quinta-feira, 30 de novembro de 2023

PL►Y: O Baile dos 41

 
Os 42: escândalo mexicano.

Faz tempo que no México o número 41 é visto como uma alusão à homossexualidade masculina. O motivo está em um famigerado baile que contou com 42 homens na noite de 17 de novembro de 1901 na Cidade do México. Grande parte dos envolvidos fazia parte da elite local e metade se encontrava vestida de mulher durante a ocasião. Na verdade, os bailes já eram rotina na vida daqueles homens, muitos mantinham uma vida de aparências fora dali e aproveitavam para vivenciar naquele espaço um tipo de comportamento que não lhes era permitido no dia a dia. As festas eram secretas e aconteciam num casarão perto do Palácio Nacional, a residência do presidente. Os policiais invadiram a mansão em que o encontro era realizado e, não fosse um que conseguiu escapar, a polícia teria prendido todos. Aos que foram levados para a prisão restou a exposição, a humilhação e a ridicularização perante a sociedade da época. O filme dirigido por David Pablos conseguiu alguma repercussão ao contar essa história e abraçar a história que o quadragésimo segundo participante era na verdade o genro do presidente Porfírio Diaz. Historicamente a trama fica ainda mais interessante quando nos damos conta de que a homossexualidade nunca foi considerada  crime no México, sendo uma postura muito mais ancorada na moral e nos bons costumes no preconceito do que em qualquer suspeita de um crime ter sido cometido. Ainda assim, o escárnio seguiu com músicas com zombarias e gravuras publicadas nos jornais locais. Pura homofobia. Quem tinha dinheiro conseguiu se livrar das punições, os rapazes de origem mais humilde foram mandados para a Guerra das Castas que era travada no sudeste do país e morreram no esquecimento. Diante de um material tão explosivo, eu considerava que o filme O Baile dos 41 seria um verdadeiro achado. Não é bem assim. O cineasta David Pablos faz um filme com o maior jeito de novela mexicana, com planos e enquadramentos que parecem saídos de um melodrama pouco inspirado. Obviamente que o destaque na história fica por conta do genro do presidente, Ignacio de la Torre (Alfonso Herrera) que começa a frequentar os bailes e se apaixona por um outro homem (Emiliano Zurita) e o filme gira em torno disso soando maior do que sua duração de pouco mais de noventa minutos. O capricho visual de Pablos aparece mesmo nos vestidos utilizados pelos participantes do baile e algumas cenas mais apimentadas que criam um contraste com o tom quadradinho do resto do filme - o que só demonstra como o filme possui uma narrativa irregular.  O mais interessante é que nada prepara o espectador para a triste cena final de ridicularização total do personagens que foram obrigados a varrer as ruas usando os vestidos utilizados no baile sob os gritos de uma multidão histérica. Ainda que seja um filme com problemas, o resgate desta história real merece atenção por abordar homens que precisaram construir um mundo paralelo para conseguir viver suas verdadeiras identidades. 

O Baile dos 41 (El Baile de los 41 / México - 2020) de David Pablos com Alfonso Herrera, Emiliano Zurita, Mabel Cadena, Fernando Becerril, Rodrigo Virago, Roberto Duarte e Álvaro Guerrero. ☻☻

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