Freeman e Jenna: talentos desperdiçados. |
Cairo Sweet (Jenna Ortega) é uma adolescente que planeja ser escritora, por conta disso, se matricula nas aulas de escrita criativa do professor Albert Miller (Martin Freeman), não demora muito para você perceber que existe algo mais do que interesse literário na proximidade que se estabelece entre os dois. A situação fica ainda mais preocupante quando a mocinha diz que seu texto para finalização do curso será inspirado no escritor inglês Henry Miller (sendo que as fantasias de Albert já foram longe quando percebeu um livro do escritor de Sexus entre os pertences da estudante). Nessas poucas linhas já é perceptível o material polêmico que a diretora e roteirista Jade Halley Bartlett tem em mãos. Jade viu seu filme ser beneficiado, desde antes da estreia, por todo o marketing que a relação intergeracional de seus personagens, afinal, Freeman tem 53 anos e Ortega tem 22! Quando o filme estreou, o que poderia ter de mais "atraente" se transformou num grande problema, já que não tinha muito mais a oferecer. Além de padecer de toda afetação dos diálogos artificiais, cheios de literatices, o filme explora minimamente as razões da atração que nasce entre os dois, ficando apenas na superfície do homem maduro em crise de meia idade que volta se ver interessante pelos olhos da jovem que se perde entre a admiração e a atração por seu mentor. Para piorar, as conversas de Cairo com sua melhor amiga são puro fetichismo e o roteiro ainda se perde mais ainda quando tenta inserir novas nuances na amizade entre as duas garotas. Mais decepcionante é ver que no momento em que o filme deveria crescer (quando o professor lê a obra de sua pupila e se vê diante do que o bom senso o faz recusar), a narrativa murcha de vez em argumentos que parecem até contraditórios, já que antes, todo mundo achava graça da mocinha que lia Henry Miller. Resta dizer que é bom ver Jenna Ortega fora dos seus papéis que flertam com o terror, ela está convincente como uma jovem que é um perigo por se levar a sério, assim como Freeman está mais charmoso que o habitual, só que o filme não sabe muito bem o que fazer com a premissa que criou para si. A resolução é apressada, desinteressante e não muito criativa. Quando o filme termina, abruptamente evidenciando não saber para onde ir, eu só ficava imaginando o que Justine Triet faria com um ponto de partida desse nas mãos.
A Garota de Miller (The Miller's Girl / EUA - 2024) de Jade Halley Bartlett com Jenna Ortega, Martin Freeman, Gideon Adlon, Dagmara Dominczyk, Bashir Salahuddin, Elyssa Samsel, Christine Adams e Augustine Hargraves. ☻☻
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