Elliot Croesset Hove: a história de seis fotografias. |
Terminando nosso #FimDeSemana com filmes que disputam uma vaga no páreo de Melhor Filme Internacional no ano que vem, temos um filme que entrou em cartaz em pouquíssimas salas durante o ano e que agora está disponível no serviço de streaming da Filmicca. Terra de Deus é o filme selecionado pela Islândia para ter chances no Oscar do Tio Sam e é um dos filmes que se estivesse na disputa nos anos 1980 ou 1990 ficaria fácil entre os cinco selecionados, com as mudanças que a Academia atravessou nos últimos anos ele pode perder espaço para filmes mais moderninhos. O diretor islandês Hlynur Pálmason faz um filmão à moda antiga, com muitos planos abertos (que valorizam ainda mais as inacreditáveis paisagens islandesas) e ritmo lento, o que pode tornar a produção um tanto árdua para aqueles que gostam de cenas de ação e montagem de cortes rápidos. O longa é contemplativo mesmo, gosta de expor as cenas sem pressa e se estende por duas horas e vinte minutos. No entanto, a trajetória do padre Lucas (Elliott Crosset Hove) prende atenção pela forma bem construída com que o diretor apresenta os momentos em que a fé do rapaz é posta à prova em sua missão de fundar uma igreja nos cafundós da Islândia no final do século XIX. Lucas é dinamarquês e parte em uma árdua jornada para chegar ao seu destino. A distância, as paisagens e os obstáculos naturais tudo o faz repensar se vale realmente à pena seguir seus votos, por vezes suas orações é quase um pedido de desculpas a Deus por não dar conta da missão que lhe foi confiada. O que ajuda a passar o tempo é sua paixão pela fotografia. Diferente dos dias atuais, naquele tempo uma fotografia era um artefato raro e exigia muita destreza de quem fosse realizá-la. O registro exigia imobilidade absoluta e a revelação era feita de forma precária, assim, não era raro estragar o registro tão trabalhoso. A fonte de inspiração do próprio filme é a fotografia, já que a trama foi escrita pelo diretor a partir de seis fotografias datadas do final do século XIX encontradas enterradas em uma caixa em um lugar remoto de seus país. A partir delas, a imaginação do roteiro coloca o bom moço Lucas em situações que testam não apenas a sua religiosidade, mas também sua ética, moral e valores. Se o caminho é difícil, a coisa não melhora muito quando chega ao seu destino e precisa lidar com as pessoas que o cerca, as interações humanas começam a parecer um prato cheio para pecar, seja por amor ou ódio, nesse aspecto personagens como o velho Ragnar (Ingvar Sigurðsson), o anfitrião Carl (Jacob Hauberg Lohmann), sua filha Anna (Vic Carmen Sonne), a caçula Ida (Ída Mekkín Hlynsdóttir) e até o tradutor (Hilmar Guðjónsson) parecem obstáculos para a santidade do jovem padre. Não é por acaso que a natureza no filme surge tão bela quanto assustadora em sua amplitude, seja nas enormes cachoeiras, nos desfiladeiros gigantes, na chuva, na lama, na lava fétida da região, no rio revolto, diante de tanta grandiosidade os personagens sempre parecem pequenos a mercê de seus caprichos (incluindo os da própria natureza humana). Terra de Deus é um belo filme sobre o homem em conflito diante da fé, que aqui é colocada à prova sem sensacionalismos. Exibido com elogios no Festival de Cannes do ano passado, o longa metragem pode surpreender ao render uma indicação para a Islândia, algo que não acontece desde 1992, quando entrou no páreo com Filhos da Natureza. Se em 2022 o folk horror de Lamb chegou perto, quem sabe uma vibe mais clássica encanta a Academia?
Terra de Deus (Vanskabte land / Dinamarca - Islândia /2022) de Hlynur Pálmason com Elliott Crosset Hove, Ingvar Sigurðsson, Hilmar Guðjónsson, Vic Carmen Sonne, Jacob Hauberg Lohmann e Ída Mekkín Hlynsdóttir. ☻☻☻☻
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