quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Ciclo Verde e Amarelo: Tia Virgínia

 
Holtz: a ovelha solteira da família.

Virgínia (Vera Holtz) é a irmã do meio de uma família de três irmãs. Foi a única que não casou e não teve filhos, seguindo a vida da forma que considerasse melhor. No entanto, nos últimos tempos, devido ao quadro de saúde da mãe (Vera Valdez), ela se tornou responsável por cuidar da matriarca e da casa, afinal, as irmãs já pareciam estar muito ocupadas cuidando de seus maridos, filhos e netos. Embora a vida de Virgínia tenha uma rotina sob controle, a chegada das festas de fim de ano com as manas chegando para visitar, já cria-se uma tensão por si só. Depois piora. Valquíria (Louise Cardoso) é a primeira que chega acompanhada pelo filho (Iuri Saraiva), que está cada vez mais parecido com o avô. Depois chega a irmã mais velha, Vanda (Arlete Salles), ao lado do esposo (Antonio Pitanga) e da filha (Daniela Fontan). Obviamente que a rotina de Virgínia muda completamente naqueles dias, mas o maior desconforto da personagem fica por conta dos comentários das irmãs sempre em tom de alfinetadas. Existe sempre um subtexto em Tia Virgínia, um que fermenta conforme uma conversa avança, uma crítica é realizada resultando num processo de combustão pela química entre as três personagens. Se Valquíria tem uma certa arrogância que lhe permite a capacidade de considerar que está sempre com razão, à Vanda cabe o posto de se desculpar pela ausência constante. Para ambas, o papel que coube à Virgínia foi o de cuidadora da mãe e da casa, nada mais do que isso. É possível que já tenhamos visto várias reuniões familiares (na tela ou fora dela) semelhantes a que temos aqui, mas a proposta do diretor e roteirista Fábio Meira é avançar a tensão até que sua personagem principal chegue ao limite. Colabora muito para que a coisa funcione o tom impresso ao filme, que sabiamente foge da histeria e opta por um humor sutil e uma dramaticidade contida que oferece ainda mais complexidade às personagens (o que não impede que o filme reserve momentos bastante duros em cena). Premiada no Festival de Gramado e com o Troféu Grande Otelo de melhor atriz, Vera Holtz está espetacular em cena, deixando transparecer o tempo inteiro a insatisfação perante a forma como as irmãs a enxergam - de forma que quando Virgínia verbaliza o que sente, já sabíamos exatamente o motivo de todo seu desconforto. Arlete Salles e Louise Cardoso também estão ótimas em cena e defendem suas personagens com um senso de ironia que torna tudo ainda mais interessante. Antonio Pitanga tem um papel pequeno, mas algumas cenas marcantes, como aquela do jantar em que praticamente pedimos para ele apresentar aquela reação perante a postura  de Virgínia. Ou seja, que coisa boa ver um elenco tão experiente reunido em uma mesma cena! O desfecho, embora libertador, também carrega um tanto de melancolia e um certo questionamento que poderia ser respondido se no ano seguinte fôssemos convidados novamente a participar da ceia ao lado daquela família. A ocasião serviria para que a trama amarrasse algumas situações que ficam um tanto soltas (como a postura instável do sobrinho), um deslize que já está perdoado, já que a vida teima em seguir pelo mesmo caminho. 

Tia Virgínia (Brasil - 2023) de Fábio Meira com Vera Holtz, Arlete Salles, Louise Cardoso, Antônio Pitanga,  Vera Valdez, Amanda Lyra, Iuri Saraiva e Daniela Fontan. ☻☻

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