Daniel e seus fantasmas: falando com gente morta. |
Stênio (Daniel de Oliveira) é o plantonista noturno de um necrotério. Nas primeiras cenas vemos que ele conversa com os sujeitos que chegam mortos para que possa executar seu trabalho, de início achamos até engraçado ao cogitar que tudo não passa de algo que ele faz para passar o tempo e aliviar a atmosfera pesada do lugar, mas depois que ele liga para a esposa de um falecido após receber o número de telefone pelo próprio, percebemos que aquilo não é fruto da imaginação do rapaz. Chega a dar um arrepio esta primeira guinada que o filme, mas ela é só uma amostra tranquila de tudo que acontecerá na vida de Stênio. Morto Não Fala é o tipo de filme que quanto menos você souber, melhor. Eu mesmo me esquivei de toda informação que pudesse ter sobre ele, o que foi muito difícil já que todo mundo que o assistiu o aprecia demais, até mesmo pessoas que não curtem histórias de terror. O terror ainda é um gênero pouco respeitado no cinema brasileiro, mas o que o cineasta Dennison Ramalho faz aqui é de se aplaudir. A começar pela forma com que ele vira a vida de Stênio de cabeça para baixo pelo uso indevido de seu dom. A motivação para este deslize é alavancar uma trama de vingança, que gera um efeito colateral irremediável em sua realidade. Stênio não esperava que aquela vingança cairia sobre ele e sua família feito uma maldição, colocando em risco quem quer que esteja perto dele. É um verdadeiro festival de surpresas em uma espiral de problemas que não fazemos ideia de onde irá parar. Há de se elogiar também mais uma atuação memorável de Daniel de Oliveira, que sabe desenvolver cada degrau que seu personagem rumo à desgraça, assim como o trabalho de Fabíula Nascimento para tornar sua personagem em uma megera assustadora. Com narrativa dinâmica, ambientações sujas e um uso curioso de efeitos visuais e sonoros, Morto Não Fala se torna uma verdadeira descida ao inferno que se tornou a mente de seu protagonista. O longa segue firme rumo à uma das últimas cenas mais assustadoras do cinema brasileiro. Aquele momento em que Stênio anda pela rua, com os mortos caminhando calmamente atrás dele é de arrepiar. Num delírio interpretativo, é como se o menininho de O Sexto Sentido (1999) crescesse, fosse trabalhar em um necrotério e fizesse tudo errado com sua vida. Morto não Fala é uma grata surpresa do nosso cinema e uma pérola do gênero que tem tudo para se tornar um verdadeiro cult.
Morto Não Fala (Brasil - 2018) de Dennison Ramalho com Daniel de Oliveira, Fabíula Nascimento, Marco Ricca, Bianca Comparato e Annalara Prates. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário