terça-feira, 12 de julho de 2011

DVD: Deixe-me entrar | Deixe ela entrar


Chloë e Kody: os maiores trunfos da versão americana.

Acho que tirando os filmes (cômicos) franceses os suspenses suecos são os mais cobiçados na hora de hollywood apelar para versões de sucessos internacionais. O último exemplar desta categoria a chegar nas locadoras é Deixe-me entrar (2010), filme de Matt Reeves (Cloverfield/2008) que começou a receber críticas quando a adaptação americana do livro de John Ajvide Lindqvist começou -  já que o mesmo chegara às telas com o suevo Deixe Ela Entrar (2008) de Tomas Alfredson. Sei que é difícil assistir a uma refilmagem e buscar distanciar-se de sua aclamada primeira versão, mas o longa de Reeves tem seus méritos e possui características que retiram dele a aura de fracasso depois de sua carreira nos cinemas mundiais. Existem diferenças entre os dois filmes, mas essas estão mais associadas ao formato da narrativa do que propriamente ao conteúdo. A história entre eles é a mesma: um garoto que sofre bullying na escola conhece a nova vizinha no playground durante à noite. Fica intrigado com o fato dela não frequentar a escola, com o fato dela morar com um senhor que julgam ser o pai dela e com os mistérios que começam a surgir na vizinhança. Aos poucos descobre a relação dos novos vizinhos com os fatos estranhos que começam a aparecer e que apontam para um provável caso de vampirismo nas redondezas. O filme sueco opta por contar o filme como um drama adolescente, vez por outra sucumbe a uma atmosfera de horror, já o americano de Reeves utiliza fotografia mais escura, se concentra mais ainda no casal de pré-adolescentes e  dá menos ênfase à maioria dos personagens secundários (os vizinhos simplesmente aparecem no filme nunca ganhando contornos de maior destaque - e quando recebem é algo breve, isso inclui a mãe do menino que nunca aparece o rosto e o pai que nem dá as caras), enfim, os longas possuem diferenças. O sueco é obviamente aclamado por sua originalidade impactante numa trama que mescla a inadequação adolescente à maldição de ser um vampiro (algo que Crespúsculo diz fazer, mas não sei muito bem onde...), sobre isso a versão americana não pode se gabar. O filme de Alfredson fez tanto sucesso que disputou vaga na categoria de Filme Estrangeiro no Oscar, virou HQ e até inspirou seu autor a escrever um prelúdio dos acontecimentos que vemos no filme. No entanto, seria injusto dizer que o filme de Reeves é uma cópia do original, até por que traz novos ingredientes para uma trama que já vimos antes. Uma dela é o suspense melancólico que fica ainda mais forte em sua narrativa, tudo é triste, pezaroso, o que ressalta ainda mais a tristeza da situação em que se encontra os protagonistas. Essa marca aparece logo de início, quando a trama começa com um policial (Elias Koteas, em ótima atuação) tentando desvendar um mistério que acredita estar relacionado a cultos satânicos (outro elemento que ajuda o mistério do filme). Após uma morte bizarra no hospital a trama retrocede algumas semanas. Reeves pode ter um uso de câmera mais elaborado que o original, mas o trunfo de seu filmes é outro: os atores. Kodi Smit- McPhee (que no arrasador A Estrada/2009 já havia mostrado que não era um desses garotinhos chatos que o cinema insiste em nos fazer engolir) aparece ainda mais vulnerável do que o menino do filme original e sua atuação só não é melhor do que a de Chloë Grace Moretz que interpreta a vampirinha Abby. Chloe já havia mostrado sua versatilidade como a irmã de Tom em 500 Dias com ela (2009) e nas cenas inacreditáveis de Kick Ass (2010), mas aqui a garota se supera. Ela confere uma densidade dramática para sua personagem que poucos artistas seriam capazes de transmitir. Chega a dar raiva quando lembramos que o estúdio tinha o objetivo de fazer campanha para ela ser candidata ao Oscar de coadjuvante, mas acabou investindo da chata Hailee Steifenld de Bravura Indômita. A atuação de Chloë é infinitamente superior a da garota petulante que fala feito adulta no filme dos Coen. Moretz não desafina nem quando os efeitos especiais deixam a desejar ao realizar seus ataques pela vizinhança (seu corpo recebe uma movimentação estranha que os otimistas podem até achar que colabora para suas características sobrenaturais). A garota tem tudo para se tornar a melhor estrela adolescente de Hollywood e Chega a ser covardia comparar as atuações de Kody e Chloë com o casal do filme original (que eram eficientes, mas claramente amadores).  Porém, nem só desses dois novatos vive o filme, Richard Jenkins também está excepcional como aquele que acreditam ser o pai de Abby. Seu olhar trágico só aumenta o tom melancólico do filme que ainda lança um detalhe que torna sua relação com a menina ainda mais terna e assustadora. Desprezado quando chegou nos cinema o filme merece uma nova chance nas locadoras. Os fãs xiitas do original sueco podem me tacar pedra, mas, independente da questão cronológica, os dois filmes são exemplos de diferentes concepções sobre o mesmo material.

Leandersson e Hedebrant: terror teen e mundialmente cult. 

Deixe Ela Entrar ( Låt den rätte komma in - Suécia/2008) de Tomas Alfredsoncom Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar, Henrik Dahl. ☻☻☻☻

Deixe-me Entrar (Let me in/EUA-2010) de Matt Reeves com Kody Smit-McPhee, Chloë Grace Moretz, Richard Jenkins e Elias Koteas. ☻☻☻☻

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