Alexander: busca de inspiração na perda de identidade. |
Faz uns seis anos que James Foster (Alexander Skarsgård) lançou seu primeiro livro e não encontrou sucesso, nem de público, nem de crítica. Ele ainda quer ser escritor, mas está sem inspiração. Ele convence então a esposa rica, Em (Cleopatra Coleman) de passar uns dias num resort em um país afastado, muito pobre e de leis bastante rígidas. Hospedados na ilha de La Tolqa com praias magníficas, a situação econômica dos moradores contrasta com a riqueza dos visitantes, tanto que o turismo se tornou a principal fonte de renda do país (enquanto os turistas de tornaram alvo do ódio dos moradores). No resort, James chama atenção de outro casal de turistas, especialmente de Gabi Bauer (Mia Goth) que se apresenta como uma das poucas fãs de seus livro e que ganha a vida como atriz de comerciais (ou "vendedora de produtos para fracassados") isso basta para que os dois casais se tornem amigos e se aventurem para fora da segurança do hotel. Eis que acontece um acidente e James irá conhecer não apenas as leis do país como também as estratégias utilizadas pela justiça do lugar para equilibrar as tradições locais com os rendimentos deixados pelos turistas. Acontece que a experiência irá mexer bastante com a cabeça de James que, graças a um grupo de ricaços que passam férias todo ano por lá, logo irá realizar outras contravenções com a ideia de que com o dinheiro é capaz de se safar de qualquer coisa. Este primo hardcore da série White Lotus é o novo filme do canadense Brandon Cronenberg, que mais uma vez honra o sobrenome de seu pai (David Cronenberg) com um suspense com doses de terror digno de nota. Aqui ele alcança a melhor fluência narrativa de toda a sua carreira e, assim como Antiviral (2012) e Possessor (2020) envereda pelas bizarrices de ficção científica. Ele confirma, mais uma vez, seu talento especial para escolha do elenco, sobretudo de seus protagonistas. Alexander Skarsgård está perfeito como o homem lindo, asseado e sem problemas financeiros, mas com uma dificuldades gigantesca para encontrar satisfação, tanto que embarca em uma estranha jornada sem hesitar. A justificativa pode até ser a inspiração para um livro, mas na verdade é uma inspiração para a vida. A forma como o ator desconstrói o pacato James ao longo da sessão ressalta a ideia de que talvez ele não seja o mesmo desde aquela primeira condenação. Em alguns momentos ele parece tão vazio quanto os milionários que se divertem fazendo troça do mundo que julgam pertencer a eles. Mia Goth (esquisitíssima como sempre) funciona como isca para que o protagonista mergulhe em um jogo estranho pelo lugar que parece o paraíso, mas esconde uma realidade habitada por máscaras macabras (que talvez revele mais do que se imagina sobre as pessoas que as usam). O filme flui que é uma beleza em seus primeiros dois atos, consegue ser estranho e... sexy (!!?) de uma forma arrepiante, graças à atmosfera impressa pelo diretor. Brandon brinca aqui novamente com imagens e sons, como se realizasse um filme experimental para inserir o espectador na experiência sensorial de um pesadelo. No entanto, em último ato, o filme se atrapalha e perde parte do envolvimento que havia conquistado do espectador. Afim de demonstrar que as ideias não tinham acabado, o filme envereda por um caminho desnecessário antes de seu desfecho - e tudo o que foi feito para provocar, pode girar risadas. Piscina Infinita é um filme curioso e envolvente, mas que padece do mal de seu diretor não fazer a mínima ideia de onde (e como) parar a história que tem em mãos. Não fosse a escorregada perto do final, seria um dos FilmesD+ da temporada.
Piscina Infinita (Infinity Pool/Canadá - Croácia - Hungria / 2023) de Brandon Cronenberg com Alexander Skarsgård, Mia Goth, Cleopatra Coleman, Jalil Lespert, Adam Boncz e Thomas Kretschmann. ☻☻☻☻
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