M. Night Shyamalan terá que ralar um bocado para se livrar das péssimas recordações que seus filmes recentes trazem. O cara não acerta uma desde o abobado A Dama na Água (2006) e não há previsão de melhoria depois das framboesas de ouro conquistadas por O último mestre do ar (2010). Se existe alguma esperança para seus fãs (se é que ainda sobrou algum) ela está depositada na série de filmes que carregam seu nome no argumento, batizada de Night Chronicles (um trocadilho com seu nome de fantasia que pode soar como Crônicas da Noite), o primeiro deles chegou neste ano e dividiu opiniões. Mas devo confessar que é a melhor coisa em que Shyamalan esteve envolvido desde A Vila (2004). Demônio tem uma premissa simples e feita com uma economia que só trabalha ao seu favor. Um grupo de cinco desconhecidos acaba preso no elevador de um prédio comercial, são eles uma senhora desconfiada, um segurança do prédio, uma jovem refinada, um cara com jeito de pilantra e um homem caladão. Todo o estresse que cresce entre os personagens poderia ser justificado pelo nervosismo de estar dentro daquele cubículo de metal e sem perspectiva de saída, mas há quem acredite que isso é o início de uma jornada orquestrada pelo malígno. Um dos seguranças teme o mau agouro de um homem ter se suicidado naquele prédio pela manhã, assim como suspeita que entre os frames da câmera de segurança tenha visto o esboço do coisa ruim. Claro que ninguém acredita nele, até que começa a acontecer assassinatos misteriosos quando a luz apaga dentro do elevador. Para confundir o espectador, todo mundo tem um podre no passado que aponta na direção de um ou outro provável assassino, uma mistura de claustrofobia, preconceito e traumas de guerra serve para apostarmos em quem pode estar possuído. Enquanto mistérios são revelados e alguns segredos vão surgindo, o espectador fica ansioso para saber o que de fato está acontecendo - não só com aqueles sujeitos, como no prédio como um todo que mostra-se cada vez mais assombrado. Se existe um problema em Demônio é o final "surpresa" que parece preparado pelo produtor Shyamalan, que joga todas as pistas do filme no ralo apelando para o melodrama. Lembro de muitos professores de redação e roteiro ressaltando como um final arrebatador é capaz de conquistar a plateia, mas não há nada de arrebatador ao final deste aqui. O que temos é um remendo de filme trash com uma produção que se pretende sofisticada e capaz de resgatar parte do crédito perdido por Shyamalan. Embora seus realizadores tenham traquejo e criatividade, precisam perceber que a 'surpresa' do final tem muito mais graça quando é coerente com o resto do filme - algo que Shyamalan demonstrou tão bem em O Sexto Sentido (1999). Mesmo com o final criticável, o filme ainda vale a visita pela aura de suspense que consegue construir em seus oitenta minutos de duração - e ainda que tudo fosse mal, o pôster já merecia uma nota especial.
No elevador: 'o diabo são os outros'!
Demônio (Devil/EUA-2011) de John Erick Dowdle com Chris Messina, Logan Marshall-Green, Jenny O’Hara, Jacob Vargas, Matt Craven, Bojana Novakovic, Bokeem Woodbine, Geoffrey Arend e Caroline Dhavernas. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário