Aílton: Mussum de respeitis. |
Inaugurando o Ciclo Verde e Amarelo de 2024, escolhi um filme que considero um tanto especial pela pessoa que ele homenageia. Acho que não é exagero dizer que Mussum é um dos artistas brasileiros mais queridos do final do século XX. Nascido Antônio Carlos Bernardes Gomes, o menino de infância pobre estava prestes a seguir a carreira nas forças armadas quando deixou que o gosto pela arte falasse mais forte em sua vida. O sabor da vida artística veio primeiro pela música, quando fazia parte do grupo Originais do Samba e, depois, ganhou fama com os trabalhos como comediante na televisão. O sucesso se tornou gigantesco quando ele passou a integrar o quarteto Os Trapalhões, que se tornou um verdadeiro fenômeno nas noites de domingo na Rede Globo em 1977. Lembro quando eu era pequeno e quando saíamos de casa, eu tinha uma verdadeira angústia de chegar em casa antes que começasse o programa. Se a maioria das pessoas de minha geração conhece Mussum por sua parceria com Didi, Dedé e Zacarias, o filme de Silvio Guindane serve para contar um pouco mais da carreira do artista e um pouco do homem por trás de sua lendária figura televisiva. Mussum - O Filmis começa com Antônio pequeno, sendo criado por Dona Malvina (vivida jovem por Cacau Protássioe depois por Neuza Borges) que começa a se preocupar com um futuro melhor para o filho. O filme não chega a contextualizar a realidade social daquele tempo, em que não era obrigatório uma criança estar na escola e que estudar, para muitos ainda era perda de tempo. Na verdade, todo o roteiro de Paulo Cursino está mais preocupado em contar a história do seu personagem do que contextualizar o país durante o crescimento do protagonista. A vida do personagem é contada como se acontecesse à margem do contexto histórico do país, o que se por um lado confere leveza à história, por outro, perde a chance de aprofundar algumas temáticas que o tempo todo o filme se esquiva (como o preconceito social e racial). Obviamente que Mussum vivenciou situações de preconceito durante sua vida (inclusive em algumas piadas que foram ao ar no programa dos Trapalhões), mas Guindane opta por deixar tudo isso de lado. Sendo assim, conhecemos a trajetória musical de Antônio e alguns momentos importantes para sua construção artística como ícone televisivo, sua parceria com Chico Anysio, a origem do seu apelido (odiado no início por ele mesmo), a forma icônica de falar com "is" no final das palavras, sua paixão pela Mangueira, seus casamentos... O bom é que estes momentos não parecem uma colagem de situações, mas uma narrativa bem cadenciada que envolve o espectador, muito também por conta da energia de Ailton Graça confere ao protagonista. Sua simpatia irresistível fez com que em vários momentos eu esquecesse que se tratava de um ator em cena interpretando o Mussum e pensasse que estava diante do próprio. Provando que o filme quer evitar polêmicas, as tretas vividas pelos Trapalhões é abordada de forma bastante rápida, até mesmo seus problemas de relacionamento com os Originais do Samba é abordado com mais profundidade (especialmente pela dificuldade de conciliar a persona de músico e comediante junto à imagem do grupo). Também senti falta de mais destaque para os filmes dos Trapalhões que são apenas comentados ao longo da sessão.... enfim, acho que a história de Mussum tem tanta coisa que uma série daria mais conta de tudo que eu gostaria de ver (e o documentário Mussum - Um Filme do Cacildis/2018 também tenta dar conta de tudo em pouco mais de uma hora). O longa recebeu o Troféu Grande Otelo de Melhor Ator para Ailton Graça e também de Diretor estreante para Guindane, mas apesar do moço trabalhar como ator no cinema há tempos (lembro dele estreando no cinema com treze aninhos no ótimo Como Nascem os Anjos/1997 de Silvio Guindane), seu trabalho soa bastante marcado pela linguagem televisiva, o que talvez não chegue a ser um defeito, já que Mussum ajudou a fazer a história desta linguagem em nossa memória afetiva.
Mussum - O Filmis (Brasil - 2023) de Silvio Guindane com Aílton Graça, Cacau Protássio, Yuri Marçal, Gero Camilo, Neusa Borges, Felipe Rocha, Cinnara Leal, Edmílson Barros, Kéisa Estácio e Thawan Lucas. ☻☻☻
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