e um tantinho subversivo, As Aventuras de Brigsby Bear tem uma habilidade rara de tratar com leveza alguns temas complicados, por isso mesmo foi indicado ao prêmio de Diretor Revelação no Festival de Cannes (para Dave McCary) e ganhou o prêmio do Júri em Sundance no ano passado. Inédito nos cinemas daqui, está esquecido em serviços VOD desde o início deste ano.
As Aventuras de Brigsby Bear (Brigsby Bear/EUA-2017) de Dave McCary com Kyle Mooney, Mark Hamill, Jane Adams, Greg Kinnear, Matt Walsh, Claire Danes, Michaela Watkins, Ryan Simpkins, Jorge Lendeborg Jr. e Andy Samberg. ☻☻☻☻
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