Stallone: o homem e o paradigma de si mesmo. |
Acho que é justo dizer que Sylvester Stallone é mais do que um astro de Hollywood, ele se tornou um ícone ao longo da carreira, na verdade se tornou um paradigma. Seu corpo ultramalhado se tornou uma referência para os filmes de ação e sua carreira deixou claro que o astro do gênero merecia respeito pelos milhões que era capaz de movimentar na indústria (tanto na produção quanto nas bilheterias). Porém, o documentário Sly em cartaz na Netflix pretende mais do que ressaltar o óbvio sobre a carreira deste senhor de 77 anos de vida e 54 de carreira. A narrativa é costurada por entrevistas, imagens de arquivos, cenas de filmes e vídeos antigos para construir um resumo sobre a trajetória do artista e toma algumas decisões bastante interessantes. A principal delas é contar a carreira do artista a partir dos dois marcos referenciais de sua carreira: Rocky e Rambo. Dois personagens que fizeram história no cinema e geraram inúmeros filmes, que possuem a violência presente em suas trajetórias e certa vulnerabilidade por conta de suas histórias pessoais. É evidente como os dois personagens se tornaram marcas na indústria cinematográfica, assim como deixam seu intérprete orgulhoso, mas gerou ao mesmo tempo uma verdadeira prisão para ele. Ele percebeu isso logo depois do sucesso de Rocky - O Lutador (1976), que levou o Oscar de melhor filme daquele ano e rendeu ao ator sua primeira indicação ao Oscar (a segunda viria trinta anos depois pelo mesmo personagem sendo coadjuvante em Creed/2015). Stallone queria ser levado a sério e acabou mergulhando em projetos que sua legião de fãs não estava muito interessada em assistir até que ele percebeu que seu talento físico encontrava melhor abrigo em filme de ação, com muito tiro, socos e explosões. Foi assim que sua carreira seguiu por muito tempo e lhe trouxe muito dinheiro, mas também algumas frustrações, basta ver o tom melancólico como o filme aborda sua participação em Copland (1997), que ele acreditava que mudaria o olhar das pessoas sobre ele, mas que não chegou a tanto, embora Stallone esteja bastante digno na produção. Outro ponto bem trabalhado no filme é a forma como Sly encontrou na escrita seu alicerce para se impor em Hollywood, afinal, foram suas ideias para roteiros que lhe abriram as portas e proporcionaram que Rocky se tornasse o sucesso que foi. Com relação à vida familiar o filme é bastante discreto sobre sua esposa e filhos, mas, emerge daí o personagem coadjuvante mais instigante da trama: Frank Stallone. Frank era o pai de Sylvester e a relação entre os dois é digna de um desses filmes pesados sobre pai e filho. O filme apresenta situações inacreditáveis entre os dois, com direito até a um plágio escrito pelo pai que queria fazer mais sucesso que o filho, além de recordações de violência física e verbal. Um relacionamento complicado que o deixa bastante vulnerável ao recordar e que acrescenta muito sobre sua imagem construída com base na ideia de força e vigor (sorte que em família, o ator parece ser um sujeito sossegado com a esposa e os filhos). Obviamente que o documentário não deixaria de fora Os Mercenários (2010) outra franquia milionária saída da cabeça de um Stallone maduro e envelhecido que demonstra ciência do que ele representa hoje em Hollywood. Sly é um documentário interessante, que não se desvia dos tropeços do seu artista retratado e surpreende ao retratar a pessoa por trás da fama, alcançando um resultado que merece ser visto.
Sly (EUA-2022) de Thom Zimny com Sylvester Stallone, Frank Stallone Jr., Quentin Tarantino, Arnold Schwarzenegger, Talia Shire, Henry Winkler e Wesley Morris. ☻☻☻
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