Naomi e Hollander: entre a amizade e a fofoca. |
Finalmente terminei de assistir a segunda temporada de Feud dedicada à pendenga Capote Vs The Swans. A demora para conferir os oito episódios se deve ao gostinho de decepção após uma longa espera desde que a série criada por Ryan Murphy se debruçou sobre a treta entre Joan Crawford e Betty Davis nos tempos de O Que Terá Acontecido à Baby Jane (1962). Particularmente eu amo a primeira temporada de Feud (2017) não apenas por retratar os bastidores de um dos meus filmes favoritos, mas também por inserir várias camadas ao explorar os conflitos entre as duas divas do cinema. No entanto, quando o texto se volta para as desventuras do cultuado escritor Truman Capote com suas amigas da alta sociedade de Nova York, a impressão é que falta assunto para dar conta de oito capítulos (talvez quatro seria o máximo que renderia). Baseado no best seller Capote's Women: A True Story of Love, Betrayal, and a Swan Song for an Era de Laurence Leamer, a série vale principalmente pela curiosidade de ver um outro lado do escritor que ficou de fora de longas como Confidencial (2006) e Capote (2005), nos quais era vivido respectivamente por Toby Jones e, o oscarizado pelo papel, Phillip Seymour Hoffman. Como estes, Tom Hollander encarna o brilhantismo de Capote com trejeitos e voz afetada, mas revela uma queda indisfarçável pela fofoca e a maledicência. Ele tenta disfarçar tudo isso com uma postura de crítica à alta sociedade, mas sua postura é facilmente questionável a partir do momento em que colhe segredos perante as socialites de quem se aproxima e as revela sem seu texto sem pudores. Tudo gira em torno do processo criativo de Truman sobre seu livro nunca concluído (e publicado mesmo assim), o famigerado Súplicas Atendidas, que gerou escândalo quando teve uma amostra publicada em forma de artigo na revista La Côute Basque em 1965. Mesmo alterando os nomes, quem conhecia as festas da alta roda de NY e era atraído por colunas sociais sabia identificar quem eram as pessoas que o escritor retratava (e vendo quem estava perto dele, ficava mais fácil ainda). Estas mulheres influentes eram as chamadas Cisnes, com destaque para Babe Palley (vivida por Naomi Watts), a mais próxima de Capote e sua grande musa na criação do polêmico texto. Foi ela que o inseriu no grupo de amigas formado por CZ Guest (Chloe Sevigny), Slim Keith (Diane Lane) e Lee Radziwill (Calista Flockhart), a irmã de Jaqueline Kennedy. Para além do quarteto, a série ainda oferece destaque à amizade de Capote com Joanne Carson (Molly Ringwald) e as mágoas guardadas pela ex-amiga Anne Woodard (Demi Moore), que é alvo de fofocas sobre o assassinato do próprio marido. Embora tenha muitos personagens interessantes para dar conta e um elenco impressionante para ajudar (destaque ainda para Jessica Lange como a fantasmagórica mãe de Truman), o programa se perde nas várias voltas em torno de um mesmo ponto (o ressentimento das cisne e o ostracismo de Capote). Lá pela metade você já percebe que os episódios não sabem muito para onde ir com o casamento de Babe, com os amantes de Capote e um livro que nunca fica pronto. A sensação é tão estranha que o sétimo episódio parece ter a estrutura de uma season finale, para o oitavo episódio retroceder e repetir o que já vimos por quase uma hora. No fim das contas, Feud: Capote Vs The Swans vale pelas atuações, especialmente de Hollander e Naomi. Sobre a atriz é sempre bom ressaltar que ela merecia estar em mais projetos interessantes, mas faz um tempo que ela assumiu as marcas do tempo em seu rosto e hoje, aos 55 anos, Hollywood a deixou de lado. De certa forma é a naturalidade de suas feições que torna sua personificação de Babe tão interessante, atravessando décadas na vida da personagem, ela segue belíssima, elegante e interessante.
Feud - Capote Vs The Swans (EUA-2024) de Ryan Murphy com Tom Hollander, Naomi Watts, Diane Lane, Chloë Sevigny, Calista Flockhart, Treat Williams, Demi Moore, , Molly Ringwald, Russell Tovey e Joe Mantello. ☻☻
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