Uma das desvantagens do Oscar ter dez indicados na categoria de melhor filme é que não dou conta de ver todos os indicados na categoria. No ano passado dois me escaparam, um foi O Vencedor, o outro foi Inverno da Alma. Nada contra os filmes, mas por divergências de agenda. Inverno da Alma foi sensação em Sundance e de quebra levou Jennifer Lawrence ao estrelato (e aquele vermelho usado no Oscar ajudou ainda mais). Lawrence já havia demonstrado que era uma atriz eficiente quando foi premiada em Veneza por sua atuação em Vidas que se Cruzam (2009) e aqui prova que pode carregar um filme nas costas com louvor. Acrescenta-se a isso o fato de que não estamos falando de um filme qualquer, trata-se de um filme lento, silencioso, intimista e triste. Muito triste. Lawrence foi merecidamente indicada ao Oscar e neste ano conseguiu destaque em X-Men: Primeira Classe como Mística, mas este filme da diretora Debra Granik será, por um bom tempo, o seu cartão de apresentação. O filme pode não ser perfeito, mas tem habilidade ao contar a triste história de Ree Dolly (Lawrence), uma jovem de 17 anos que precisa cuidar da casa, de seus dois irmãos e da mãe. Como tragédia pouca é bobagem, o pai é procurado pela polícia por violar a condicional - a qual a fiança foi paga com a casa em que mora sua família antes de sumir do mapa. O filme se concentra na jornada de Ree em busca de seu pai, para poder permanecer com a casa se conseguir provar que o pai está morto. Ninguém sabe o paradeiro dele, se ele morreu ou quem o matou. Granik não faz concessões para contar sua história, não utiliza trilha sonora (somente se alguém resolver tocar uma música country, o que ocorre várias vezes), o ritmo é lento e a maioria dos personagens é desagradável ao extremo - piora ainda mais essa situação quando nos damos conta que todos possuem laços de parentesco. A angústia que contamina a plateia vem do fato de que existe um impasse: ou estes parentes ajudam Ree ou mantem oculto um crime que precisam esconder. O fato de cada pessoa que a jovem encontra colaborar com alguma peça sobre o paradeiro do pai pode cansar um pouco. Curioso notar é que apesar de toda ambientação interiorana o filme bebe diretamente nas tramas noir, o que lhe confere alguma originalidade, especialmente pelo arrasador encontro de Ree com seu pai. A fotografia gélida (assinada pelo brasileiro) emoldura bem as atuações contidas – e ao mesmo tempo assustadoras - do elenco. É um filme bem feito em sua simplicidade e que conseguiu três indicações ao Oscar: filme, atriz, ator coadjuvante (o bom John Hawkes como o tio que ajuda Ree em sua jornada) e roteiro adaptado - mas que está longe de ser a obra-prima que anunciaram. Me arrisco a dizer que sem Jennifer Lawrence a coisa seria um fiasco, a garota tem uma atuação memorável que alterna força e fragilidade em meio à brutalidade que a cerca (sem falar que exibe um visual diferente da diva que surgiu no tapete vermelho da Academia).
Lawrence e Hawkes: parente é serpente...
Inverno da Alma (Winter's Bone/EUA-2010) de Debra Granik com Jennifer Lawrence, John Hawkes e Lauren Sweetser. ☻☻☻
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