Luca e Borghi: amizade reatada ao longo do tempo. |
Pietro (Lupo Barbiero) é um garoto da cidade que costuma passar as férias nos arredores dos Alpes Italianos. O pai (Filippo Timi) gosta da sensação de tranquilidade que aquela localidade proporciona e conseguiu transmitir isso ao filho. Longe da correria e do concreto da cidade grande, aquele recanto parece um verdadeiro paraíso para o menino. Não bastasse a beleza e a tranquilidade que aquele lugar inspira, Pietro fez um amigo que sempre reencontra nas férias, Bruno (Cristino Sassella), que tem a mesma idade dele, embora seja mais crescido. A realidade de ambos é visivelmente diferente, enquanto a maior preocupação de Pietro é estudar, a de seu amigo é ajudar o pai a ordenhar as vacas e cuidar de outras responsabilidades rurais. Os dois meninos aproveitam o tempo que tem juntos para brincar e se tornam inseparáveis, pelo menos até que os dois acabam perdendo o contato e se reencontram muito tempo depois, quando já são adolescentes, mas não chegam a se falar. Eles vão reatar o laço que construíram na infância com o falecimento do pai de Pietro e a herança de uma casa, no meio das montanhas a que Bruno se comprometeu com o falecido a restaurar. No entanto, os dois amigos fazem uma promessa um ao outro: a propriedade será de ambos. Talvez por conta dessa premissa, alguns apressados compararam o filme a Brokeback Mountain (2005), mas tenho dificuldades de ver algo de sexual entre os dois personagens. Eles são amigos, ou como o roteiro prefere armar, irmãos. O pai de Pietro teve participação importante na formação de Bruno o que amplia ainda mais a relação de afeto entre ambos e o local herdado. No entanto, os dois agora são adultos e suas personalidades se tornaram distintas, assim como suas vidas. Pietro (agora vivido por Luca Marinelli) se tornou um rapaz sem raízes, que gosta de viajar e conhecer o mundo, sem ter um paradeiro fixo. Não chegou a se formar ou construir uma carreira, mas ao que tudo indica, consegue viver bem - provavelmente por conta do que herdou do pai falecido. Já Bruno precisou estudar fora da cidade em que nasceu e sonha em ter uma pequena fazenda e produzir queijo. Enquanto Bruno finca raízes no lugar em que nasceu, Pietro continuará em suas andanças e aparecendo de vez em quando. As Oito Montanhas é praticamente isso, o registro da amizade de dois garotos crescidos e os caminhos paralelos que escolheram. Por baixo de toda simplicidade existe algo um tanto mais complicado, afinal, por mais que os dois sejam próximos e se preocupem um com o outro, um não pode transferir ao outro o que o outro precisa. É neste ponto sutil que perpassa a narrativa que se ampara o desfecho até chocante do filme. Feito de forma hipnótica pela dupla belga Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch, o filme está longe de ter a energia explosiva de Alabama Monroe (2012), o filme mais famoso da dupla e indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, mas consegue transportar o espectador para dentro de sua história com o privilégio de ter cenários incríveis valorizados pela fotografia espetacular. O texto é bastante correto em sua base no livro de Paolo Cognetti que ganhou o Prêmio Strega (o mais prestigiado da Itália em 2016) deixando sua verve literária bastante evidente, mas na tela tudo fica de pé graças ao entrosamento de Luca Marinelli e Alessandro Borghi que estão muito convincentes como amigos de uma vida toda. O filme teve uma rápida passagem pelos cinemas brasileiros e já está disponível na Reverva Imovision.
As Oito Montanhas (Le Otto Montagne / Itália - França - Bélgica - Reino Unido / 2022) de Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch com Luca Marinelli, Alessandro Borghi, Fillipo Timi, FRancesca Guasti, Chiara Jorrioz, Gualtiero Burzi. ☻☻☻
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