domingo, 3 de julho de 2011

CATÁLOGO: O Amor em Cinco Tempos


Bruni e Freiss: o fim?

François Ozon é um raro caso de diretor que consegue produzir um filme por ano (de cabeça só consigo lembrar de Woody Allen fazendo a mesma façanha), o problema é que seus filmes demoram um bocado para chegar aqui. Esses atrasos fazem com que cheguem às nossas telas com grande proximidade, neste ano estreou no Brasil a alegoria Angel (2007), onde um casal se depara com um bebê com asas de anjo e Potiche (2010) que rendeu até visita da diva Catherine Deneuve para promover o filme por estas bandas. Ozon ainda é bem eclético tendo feito comédias, suspenses, musicais, dramas pesadões e romances como este O Amor em Cinco Tempos onde conta a trajetória de frente para trás de um casal. Contar filmes em cronologia invertida já deixou de ser novidade faz tempo depois que Christopher Nolan fez Amnésia (1999) e Gaspar Noé escandalizou o mundo com Irreversível (2002). Pois Ozon utiliza este recurso numa trama simples onde a regressão do tempo é um instrumento para aprofundar seus personagens - mostrando o que eram e o que se tornaram. O filme acompanha o casal Marion (a premiada em Veneza Valeria Bruni Tedeschi - que parece a versão melhor atriz de Sarah Jéssica Parker) e Gilles (Stéphane Freiss) em tempos bem distintos de sua trajetória. Quando o filme começa os dois estão assinando o divórcio e vão para um quarto de hotel, como se tentassem dar mais uma chance ao relacionamento fora da responsabilidade matrimonial. Ela está cheia de pudores e ele disposto a ter o que ela hesita. O casal aparece sério, pesado e desiludido, bem diferente de quando o tempo retrocede e os encontramos num jantar ao lado do irmão homossexual dele e o namorado algumas décadas mais jovem. O que era para ser um encontro de família acaba gerando revelações que causam desconforto em Marion e um gosto de surpresa em quem os viu anteriormente de forma tão fria. No outro   momento vivenciam o nascimento do filho e entram em cena os pais de Marion, que mais discutem do que apreciam o novo membro da família. A troca de farpas entre o casal idoso sobra até para a fraqueza de Gilles em não ficar ao lado da esposa no momento em que seu herdeiro nasce - algo impensável para o homem apaixonado do tempo anterior pautado pelo casamento de Gilles e Marion (talvez o momento mais triste do filme apesar de toda a alegria dos personagens, já que sabemos onde tudo aquilo vai dar). Como era esperado o filme termina quando o casal se conhece (e caminha rumo ao por do sol numa praia paradisíaca no que seria um final feliz). Não pensem que contei demais, já que os tempos explorados por Ozon tem o melhor de suas tramas nas entrelinhas, na forma como percebemos que Marion era uma mulher bem mais sedutora e ousada do que a mulher tristonha envolta numa toalha branca no quarto com o ex-marido (que não é mais o homem de outrora, aparecendo barbudo e envelhecido). Ozon ainda apresenta outras ironias no decorrer de seus episódios: a cerimônia do casamento como único momento de felicidade do casal, a fala do padre em oposição a do advogado no divórcio, o adultério em todos os tempos da narrativa e a única cena de sexo entre o casal é praticamente um estupro. Na versão francesa do DVD nos extras é possível ver o filme na ordem cronológica convencional, mas acredito que dificilmente será tão interessante quanto perceber que os personagens da última cena eram outras pessoas quando se conheceram. 

Freiss e Bruni: o início?

O Amor em Cinco Tempos (5x2 - França/2004)  com Valeria Bruni Tedeschi, Stéphanie Freiss e Marc Rushmann. ☻☻  

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