quinta-feira, 14 de julho de 2011

CATÁLOGO: Half Nelson


Epps e Gosling: tentando ser fortes em Half Nelson

Half Nelson é o tipo de filme que tem a estética favorita de seu astro Ryan Gosling. A narrativa é cruamente realista, o roteiro não tem frescuras, a fotografia não é caprichada, os enquadramentos beiram o documental e - para completar - lhe reserva um papel complexo. Por produções assim que o ator é reconhecido como um dos melhores em atividade hoje - e Half Nelson colaborou muito para isso. O filme lhe valeu alguns prêmios (incluindo o Independent Spirit de melhor ator) e sua primeira (e única, até agora) indicação ao Oscar. A história tinha tudo para ser intragável, mas o diretor Ryan Fleck consegue fazer um filme que se não prima pela originalidade de seu formato, acerta na sinceridade das atuações e de seu texto (inspirado em seu curta metragem Gowanus, Brooklyn de 2004). Nos minutos iniciais imaginamos que iremos acompanhar mais um desses filmes edificantes onde um professor é responsável por servir de exemplo para seus alunos, mas esta ideia vai por água abaixo quando uma aluna o surpreende usando crack no banheiro. Um dos maiores acertos do filme é não dividir seus personagens entre mocinhos e bandidos, sabiamente limitando-se a mostrá-los enquanto seres humanos com suas expectativas e fraquezas. Dan Dunne (Gosling) é um professor de uma escola no Brooklyn, além de conhecer a realidade dos alunos ele utiliza metáforas para trabalhar assuntos complexos como a luta pelos direitos civis e dialética. Dunne poderia ser brilhante se não utilizasse todo tipo de drogas para esquecer os problemas. O filme não aponta para uma causa específica para que utilize as substâncias, mas aponta o olhar crítico do personagem para a sociedade (reforçada pelos comentários dos alunos sobre fatos históricos inusitados) e o efeito do fim de um relacionamento amoroso em sua trajetória. A outra ponta da narrativa fica por conta da aluna craque em basquete, Drey (Shareeka Epps, também premiada com o Independent Spirit) que estreita seus laços com o professor conforme percebe as fraquezas dele. Além disso Drey reflete sobre o irmão preso por tráfico de drogas e o assédio de um traficante (Anthony Mackie). Apesar de Epps ser uma atriz eficiente, o filme vale mesmo é por Ryan, que consegue expressar cada degrau da caminhada de seu personagem rumo a auto-destruição. Suas ideias, antes claras nas explicações em sala de aula, tornam-se cada vez mais confusas, seus gestos se tornam mais elétricos e seu tom de voz mais agressivo. A trama caminha entre a decepção de um e o outro perante as situações que presenciam - e chega ao fim de forma inteligente no encontro das duas pontas (ambas ressentidas pelo fato de comprometer a vida de alguém pelo qual se importam).   O filme teve um custo mínimo para os padrões americanos (700 mil e rendeu mais de quatro milhões de bilheteria) e comprova que as ideias podem valer mais do que um orçamento de milhões.

Half Nelson (EUA-2006) de Gary Fleck, com Ryan Gosling, Shareeka Epps e Anthony Mackie. ☻☻☻

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