domingo, 8 de setembro de 2024

Ciclo Verde e Amarelo: Pacarrete

 
Marcélia: uma das grandes atrizes do cinema brasileiro.
 
Pacarrete (Marcélia Cartaxo) é uma professora de dança aposentada que vai viver em Russas, no interior do Ceará, para cuidar de uma irmã (Zezita de Matos), mas sempre deixa claro que toda aquela realidade é muito diferente do que ela gostaria de vivenciar. Com a proximidade da festa em celebração dos 200 anos da cidade, ela decide convencer o governo local a fazer uma apresentação de ballet, o que dá início a uma série de conflitos com quem está ao seu redor. Escrito, dirigido e produzido por Allan Deberton, desde sua cena inicial o filme dá conta de apresentar que Pacarrete destoa da realidade daquele lugar, mas o faz com alegria e esperança de ter reconhecimento por sua arte, no entanto, conforme ela percebe que ninguém se importa com o que ela tem a oferecer, começa a surgir um tanto de insatisfação, desespero e até depressão. Por conta dessas mudanças de humor da personagem, o filme pode ser dividido em dois atos, no primeiro, a história tem um ritmo de comédia bastante preciso, ditado muitas vezes pela entonação de voz altiva e um tanto destoante de Marcélia Cartaxo, que parece se divertir muito em cena. Sua questão de falar truncado com quem atravessa seu caminho, o uso de sotaque estrangeiro para falar algumas palavras e até a forma como enfrenta de forma impetuosa os demais personagens, demonstram não apenas a personalidade forte da personagem, mas também o quanto falta um tantinho só para que tudo saia do eixo. No segundo ato, a coisa sai do eixo mesmo. A personagem se torna mais introspectiva, triste e desanimada e lida com o mundo ao seu redor de forma totalmente diferente do que vimos no início, a fotografia (que era solar) se torna mais escura e sombria, enquanto a personagem se torna amarga e desiludida. Deberton demonstra habilidade no trabalho com a mudança de tom de sua narrativa e  consegue manter debaixo de toda mudança estética uma certa chama em Pacarrete, o que torna a cena final ainda mais emocionante e bonita. No entanto, acho difícil que o filme funcionasse se não tivesse em cena o talento da paraibana Marcélia Cartaxo. Pouca gente deve lembrar, mas a atriz tem em sua estante o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim por sua antológica performance como Macabéa na versão cinematográfica de A Hora da Estrela (1985). Sempre que a vejo em cena eu penso como a atriz sempre recebe menos atenção do que deveria em nosso país. Pelas variações que apresenta na pele de Pacarrete (e que a torna totalmente convincente como uma professora de dança aposentada à beira de um colapso emocional), a atriz recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado e o Troféu Grande Otelo de melhor atriz e, fez muita gente lembrar, que ela é uma das grandes atrizes do nosso cinema. 

Pacarrete (Brasil - 2019) de Allan Deberton com Marcélia Cartaxo, João Miguel, Soia Lira, Zezita Matos e Samya de Lavor. ☻☻☻

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