Jodie e Annette: dupla de ouro. |
Nyad, na mitologia, significa "ninfa das águas" e enquanto se assiste ao filme homônimo em cartaz na Netflix, o espectador escuta isso tantas vezes que jamais esquecerá. Imagino quantas vezes a nadadora Diana Nyad ouviu isso ao longo de sua vida e, o que era poético, acabou lhe atribuindo um peso que talvez o pai dela nem imaginasse. Pois Diana tinha um sonho, cruzar a nado os 160 quilômetros entre Cuba e a Flórida. Ela tentou a proeza aos trinta anos e amargou o sabor do fracasso. Trinta anos depois, aos sessenta anos, ela decide retomar o desafio, que agora além das condições climáticas e seres marinhos para atrapalhar, agora também existem as condições físicas próprias da idade. Obviamente que não foi uma tarefa fácil e demandou várias tentativas, sendo justamente este trajeto que interessou os diretores Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin pela história. A dupla é conhecida por seus documentários, especialmente por Free Solo (2018), que lhes rendeu o Oscar de melhor documentário. Durante a projeção de Nyad, eles fazem questão de utilizar cenas de arquivo para ilustrar a vida real da personagem. Parece confuso, mas funciona muito bem durante a narrativa e torna tudo bastante envolvente para o espectador. Mais do que um filme sobre "nunca desistir do seu sonho", trata-se de um filme sobre superação, que amplia sua mensagem em tempos em que o etarismo está em discussão, além de ressaltar a importância do trabalho em equipe e, sobretudo da amizade. Este último ponto fica por conta dos excepcionais trabalhos de Annette Bening e Jodie Foster. Annette vive Nyad com todas as camadas que você possa imaginar, existe ali a mulher vigorosa capaz de convencer o mundo com sua energia de que será capaz de realizar a tal travessia, mas também existe a mulher um tanto cheia de si que não percebe que existem alguns fatores que não estão sob seu controle para que a coisa saia como o esperado. A impressão é que a coisa toda funciona somente quando Nyad entende que seu sonho depende não apenas de sua competência, mas da soma de saberes do grupo que está ao seu redor. Ajuda muito o fato do roteiro ter uma dose considerável de bom humor e uma energia positiva que faz tempo não vejo em um filme. Talvez digam que é um feel good movie e não vejo problema nenhum nisso. Existe no roteiro um contraste tão bem trabalhado entre as Nyad e sua melhor amiga treinadora Bonnie (Foster) que elas parecem realmente complementares na vida uma da outra. Soa como uma história de amor entre duas amigas. Jodie está espetacular, em um papel bastante diferente dos tipos densos a que estamos acostumados a vê-la interpretar. Ela está leve e solar, num trabalho tão espontâneo que somente alguém que sabe exatamente o que está fazendo seria capaz de dar conta. Não por acaso as duas já estão cotadas para as premiações de melhor atriz e atriz coadjuvante. Falando nisso, a certa altura, vendo Diana nadando, nadando, nadando... enfrentando verdadeiros monstros marinhos, tempestades, surgindo queimada, inchada, quase inconsciente e sempre decidida a alcançar seu objetivo, eu parei de ver a Diana e vi Annette, uma grande atriz, indicada ao Oscar quatro vezes e derrotada em todas (ela já merecia ter ao menos duas, uma de coadjuvante por Os Imorais/1990 e outra pelo colosso Beleza Americana/1999). Imaginei até a atriz utilizando frases de Nyad em seu discurso de agradecimento, caso a quinta indicação finalmente vingue. No entanto, voltando ao filme, o filme perde um bocado de ritmo na reta final e torna-se um tanto cansativo, justamente quando o conhecido desfecho se aproxima. No entanto, as duas atrizes permanecem no pique para manter o espectador na torcida. Courage!
Nyad (EUA-2023) de Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin com Annette Bening, Jodie Foster, Rhys Ifans, Eric T. Miller e Luke Cosgrove. ☻☻☻☻
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