Ayomi: filme com causa. |
Sofia (Ayomi Domenica) é uma jovem jogadora de volley que se dedica ao esporte por conta de um projeto social de sucesso que começa a chamar atenção da mídia. Ela está prestes a ser contratada por um grande time quando descobre que está grávida. Diante da situação não planejada, ela começa a pensar em resolver a situação em um país onde a interrupção da gravidez é ilegal. Quando ouvi falar de Levante pela primeira vez ele havia sido escolhido para ser exibido em uma mostra paralela do Festival de Cannes, de onde saiu com o prêmio Fripesci dado pela Federação Internacional de Críticos que participam do Festival. Some o prêmio ao filme ter como pano de fundo um esporte que não aparece muito nas telonas e a ideia de um tema polêmico no Brasil (o aborto)... minhas expectativas foram nas alturas. Por conta da decisão da protagonista, o filme segue seus caminhos para alcançar seu objetivo. Ela tenta realizar o procedimento em outro país, as amigas se organizam para conseguir o dinheiro que ela precisa, ela pondera os riscos de uma clínica clandestina e, por fora de tudo isso, começa a se formar uma polêmica em torno do desejo da personagem de realizar um aborto. Assim, o filme agrega toda a insatisfação com o discurso conservador que emergiu no Brasil nos últimos anos, chegando até um desfecho irônico e esperto que compensa aqueles momentos em que o filme demonstra dificuldade em aprofundar seus personagens. Levante é um filme que gira em torno de uma ideia e espera que todo o resto faça sentido por conta disso, não é bem assim. Entendo que a diretora Lilla Hallah se esquive de qualquer traço de melodrama em sua narrativa, que foge dos lugares comuns (o roteiro não se preocupa com quem é o pai da criança) e que pretende construir em torno da protagonista um universo em que todo mundo compreende plenamente suas intenções, deixando que a oposição fique por conta de "pessoas de fora" do seu ciclo social, estes assumindo o posto de vilão da história. O efeito disso é um tanto maniqueísta na tela. O pai (Rômulo Braga), as amigas, a treinadora (a ótima Grace Passô em um papel miudinho), todos estão dispostos a apoiar a personagem como se ela pertencesse a um universo paralelo em que todas as pessoas mais próximas fossem super esclarecidas sobre a questão do aborto no Brasil. Essa artificialidade nas relações permanece quando o filme prefere gastar seu tempo mais com festinhas com a estética periférica que o cinema brasileiro adora repetir e a pegação da protagonista com uma colega de time, opções que por vezes deixam o filme emperrado. O pior é que a parte do esporte deixa muito a desejar, não convencendo nem um pouco nas cenas de quadra e mais ainda que Sofia é uma atleta promissora. São alguns deslizes que começam a pesar conforme o filme se estende. A sorte é que Levante tem um final que realmente impressiona e deixa a sensação que é um filme melhor elaborado do que se mostrou até ali.
Levante (Brasil - 2024) de Lillah Halla com Ayomi Domenica, Rômulo Braga, Grace Passô, Suzy Lopes e Glaucia Vandeveld. ☻☻
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