Débora: terapia ao contrário. |
Ana (Débora Falabella) é uma escritora que resolve participar de um famoso laboratório literário na Cordilheira dos Andes. Chegando por lá, a ambientação rústica é frequentada por um grupo de escritores que pretendem escrever com mais vigor e complexidade, para isso, buscam as orientações de Holden (Darío Grandinetti), um autor que se tornou cult por conta de seu livro A Cordilheira, mas que se tornou recluso e agora ganha fama compartilhando de seu método com seus aprendizes. Conforme avança no processo, Ana fica confusa sobre o que está acontecendo, especialmente quando percebe que para desenvolver seu livro plenamente, ela precisa se render cada vez mais à personalidade de sua personagem, a agressiva Violeta - que considera ser o seu total oposto. Mas será que é mesmo? Parte da proposta de Holden é fazer com que a insegura Ana perceba o quando criador e criatura são semelhantes. Assim como o processo é vivido pela escritora, ele também é vivenciado pelos demais presentes e os efeitos desta jornada (uma espécie de fusão entre vida e arte) podem ser tão libertadores quanto perigosos. Em determinado momento de Bem-Vinda, Violeta! tive a estranha sensação de que eu nunca havia assistido um filme como ele. É verdade que existe ao longo da narrativa uma série de elementos que já vimos utilizados em outras produções, mas a forma como são encaixados e apresentados em cena, criam a sensação de que estamos diante de uma obra bastante original, o que não significa que seja um filme fácil de digerir. A atmosfera de suspense psicológico calcado no árduo processo criativo da escrita oferece ao filme uma complexidade que é muito bem representada pela ambientação claustrofóbica. Enquanto lá fora as belas naturais sejam arrebatadoras (o longa foi filmado em Ushuaia na Patagônia argentina), dentro daquela casa tudo parece sombrio e pesaroso. Estes fatores me deixaram surpreso ao lembrar que o diretor Fernando Fraiha é o mesmo do divertido La Vingança (2016), que curiosamente, também restabelece os laços do nosso cinemas com o país vizinho, embora os dois filmes não pudessem ser mais diferentes. Há de se destacar que Fraiha filma muito bem, preocupado com os closes em seus personagens, os planos e movimentos de câmera amparados por uma edição precisa, o que confere ao filme uma identidade visual marcante ao lado da fotografia gélida. Com relação ao elenco, Débora Falabella está excelente na pele da protagonista, optando por um trabalho contido que tem as mudanças da personagem transmitidas pelo olhar intenso em cena, ela contrasta muito bem com o argentino Darío Grandinetti que constrói um mestre tão imponente quanto assustador, dando a impressão que todo o processo vivenciado por seus alunos trata-se de uma seita literária que funciona feito uma terapia ao contrário (em que ao invés de melhorarem a forma como lidam com suas emoções, o efeito é o oposto). Meu único problema com Bem-Vinda, Violeta! (que é inspirado no romance Cordilheira do paulista Daniel Galera) foi o final que se revela exatamente como eu imaginei. Diante do método criativo imprevisível que vimos até ali, um final que já era esperado deixou um sabor de insatisfação ao final da sessão. No entanto, até o desfecho o filme consegue ser bastante interessante pela dinâmica entre os personagens, seja com os outros ou com eles mesmos.
Bem-Vinda, Violeta (Brasil/Argentina - 2022) de Fernando Fraiha com Débora Falabella, Darío Grandinetti, Germán de Silva, María Ucedo, Pablo Sigal, Germano Melo e Jenny Moule. ☻☻☻☻
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