Javier: personagens da vida real.
Álvaro (Javier Gutiérrez) trabalha em uma repartição pública há tempos, mas tem vontade mesmo é de se tornar um escritor reconhecido. Não se trata de escrever um livro que venda milhões de cópias e que se torne um best-seller, trata-se de algo muito mais ambicioso e complicado: ele quer ser reconhecido por sua qualidade literária. Para alcançar este objetivo ele frequenta um curso de escritores há três anos, mas nunca chama atenção do professor, Juan (Antoino de La Torre), que considera suas histórias desinteressantes e sem alma (e desculpe se houver alguma redundância nisto). Para piorar, a esposa de Álvaro acaba de ser reconhecida como escritora ao escrever um verdadeiro sucesso editorial - cuja história ele despreza profundamente. Diante de uma guinada involuntária em sua vida, Álvaro irá investir em sua carreira de escritor, irá se mudar para outro lugar e se dedicar à uma obra capaz de trazê-lo reconhecimento mundial! O problema é que lhe falta inspiração para tanto, ou, pelo menos, faltava até que ele comece a perceber em seus novos vizinhos o material necessário para construir uma história envolvente. Assim, ele começa a ter mais contato com a síndica do prédio (Adelfa Calvo), com o casal de vizinhos estrangeiros (Adriana Paz e Tenoch Huerta) e um senhor que precisa de um novo parceiro para jogar xadrez (Alfonso González), o problema é que fazendo uma descoberta aqui, xeretando um pouco ali, Álvaro começa a manipular seus vizinhos para que diante das ações deles ele construa o seu livro. É pela imprevisibilidade dos personagens que o roteiro se move de forma interessante, criando suspense, romance, humor e um certo drama numa verdadeira brincadeira sobre o processo criativo. O diretor Manuel Martín Cuenca filma bem e tem ideias visuais que torna o filme interessante visualmente, seja utilizando as sombras de um casal na parede (que pode parecer uma alusão à Caverna de Platão ou uma inspiração cinematográfica em Janela Indiscreta/1954 de Hitchcock) ou até mesmo inventando cenas de nudez pouco glamourosas. Quanto ao trabalho com atores, todos estão bem em cena, especialmente Javier Gutiérrez que constrói um protagonista bastante interessante, que transita pelos personagens como uma espécie de fantasma alimentado por suas histórias - mas que não faz a mínima ideia dos caminhos pelos quais seus personagens seguirão. Pelo bom trabalho, o ator ganhou o prêmio Goya (o Oscar espanhol) de melhor ator - e sua parceira Adelfa Calvo, levou para a casa o de atriz coadjuvante pela outra atuação que se destaca no filme. É verdade que em alguns momentos o filme derrapa ao insistir em usar o rancor do protagonista por sua esposa de forma superficial, mas a forma envolvente como a história é construída faz do filme uma obra bastante interessante.
O Autor (El Autor/ Espanha-México) de Manuel Martín Cuenca com Javier Gutiérrez, Adelfa Calvo, Adriana Paz, Antonio de La Torre e Tenoch Huerta. ☻☻☻☻
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