Daniela e Reinaldo: relação explosiva. |
Eva (Daniela Marín Navarro) é uma adolescente de 16 anos que mora com a mãe, a irmã mais nova e um gato temperamental. Apesar da mãe fazer o possível para manter um estilo de vida confortável para as filhas, Eva deseja cada vez mais morar com o pai que deixou a família faz algum tempo. O pai, Martín (Reinaldo Amien) ainda não encontrou um lugar para chamar de seu e vive atualmente de favor na casa de um amigo, ex-parceiro de banda, chamado Pombo (José Pablo Segreda Johanning). Eva nem se importa com isso e tenta ajudar o pai a arranjar um apartamento com dois quartos para que possam finalmente viver juntos. Entre as idas e vindas entre a casa da mãe e os dias com o pai, Eva tenta encontrar o seu espaço enquanto lida com as suas inseguranças e os hormônios da adolescência. Tenho Sonhos Elétricos é o filme selecionado pela Costa Rica para disputar uma vaga na disputa de Melhor Filme Internacional no próximo Oscar. O país apostou em um tipo de história que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, mas que não foge muito do que já vimos várias vezes em tramas sobre ritos de passagem. O que o faz fugir do lugar comum é o tom impresso pela diretora e roteirista Valentina Maurel que, em seu primeiro longa-metragem, demonstra bastante segurança e habilidade para imprimir sinceridade em cada cena, seja a mais sensível até a mais bruta. Bruta porque de início não sabemos o motivo do pai não conviver mais com a família, mas existem algumas falas aqui e ali que sugerem o que possa ter acontecido. Depois surgem algumas ações e... melhor parar por aqui. Embora o roteiro invista em situações bastante comuns a esse tipo de filme ( como o pai perdido e a filha que parece mais responsável que ele, a mãe que vez por outra perde as estribeiras, o bicho de estimação que ninguém quer...), o filme surpreende mesmo que quando apresenta aquelas cenas sentidas como um verdadeiro soco no estômago. Confesso que fiquei bastante impressionado com o trabalho da protagonista Daniela Marín Navarro, que quase não diz o que se passa na cabeça da personagem, mas que consegue externalizar cada pensamento com o olhar ou um gesto, seja naquele flerte desengonçado com um homem mais velho ou quando contem a raiva (deixando as bochechas vermelhas) naquele maldito elevador. Maurel não enfeita seu filme, o faz de forma direta, seca e um tanto crua, sem glamourizar situações ou locações. As casas que servem de cenário soam bastante realistas e até o uso do gato arranhando qualquer um que atravesse seu caminho funciona como uma metáfora bastante interessante a situação de toda aquela família. Tanta sinceridade faz Tenho Sonhos Elétricos ter algo de biográfico. O filme está em cartaz na MUBI e embora tenha poucas chances no Oscar2024 pode ser um programa interessante para quem gosta de produções sobre famílias disfuncionais.
Tenho Sonhos Elétricos (Tengo Sueños Eléctricos / Costa Rica - 2022) de Valentina Maurel com Daniela Marín Navarro, Reinaldo Amien, José Pablo Segreda Johanning, Vivian Rodriguez, Adriana Castro García e Mayté Ortega Floris. ☻☻☻
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